Valmor Bolan
Os bárbaros estão
infra-muros. Cresce, em ritmo veloz, a insegurança e a violência
por toda a parte. A imprensa noticia, diariamente, horrores
incontáveis, toda espécie de agressividade, a pretexto de
qualquer coisa. O manuseio de armas por adolescentes e jovens tem
provocado mortes e assustado um número cada vez maior de
pessoas, que ficam sem saber o que fazer diante da escalada da
violência nos grandes centros urbanos. Histórias e mais histórias
se acumulam no noticiário a respeito de adolescentes e jovens
que perdem a vida, muitas vezes, acidentalmente, como o caso de
L.F.G., de 12 anos, que matou o sobrinho Lucas Gornes Rossinoli,
de 5 anos, quando disparou acidentalmente um revólver calibre
38, na noite do Domingo, 2 de maio desse ano. Cresce a tensão
nas escolas, onde os alunos do ensino médio vão armados para as
salas de aula, com revólveres Rossi calibre 38, ou ainda pistola
Taurus calibre 380 (para 20 tiros) e até outras armas mais
sofisticadas.
A discussão atualmente é sobre o direito que a população tem
de andar ou não armada. Parodiando Shakeaspere, as pessoas se
indagam: Armar-se ou não armar-se, eis a questão ?
Apesar do tema ser complexo e polêmico, precisamos aprofundar o
debate e encontrar meios para uma maior conscientização das
pessoas de que a violência não se combate com violência. Nesse
sentido, podemos afirmar que não é pedagógico o incentivo às
armas. Temos que apoiar todo movimento pela violência, como o
Sou da Paz, que já recolheu milhares de armas e
continua empenhado em desarmar a nossa população.
O que precisamos é de investir em Educação, o meio mais eficaz
no fortalecimento da cidadania e no esforço para minimizar a ação
da violência. Mas a Educação não quer dizer apenas
escolaridade, e sim uma formação para dar um sentido à vida,
sentido este que nos leve à solidariedade. Sem isso, não há
como tomar consciência de que o outro deve ser respeitado como
uma vida humana de grande valor. Não da para dizer que o
alto índice de vítimas de homicídios entre jovens no Brasil
seja conseqüência apenas da falta de escolaridade da população
ou das dificuldades econômicas e sociais enfrentadas pelo pais -
afirma Julio Waiselfisz, responsável pelo Desenvolvimento Social
da Unesco - Mas um dos motivos é, sem dúvida, a falta de
perspectivas de futuro entre a população jovem no país.
Os jovens se armam não porque não tenham escolaridade. Muitas
vezes, jovens ricos, que tiveram chances de estudar nas melhores
escolas, se revoltam contra a vida, contra tudo e todos, e se
tornam piores que rebeldes sem causa, mas bárbaros,
capazes de crueldades, como a que sofreu o índio Galdino Jesus
dos Santos, queimado por jovens ricos, numa farra em Brasilia.
A Educação deve oferecer perspectivas, horizontes,
esperanças, valores e conteúdos humanizadores. Devemos nos amar
uns aos outros, e não nos armarmos, uns contra Os outros.
Devemos fazer a aposta pela paz, desarmando-nos do medo, do egoísmo,
dos preconceitos, enfim, de tudo aquilo que nos afastam um do
outro. Não são as armas que garantirão nossa segurança
efetiva. Desarmados, estaremos dando um passo significado de
abertura ao outro, passo esse necessário para o diálogo e a
consolidação da verdadeira paz.
VALMOR BOLAN. Doutor em Sociologia. Vice-Reitor da Universidade
do grande ABC