
Entrevista

- Como é ser a mulher que mais vendeu discos na história da música?
ALANIS : Ainda me sinto igual ao que eu sempre fui. É muito tedioso ficar pensando nas
coisas sob um ponto de vista tão comercial. Não gravei Jagged Little Pill pensando
em bater recordes de vendagens. Fiz o disco por causa de suas canções, por causa do
que elas me dizem. Por outro lado, gosto que o público tenha se interessado pelo
álbum e se identificado com as músicas. É sempre bom ver que as pessoas compram discos
que não falam apenas de amor.
- O que manteve Jagged Little Pill por mais de uma ano entre os discos mais vendidos dos
EUA, enquanto a maioria doa ábuns do ano não ficou nem um mês
entre os dez mais da parada?
ALANIS : Não faço a menor idéia. Não sei o que é compor um disco para vender milhões
de cópias porque não foi esse meu objetivo ao entrar no estúdio. Não penso que sou
uma artista melhor que outros só porque fui capaz de vender mais discos. Mas é
legal ver que meu interior foi capaz de tocar tantas pessoas durante tanto tempo,
minha vida sempre foi voltada à comunicação com as pessoas. Alguns artistas não
sentem tão compelidos a se comunicar com o público. Eles escrevem para si, talvez
essa seja a diferença.
- Alguém partiu seu coração antes de Jagged Little Pill?
ALANIS : Me partem o coração o tempo inteiro. Foram várias pessoas e não uma em
especial que me fez chegar tão frustrada ao álbum. Mas hoje estou mais forte.
Duvido que voltem a me ferir desse jeito.
- Perfect soa como um desabafo de quem teve uma infância bem estresada. Você
foi pressionada a ser uma estrela infantil quando estava na Tv, aos 11 anos, e
quando gravou o primeiro disco aos 16?
ALANIS : Acho que fui pressionada mais do que gostaria de ter sido, pela família
pela escola, pela sociedade. Acho que é errado pressionar crianças desse jeito.
Se você faz o que gosta, sua paixão deveria ser suficiente mas a sociedade nunca se
contenta com a paixão. Ela quer sempre mais do que você é capaz de dar.
Se você canta, tem de ser a mais famosa, ou então, a que vende mais discos,
senão é pouco melhor do que uma fracassada. Esse tipo de cobrança tem de acabar.
- Foram moutos prêmios nos últimos anos, do Grammy ao Video Music Awards da MTV.
Não é curioso que você seja entã contra
comparações do tipo "MELHOR"?
ALANIS : Não entendo como a arte pode ser algo competitivo. Alguém pode dizer que
Paul Simon é melhor que Peter Gabriel? É ridículo. Ambos deveriam ser adorados
pelas suas diferenças. Quando aceito um prêmio, não acho que sou melhor que os demais.
Eu o aceito apenas porque algumas pessoas ouviram e gostaram do meu disco. Mesmo assim
nunca fui a nenhuma das festas que costumam ocorrer depois dessas premiações.
Por quê? Só iria encontrar gente me cumprimentando por algo em que não acredito.
- Onde você guarda os Grammys que ganhou?
ALANIS : No meu armário, onde não ocupam espaço. Jogo todos os prêmios no fundo
do armário.
- Como você conseguiu que Flea e Dave Navarro, do Red Hot Chili Peppers participassem
do seu disco?
ALANIS : Com minha música. Eles ouviram uma demo, gostaram e foram parar no estúdio.
O problema é que nenhum de nós imaginava que o álbum fosse se tornar tão famoso.
Então, cada vez que dão uma entrevista, sempre lhes perguntam sobre essas gravações.
Eles ficam perdidos, e o mesmo ocorre comigo, quando dizem que a participação deles
foi fundamental e tal, acho que não convidaria outros músicos famosos para gravar comigo.
- Você acha que infulenciou a maneira como a indústria está contratando e
lan&ccdeil;ando novas cantoras "rockeiras", como Tracy Bonham e Fiona Apple?
ALANIS : Devo ter uma parte nisso e me orgulho, embora sempre surjam essas ondas de
cantoras com guitarras de três em três anos. Não duvido que as gravadoras estejam
procurando uma artista que possas ser comparada a mim, porque gostariam de ter o tipo
de sucesso que consegui. Mas não acho que nenhuma mulher gostaria de passar pelo
que passei. Eu, ao menos, não gostaria.
- Você nã se incomoda que milhões de pessoas conheçam sua intimidade e o
modo como pensa, po meio de suas canções?
ALANIS : Não. Apesar de tudo soar 100% vulnerável, tenho limites sobre coisas que não
diria numa música. Minha vida privada ainda é privada. Não me importo que conheçam minhas
fraquezas, porque a maioria dos cantores é muito reservada em suas canções.
É legal ter a coragem de desnudar a alma porque só assim se torna gratificante
quando se identificam com meu modo de encarar o mundo. É por isso que canto.
- No começo, o àlbum Jagged Little Pill tinha em seus vĺdeos e fotos
uma atmosfera enfuma&ccdeil;ada, que impedia que seu rosto se tornasse bem conhecido,
foi de propósito?
ALANIS: Sim, porque queria deixar claro que não se tratava de mim, ou de como eu me
parecia, quando vissem os vídeos e as reportagens. Eu queria que prestassem atenção na
música, não se ligassem na minha aparência. Mas, aos poucos, descobri que tudo sempre
foi sobre mim, sobre os meus pensamentos e minha forma de articulá-los na minha música.
Por isso, acabei me tornando uma frustração para a indústria do vídeo porque todos
queriam saber como eu me parecia.
- Você chegou ao ponto de nã poder andar mais na rua?
ALANIS : Depende do dia. Algumas vezes, duas ou três pessoas me reconhecem e
pedem autógrafos. Tudo bem. Mas há dias em que não posso ficar 15 minutos fora
de casa, porque se forma uma multidão enlouquecida. Fico um pouco amedrontada, por
mais que isso tenha se tornado parte do que sou agora.
- Depois de um ano e meio de turnê, oquê mudou na estrada?
ALANIS : Tudo! Começamos com apenas um furgão, onde nos apertávamos (eu e mais seis
pessoas), indo de cidadezinha em cidadezinha para tocar em pequenos clubes.
Chego a sentir falta desses dias. Agora, só tocamos em lugares grandes.
Nossas viagens não ficam restritas a estradas empoeiradas pela América.
Tudo foi ficando cada vez mais intenso e hoje viajamos pelo mundo.
Acho que está sendo um teste para o meu caráter.
- A energia dos shows ao vivo se tornou inssoiciável da de suas músicas?
ALANIS : Ela ajuda a compreender melhor o que quero dizer. O material de
Jagged Little Pill implora por um show mais energético. Mas quando mudar de
disco, talvez opte por algo diferente.
- Já pensa em mudar de estilo?
ALANIS : Sempre escreverei músicas e vou estar sempre evoluindo. Não racionalizei
meu disco pensando no sucesso e não vou fazer isso com o próximo.
-Você está no selo da Madonna, que foi uma das mulhres que mais vendeu discos
no mundo. Agora, que v ocê vende mais que ela, está pensando em Ter
sua própria gravadora?
ALANIS : Quem sabe? Há um ano, não teria dúvidas em investir meu dinheiro nisso.
Estou construindo o meu estúdio.
- Sua relação com Madonna é cordial?
ALANIS : Ela me deu muita força quando lancei o disco.
Eu já tinha gravado Jagged Little Pill quando assinei o contrato, portanto
ela já sabia como ele soava e gostava do que tinha ouvido. Isso foi muito importante,
porque tive péssimas experiências no passado, com meus dois primeiros álbuns, que foram
produzidos do jeito que a gravadora achava que ia dar para vendê-los.
Nunca mais faço isso.
- O show já traz nova músicas?
ALANIS : Estou tocando seis ou sete músicas novas, mas não sei se elas vão entrar
no próximo disco. Depois da turnê, vou dar um tempo para descansar, e lá por março
devo decidir sobre as gravações.
- Depois de tamanho sucesso, você não se assusta com as expectativas
em relação
ao seu próximo disco?
ALANIS : Não. Se meu próximo disco só vender duas cópias,
vai estar tudo bem, porque cheguei num ponto em que sei que não vou passar fome
por causa disso. Só teria medo se fosse muito pobre e precisasse vender discos.
Mesmo se a crítica disser que ele é horrível, saberei lidar com isso, porque ele
vai soar do jeito que eu gosto.
-Com toda essa segurança, é possével esperar um disco mais aventuroso?
ALANIS : Talvez seja essa a palavra. Acho que vou ser mais aventurosa.
