Coronel Edson Ferrarini ![]() Dedicado à este que tem salvo muitas vidas do sofrimento Meu número de ICQ é: UIN 2333911 e no momento eu estou ![]() ![]()
CONCEITO
Aspectos Relevantes da Questão das Drogas Em todas as sociedades sempre existiram "drogas". Entendem-se assim produtos químicos ("psicotrópicos"ou"psicoativos"), de origem natural ou de laboratório, que produzem efeitos, sentidos como prazeirosos, sobre o sistema nervoso central. Estes efeitos resultam em alterações na mente, no corpo e na conduta. Na verdade, os homens sempre tentaram modificar o humor, as percepções e sensações por meio de susbstâncias psicoativas, com finalidades religiosas ou culturais, curativas, relaxantes ou simplesmente prazeirosas. Estudos têm demonstrado diferentes motivações para o uso de drogas: alívio da dor, busca de prazer e busca da transcedência são razões encontradas nos diversos grupos sociais ao longo da história. Antigamente, tais usos fizeram parte de hábitos sociais e ajudaram a integrar as pessoas na comunidade, através de cerimônias, rituais e festividades. Hoje, tais costumes são esvaziados em conseqüência das grandes mudanças sócio-econômicas. Características da modernidade, como a alta concentração urbana ou o poder dos meios de comunicação, modificaram profundamente as interações sociais. No decorrer desse processo o uso de drogas vem se intensificando. Produtos antigos ou recentes, legais ou ilegais, conheceram novas formas de fabricação e comercialização, indo ao encontro de novas motivações e novas formas de procura. Hoje, diante da diversidade de produtos, é fundamental o conhecimento do padrão de consumo e efeitos das substâncias psicoativas, já que o uso e abuso de drogas representa uma questão social complexa. FATORES DE RISCO DO USO E ABUSO DE DROGAS Quanto aos fatores de risco relacionados ao abuso de drogas, eles são maiores para certas pessoas, em função das suas condições de vida. Assim, são mais inclinadas ao uso as pessoas:
Problemas relacionados ao uso de drogas surgem, de fato, de um encontro entre três fatores básicos. Operando juntos, eles provocam as rupturas acima mencionadas que podem levar à dependência. São eles:
O consumo de drogas não se deixa dissociar da procura de prazer: pode tornar-se problemático precisamente por ser prazeiroso. Este prazer pode resultar de sensações de bem-estar, ou euforia ("barato"), de força, poder, leveza ou serenidade, ou ainda, da ausência de dor ou de memória. A procura de bem-estar e prazer é natural, fazendo parte da vida de todos; o problema consiste em querer buscá-los usando drogas. DEPENDÊNCIA Quando se precisa de tais meios artificiais, significa que há algo errado consigo mesmo ou nas relações com os outros. Recorrer a produtos químicos continuadamente apresenta-se então como uma saída possível, como se elas fossem uma "poção mágica" contendo a "solução". Na falta do produto ao qual a pessoa se acostumou, ela é invadida por sensações ou "sintomas" penosos, indo de nervosismo, inquietação ou ansiedade ao impulso de obtê-lo de novo, a qualquer custo. Este estado chama-se dependência. O dependente de drogas deve ser considerado como um doente. Este necessita de ajuda e tratamento para entender as razões de seu abuso e iniciar sua reinserção social. Distingue-se a dependência física da dependência psíquica. Dependência física A dependência física ocorre quando o organismo acostuma-se à presença do produto, sendo que a sua falta provoca os sintomas da síndrome de abstinência (p.ex. delirium tremens, no alcoolismo). Enquadram-se produtos como o álcool, a nicotina, os produtos derivados do ópio. Dependência psíquica A dependência psíquica instala-se quando a pessoa se acostuma a viver sob os efeitos de um produto psicoativo. Ela é dominada então por um impulso, quase incontrolável, de se administrar a droga com freqüência, para não experimentar o mal-estar da falta, conhecido como "fissura". Significa, portanto, o apego da pessoa àquele estado de bem-estar. Diante da complexidade de diferenciar os dois tipos, a OMS recomenda hoje falar apenas dependência, caracterizada (ou não) pela síndrome de abstinência . Escalada Chama-se escalada a passagem de um consumo ocasional a um uso intenso ou contínuo (escalada quantitativa), ou ainda a mudança de um uso de produtos "leves" para outros considerados "pesados " (escalada qualitativa). É importante assinalar que o produto psicoativo pode criar dependência, em função do modo de usar, do contexto e da personalidade. Assim, a evolução para a escalada não é nem automática nem irreversível. Tolerância Fala-se de tolerância quando o organismo reage à presença de uma substância psicoativa através de um processo de adaptação biológica. Ele o incorpora em seu funcionamento de modo a responder cada vez menos ao produto. Logo, para obter os mesmos efeitos, é necessário aumentar a dosagem. Esta elevação, comparável à escalada quantitativa, aumenta os riscos de uma superdosagem ("overdose"), capaz de provocar morte súbita por parada respiratória ou cardíaca, como no abuso da cocaína, por exemplo. Tipos de usuários de drogas É útil distinguir vários tipos de usuários de drogas, segundo critérios científicos, para desfazer o preconceito de que todo usuário seja "viciado" ou "marginal". Assim, a UNESCO distingue quatro tipos: experimentador: limita-se a experimentar uma ou várias drogas, em geral por curiosidade, sem dar continuidade ao uso; usuário ocasional: utiliza uma ou várias substâncias, quando disponível ou em ambiente favorável, sem rupturas nas relações afetivas, sociais ou profissionais; usuário habitual ou "funcional": faz uso freqüente, ainda que controlado, mas já se observam sinais de rupturas; usuário dependente ou "disfuncional" (toxicômano, drogadito, dependente químico): vive pela droga e para a droga, descontroladamente, com rupturas em seus vínculos sociais, podendo haver marginalização e isolamento. O uso de drogas, portanto, não leva automaticamente a estados de dependência. Passa-se ao abuso com a perda de controle sobre o uso, em conseqüência de certas dificuldades ou fatores de risco, que variam de pessoa para pessoa, do contexto social e familiar. A compreensão dessas dificuldades e dos fatores de risco é crucial na ajuda ao dependente de drogas. anual do Multiplicador Substâncias psicoativas são introduzidas no organismo de várias maneiras. Podem ser inaladas ou aspiradas, comidas ou bebidas, fumadas, injetadas. Fumar certos produtos, como o crack, ou injetá-los ("pico") produz efeitos quase imediatos, pois a corrente sanguínea os leva diretamente ao cérebro. Observam-se três tipos principais de efeitos: O usuário fica mais relaxado e calmo, até sentir-se sonolento ou mole. Temos aí o efeito depressor, pois tais substâncias diminuem, retardam ou reduzem ("deprimem") o funcionamento mental. Neste estado, a pessoa é chamada sedada, grogue, dopada ou chapada. O usuário fica alerta, atento, às vezes agitado. Sente-se animado, bem disposto e capaz de quase tudo. Eis o efeito estimulante:
Temos assim três classes distintas de drogas: depressoras, estimulantes ou pertubadoras. Todas elas alteram o funcionamento do sistema nervoso central, retardando, acelerando ou desgovernando. Desta forma, dificultam a coordenação motora, mental e emocional: a pessoa fica "drogada ", "intoxicada" ou "inebriada", em um grau que depende da substância usada (quantidade e qualidade), da pessoa e do contexto.
Esta classificação é simples e prática. Algumas das substâncias citadas têm também uma utilidade medicinal; porém, havendo abuso (ou uso indevido), podem provocar dependência. As drogas mais usadas no Brasil Entre todas as consumidas no país, o álcool é a que mais se destaca. Estima-se que o alcoolismo (uso crônico) atinja de 3 a 10% da população, e o uso ocasional, 84%. O abuso de álcool, como se sabe, cria graves problemas e sofrimentos, com altíssimo custo social. O uso crônico leva a uma degradação física e moral provocando, na falta do produto, uma síndrome de abstinência violenta. Ele pode levar à morte (por coma alcoólico ou por complicações orgânicas, como a cirrose). Instiga com freqüência violência e acidentes, e absenteísmo no trabalho. Manual do Multiplicador Os tranqüilizantes (calmantes, ansiolíticos, sedativos) são muito usados no mundo inteiro. A base da substância ativa é o diazepan (por isso são chamados de benzodiazepínicos). Quando usados sem justificativa médica, procura-se uma "anestesia das emoções". O abuso destes medicamentos provoca dependência. Os opiáceos ilegais como ópio e heroína, objeto do narcotráfico oriundo da Ásia, são pouco presentes no Brasil. A morfina é um potente analgésico, mas cria dependência quando usada por períodos prolongados. O opiáceo mais consumido no Brasil é a codeína, presente na forma de xaropes contra a tosse ou de analgésicos. O abuso, além de dependência e síndrome de abstinência, pode provocar parada respiratória. Os inalantes ou solventes representam hoje, na juventude brasileira, a "droga de iniciação" (como antigamente a maconha), em particular o "cheirinho de loló". Eles têm a fama de produzir efeitos mirabolantes ("barato"), mas podem provocar danos graves. Entre meninos e meninas de rua é bem conhecido o uso de cola de sapateiro e esmalte, funcionando como uma espécie de "tapa-fome", ajudando-os a agüentar ou esquecer a miséria. As drogas estimulantes A cafeína é amplamente consumida, sendo que o café representa a bebida nacional por excelência. Dosagens execessivas, no entanto, podem causar danos. A nicotina, aspirada pelo fumo do tabaco, causa inúmeros malefícios cardiovasculares e respiratórios. Seu consumo é hoje cada vez mais questionado, mas continua protegido pelo Estado. A estimativa é que 50% dos homens e 33% das mulheres brasileiras fazem uso de cigarro. Em um cotejo internacional esta proporção deve ser considerada elevada. A cocaína e subprodutos, como o crack, são extraídos da coca, planta nativa dos Andes. Objeto do narcotráfico oriundo dos países andinos, ela é injetada ("pico"), pode transmitir infecções graves, como a hepatite ou o vírus da AIDS. O crack, pedras cristalizadas a partir da pasta base de cocaína, é fumado em cachimbos. Seu efeito é devastador, provocando forte decadência física e alta mortalidade. Embora proibidas, as anfetaminas são medicamentos ainda consumidos, em particular para manter a vigília (estudantes, caminhoneiros). Substâncias anfetamínicas estão contidas nos moderadores de apetite (anorexígenos); além de emagrecimento, criam dependência. Todo abuso de substâncias estimulantes pode provocar insônia, nevorsismo, irritabilidade, instabilidade emocional e idéias de perseguição (paranóia), chegando a formações delirantes. As drogas alucinógenas Os produtos "psicodélicos" foram popularizados na década de 60, com o movimento hippie. As "viagens" que propiciam não são nada inocentes, pois podem provocar seqüelas prolongadas. O LSD é o produto de origem sintética mais conhecido. Pode provocar alucinações e confusão mental de demorada remissão; "viagens ruins" podem levar ao suicídio.
Outros alucinógenos vegetais, de origem sobretudo indígena, são hoje usados conforme modismos. Um exemplo é a ayahuasca, usada nas seitas Santo Daime e União do Vegetal. Todos eles "fazem viajar", com riscos imprevisíveis (como acidentes) pois a intensidade de tal viagem, sua duração e a volta ao ponto de partida são muito variáveis. Encerramos aqui a descrição sumária das drogas mais comuns no Brasil. De posse dessas informações você poderá lidar mais facilmente com os problemas de drogas com os quais se defrontar, seja na sua família, no seu meio social ou seu ambiente de trabalho. Uso de drogas e AIDS Nos últimos anos, a infecção pelo HIV cresceu muito entre usuários de drogas injetáveis (UDI). No mundo inteiro, eles representam hoje um grupo significativo com conduta de risco. O grupo dos UDI com certeza não é homogêneo, mas algumas características psicossociais são comuns. Assim, a maioria vive na marginalidade ou clandestinidade, perseguida tanto pela repressão policial quanto pela opinião pública . O ato de compartilhar seringas e agulhas expõe os UDI a elevados riscos de contaminação pelo HIV. Este, no entanto, não circula apenas entre os pares, mas como a maioria é sexualmente ativa, também entre seus parceiros sexuais. Esta via é, em parte, responsável pelo grande aumento de AIDS entre mulheres. Outra causa importante é a transmissão heterossexual. Portanto, não é o "vício" em si, mas as atividades não protegidas dos UDI que causam a disseminação do vírus. Diante da confluência constatada de drogas e AIDS, a adaptação de novas medidas de prevenção tornou-se urgente. Deve-se insistir na prevenção ao abuso de drogas, mas como danos maiores se espalham rapidamente no bojo do seu uso deve-se também priorizar a adoção de práticas para enfrentar a disseminação do HIV entre os usuários. Países como Inglaterra, Holanda, Áustria e alguns estados dos EUA já adotam práticas de redução de danos. Redução de Danos Pesquisas têm demonstrado que mesmo os UDI mais inveterados são capazes, quando abordados em um contexto propício, de adotar medidas preventivas simples. Não com o objetivo imediato de parar de usar drogas, mas de usá-las sem correr o risco de se contaminar e/ou de transmitir o HIV. Da mesma maneira que não se preconiza a abstinência sexual, mas sexo seguro, recomenda-se aqui "uso limpo" de drogas, enquanto a dependência impedir de abster-se delas. Esta é a proposta de "redução de danos" ou "redução de riscos" ("harm reduction"), sustentada hoje pela OMS e outros organismos das Nações Unidas. Ela não dispensa o engajamento pela "redução do uso" ou "redução da demanda", mas, diante da dificuldade para o controle do tráfico de drogas e o alastramento do HIV entre os UDI, e a partir deles para a população em geral, constitui-se em ação concreta para reduzir a transmissão do HIV entre os próprios UDI e seus contatos. A recomendação, portanto, é tríplice:
Manual do Multiplicadoranual do
Multiplicador Os métodos utilizados para redução de danos são variados e estão descritos no capítulo terceiro deste manual. 4. Aconselhamento É um processo dinâmico que se desenvolve numa relação de confiança entre duas ou mais pessoas, voltadas para a consideração de algo vital. Nesta relação a ação é definida, o aconselhando precisa falar de suas tensões, pensar com o outro, compartilhar, compreender seus sentimentos de conflito, trilhar um caminho. No contexto das DST e AIDS, esta relação tem conteúdos específicos e objetivos determinados. Considerando as formas de transmissão do HIV, outras DST e as características da AIDS, ainda encontramos atitudes de estigma e discriminação, incertezas quanto a possibilidade de cura ou de tratamento. A população brasileira ainda "resiste" na adoção de práticas mais seguras para evitar as infecções. "Sou forte e não pego AIDS", "Não transo com gay", "Mulher não transmite AIDS", "Eu confio no meu parceiro(a)", "Camisinha diminui o prazer"; são algumas das muitas representações sociais existentes entre nós. Por outro lado, existem muitas pessoas vivendo com estresse e conflitos frente à possibilidade de se infectarem. E quanto aos contaminados ou doentes, ainda apresentam muitas dificuldades de conviver satisfatoriamente consigo mesmos, com seus parceiros, com sua família, no seu trabalho ou com seus amigos. Com freqüência, sentem-se incapazes de resolver problemas ou tomar decisões oportunas. Esta é a realidade do nosso trabalho. Portanto, nossa abordagem sempre vai envolver assuntos sensíveis e complexos como: questionamentos sobre a intimidade das pessoas, sua sexualidade, conhecimento e confronto de questões emocionais e culturais, discussão de como manter as relações afetivas, como enfrentar perdas, como manter a motivação para a vida naquelas pessoas que consideram ter boas razões para sentir total ausência de esperança. A função básica de quem aconselha neste contexto é facilitar a percepção de risco, motivar as pessoas para a adoção de práticas mais seguras e responsáveis de prevenção das infecções. Devemos dirigir as informações pertinentes numa linguagem acessível, identificar as capacidades no outro para encaminhar seus problemas e tomar decisões. Podemos dizer ainda, que as ações de Aconselhamento se diferenciam de uma conversa informal entre amigos ou das campanhas informativas voltadas para a população em geral pois, a) dirige as informações, orienta e oferece apoio emocional conforme as necessidades específicas apresentadas em cada grupo ou indivíduo; b)oportuniza o conhecimento de si mesmo, a reflexão e transformações de valores culturais, como superação de preconceitos e resgate da cidadania, contribuindo para a adoção de novas práticas. Por estas razões esta abordagem se torna importante na prevenção das infecções. Como estamos vendo, não é uma tarefa fácil. Isto não quer
dizer que somente especialistas possam desenvolver esta atividade. A arte de aconselhar Um bom começo é participar dos treinamentos e praticar muito. A aprendizagem na área de aconselhamento deve necessariamente contemplar conteúdos como:
Para se trabalhar assuntos tão complexos os treinamentos devem prever, além de aulas expositivas, a utilização de técnicas de dinâmica de grupo que favoreçam a mobilização espontânea de conteúdos afetivo-emocionais. É importante que o grupo exponha suas dificuldades, suas concepções e valores. Oficinas de sexualidade e dramatizações são exemplos sempre úteis para se atingir estes objetivos instrucionais. Sempre que possível, incluir na carga horária, uma parte de prática supervisionada, pois esta etapa é fundamental como aproximação sucessiva da realidade que se vai enfrentar. Observamos ainda, que a aprendizagem e a prática do aconselhamento devem sempre levar em consideração dois aspectos que se complementam: 1) Dificuldades pessoais que possam estar interferindo no desenvolvimento das ações nesta área. Estar atento às próprias emoções, conhecer-se a si mesmo torna-se condição fundamental para caminhar na direção do conhecer e lidar satisfatoriamente com as emoções do outro. É comum neste trabalho surpreendermos-nos com atitudes preconceituosas quando lidamos com pessoas que têm estilos de vida diferentes, ou atitudes de superioridade "vou transformar aquela realidade", ou de revolta - por exemplo, quando o usuário não tem acesso ao medicamento necessário ou ainda outras ansiedades - o que eu digo para alguém, que acredita que vai morrer mesmo, e não há mais nada a fazer? Sabemos que estes sentimentos e atitudes, se não estiverem equilibrados, só servem para dificultar a relação de confiança e nos distanciarmos da real necessidade do outro. nual do Multiplicador
Nosso esforço será inútil se não houver envolvimento, empatia com o outro. Precisamos entender o nosso interlocutor na sua realidade, compreender seus significados, para que possamos dar uma resposta que faça sentido e não apenas repetirmos mensagens de prevenção.
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