
Nariz perante os poetas
Cantem outros os
olhos, os cabelos/
E mil cousas gentis/
Das belas suas: eu de minha amada/
Cantar quero o nariz/
Não sei que fado mísero e mesquinho/
É este do nariz/
Que poeta nenhum em prosa ou verso/
Cantá-lo jamais quis./
Poema completo.
A orgia dos duendes
Meia-noite soou na floresta
No relógio de sino de pau;
E a velhinha, rainha da festa,
Se assentou sobre o grande jirau.
Lobisome apanhava os gravetos
E a fogueira no chão acendia,
Revirando os compridos espetos,
Para a ceia da grande folia.
Poema completo.
Sirius
Canícula feroz em céu de bronze
Frenética esbraveja;
E contra nós de seus ardentes fogos
Todo o furor dardeja.
Da destruição o gênio, sobre a terra
Açula o cão celeste,
Que das cálidas fauces nos vomita
A guerra, a fome e a peste.
Poema completo.
Sofia
"Fia já minha Sofia,
Fia
"Enquanto eu faço esta ceia,
Eia!
Estás hoje com tamanha
Manha,
"Que não sais dessa janela;
Nela
"Queres ver os estudantes
Antes
"Do que acabar depressa
Essa
"Tarefa, que aí fica à banda,
Anda!...
"Pega já no teu serviço;
Isso!...
"Antes que as ventas te esbarre!
Arre!..."
Poema completo.
Moda
Balão, balão, balão, perdão te imploro
Se outrora te maldisse,
Se contra ti em verso mal sonoro
Soltei muita sandice.
Tu sucubiste, mas de tuda tumba
Ouço uma gargalhada, que retumba.
"Atrás de mim vira inda alguma dia,
Quem bom me há de fazer!"
Tal foi o grito, que da campa fria
Soltaste com satânico prazer.
Ouviu o inferno tua praga horrenda
E o pior que o soneto veio a emenda.
Poema completo.
O devanear de um céptico
Ai da avezinha, que a tormenta um dia
Desgrarrara da sombra de seus bosques,
Arrojando-a em desertos desabridos
De brônzeo céu, de férvidas areias;
Adeja, voa, paira.... nem um ramo
Nem uma sombra encontra onde repouse,
E voa, e voa ainda, ate que o alento
De todo lhe falece - colhe as asas,
Cai na areia de fogo, arqueja, e morre....
Tal é, minh'alma, o fado teu na terra;
O tufão da descrença desvairou-te
Por desertos sem fim, onde em vão buscas
Um abrigo onde pouses, uma fonte
Onde apagues a sede que te abrasa!
Poema completo.
O elixir do Pajé
Que tens, caralho,
que pesar te oprime
que assim te vejo murcho e cabisbaixo
sumido entre essa basta pentelheira,
mole, caindo pela perna abaixo?
Nessa postura
merencória e triste
para trás tanto vergas o focinho,
que eu cuido vais beijar, lá no traseiro,
teu sórdido vizinho!
Poema completo. |