A DESPEDIDA
Na última aula do último dia do curso de Letras, quando os "veteranos" do 5° ano já não esperavam mais nada, aconteceu. Um pouco melancólicos, julgando-se esquecidos, misturando a tristeza de deixar a universidade com a alegria de concluir o curso, assistiam eles os últimos minutos de seus últimos seminários, a voz final de seus colegas, o adeus às salas de aula para aquele grupo de estudantes, dividindo amizades e aventuras durante 5 anos inesquecíveis. O último xerox já tinha sido tirado. O último salgadinho no PQ (lanchonete da área de convivência). A última conversa com a moçada, no intervalo...
A luz cansada do fim de noite na "Babilônia" (conjunto de salas de aula comuns para vários cursos), o fim de semestre, a algazarra e a movimentação minguando, as outras turmas indo embora, pouca gente circulando por perto. Silêncio ainda maior entre eles. Um sem jeito de olhar para os outros, um medir dos anos passados, das experiências vividas, uma quase vontade de chorar, não se sabe, e o curso finda, agoniza, expira. Mais tarde estarão alegres. Agora são professores. Têm a vida pela frente, novos desafios, tudo novo, e foram premiados com um título. São professores, motivo para se encherem de orgulho, mas depois, agora não. Agora é a hora de chorar a conquista, a vitória que, em vez de garantir a felicidade conquistada - as centenas de amigos, colegas e professores - está roubando-lhes esse imenso tesouro. Por serem vencedores estão perdendo, ainda que seja apenas naquele momento, uma perda para cima, para frente, para o futuro.
E nesse momento, quando eles começavam a se emocionar, ou a segurar a emoção, algumas dezenas de alunos de todos os outros anos de Letras, que tinham formado uma pequena comitiva, entraram na sala, disseram que não tinham se esquecido não, e cantaram uma música em coro para os colegas, com a ajuda de um violão.
Momento mágico, histórico, de pura recordação. Coisa simples, mas uma homenagem de coração, de agradecimento aos corajosos colegas, pioneiros do Curso de Letras, abrindo caminho para tantas turmas quantas se formarem daqui em diante. Entoamos aos "veteranos" a saudação final, em coro, o grito de guerra que é canto de paz e,"bixos" que somos, recebemos o troco. Depois nos despedimos e saímos da sala.
Nem seria preciso dizer que a tristeza se foi, mas a choradeira não.