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BLACK SABBATH
Mágica Sagrada

Por Abonico R. Smith

Aproveitando a tendência retrógrada da música pop atual, várias bandas de peso em diversos segmentos estão passando por cima de problemas pessoais do passado e embarcando no trem dos revivals. Se o público em geral não se mostra mesmo interessado por novidades, por que não relembrar os dias de glória da formação original (ou pelo menos aquela que marcou mais a mente dos fãs) e voltar a tocar aquelas antigas canções de sucesso? Foi assim que pensaram de Culture Club a Kiss, de Human League a Capital Inicial.

Um destes retornos, entretanto, vem sendo aguardado há tempos, com bastante ansiedade. Não apenas pelos fãs espalhados por todo o planeta, mas por todos aqueles que se deliciam com uma boa música. Depois de alguns ensaiando tentativas frustradas de se reencontrarem, finalmente os quatro pontos cardeais se juntam para dar nova vida ao bom e velho Black Sabbath.

E Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarras), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) não se contentaram apenas com a prioridade mercadológica do comeback - ou seja, fazer uma apresentação ao vivo no final do ano para depois lançar este registro em disco. Gravaram duas faixas inéditas em estúdio ("Selling My Soul" tenta recriar a magia exercida pelos riffs e melodias de outrora, ao passo que "Psycho Man" está mais para a deprê a la Alice In Chains) e já prometem para breve uma turnê com várias escalas pelo globo terrestre - o Brasil provavelmente estará incluído. Se tudo der certo e não houver mais qualquer incompatibilidade de gênios entre os integrantes da formação original, ainda deve rolar algum disquinho inédito mais para a frente.

Reunion, álbum duplo, reúne na íntegra o histórico concerto realizado na noite de 5 de dezembro de 1997, na cidade britânica de Birmingham, terra onde nasceram os quatro músicos. Ao contrário de outros dinossauros, porém, o Black Sabbath mostra plena vitalidade - não há qualquer sinal dos reflexos do tempo. Ozzy, Iommi, Geezer e Ward já estão na faixa do meio século de idade mas nem por isso deixaram de tocar tão pesado quanto nos primeiros anos da trajetória da banda.

Ozzy, especialmente, mostra-se um vovô bastante dinâmico. Apesar de se prevenir e recorrer a um teleprompter para não se esquecer das letras, seus vocais estão calibradíssimos. E o vocalista ainda parece prontamente capaz de fazer as mesmas peripécias assustadoras que construíram a sua fama. O repertório é um verdadeiro deleite para todos aqueles que até hoje curtem a primeira fase do Black Sabbath (na segunda metade da década de 70, veio a decadência: Ozzy se mandou em careira solo, a banda passou a renegar as temáticas de ocultismo e os remanescentes até se aventuraram pelos terrenos do progressivo e do hard rock de arena).

Os clássicos do grupo comparecem em peso. A trinca "War Pigs", "Behind The Wall Of Sleep" (inspirada em um livro de H.P. Lovecraft) e "N.I.B." abre com fúria o primeiro álbum. O disco ainda vem recheado de faixas que mostram a mais pura receita sonora do Sabbath. "Sweet Leaf", "Electric Funeral" e "Snowblind" são alguns exemplos da confluência de hipnóticos riffs circulares de guitarra, massa de dois ou três acordes tonitroantes, baixo e bateria comandando o ritmo em slow-motion, e amplificação máxima permitida (estes mesmos ingredientes, aliás, todo mundo se cansou de escutar na virada desta década em diversas bandas alternativas americanas, principalmente o mais famoso punhado grunge made in Seattle).

Puxado pela faixa "Sabbath Bloody Sabbath", o disco 2 deixa para o final os grandes hinos da banda. Os sinos e trovões que anunciam o clássico "Black Sabbath" promove uma verdadeira catarse na platéia. Durante sete minutos e meio, o andamento arrastado e as tonalidades soturnas arrepiam até mesmo o mais ateu de todos. O conjunto de letra, riff e linha melódica de "Iron Man" traz demência e loucura e prepara o terreno para a levada de "Children Of The Grave" incendiar de vez o seu cérebro. Como se não bastasse, Ozzy e sua trupe judiam novamente do ouvinte ao detonar toda a instabilidade mental descrita nos versos de "Paranoid".

FILMES DE TERROR - A história do Balck Sabbath remonta aos anos finais da efervescente década de 60. Enquanto o movimento flower power espalhava pelo mundo o ideal hippie de paz e amor, quatro músicos oriundos da classe operária resolveram juntar suas forças após integrarem bandas de jazz, blues e soul que não sobreviveram muitos meses. O ano era 1967 e nascia o Polka Turk, um sexteto de jazz-blues fusion que contava com Ozzy, Iommi, Geezer, Ward, o saxofonista Acker e um segundo guitarrista chamado Jimmy Phillips. Depois de demitirem Acker e Phillips e mudar duas vezes de nome (para Earth Blues Company e depois somente para Earth), o grupo se viu próximo do fim em 69, quando Iommi foi convidado para embarcar em uma turnê com o Jethro Tull. Depois de um breve intervalo, Tony não só voltou decidido a tocar para frente sua própria banda, como aproveitou a experiência profissional para fazer mais algumas pequenas.

Ao assumir o comando do quarteto, passou a exigir profissionalismo total dos companheiros. Todos os dias, a partir das 9 da manhã, pegava de carro o trio para utilizar a aparelhagem de um clube noturno da região e ensaiar arduamente. Como do outro lado da rua havia um cinema que era especializado em exibir velhos filmes de terror, não bastou muito tempo para a banda observar qual caminho deveria seguir. Aproveitando a personalidade de Geezer (para Iommi, sua primeira impressão a respeito de Butler era a de um pirado que ficava viajando o tempo inteiro; já Ward achava que o companheiro não era mesmo deste Planeta e se cansara de vê-lo tentando escalar paredes de tão fora de si que o baixista estava), a cara e os nomes definitivos começavam a pintar.

O novo batismo veio de um filme homônimo dirigido pelo italiano Mario Bava em 1964 (no qual o astro do gênero Boris Karloff apresentava três curtas bem sanguinolentos) e o nome Black Sabbath acabou sendo usado ainda para chamar a segunda música composta pelos quatro. Para incrementar ainda mais a história da banda, eles resolveram criar uma personalidade tão assustadora quanto as velhas produções de terror. Das temáticas das letras à capa do primeiro álbum, passando por declarações e atitudes, tudo então levava a crer que os músicos estavam plenamente envolvidos com magia negras e outras oferendas ao morador do andar de baixo.

Bingo! Andando pela contramão, o Sabbath angariava uma infindável legião de fãs por todo o mundo, legião esta que ainda não pára de crescer mesmo trinta anos depois. O primeiro álbum veio a solidificar não só mais um grande grupo na cronologia da música deste século, mas acabou por criar um gênero completamente novo, que estava longe de ter nascido de desdobramentos de qualquer outro gênero. Movida pelas dificuldades financeiras e pela revolta completa contra o establishment bicho-grilo vigente na época, a banda passou a promover viagens sem volta rumo ao inferno.

Nascia assim o heavy metal (termo que serviu ainda para abranger outras bandas que tocavam alto e pesado na época, como o Deep Purple e o Steppenwolf, mas que ainda flertavam com o blues) e o Black Sabbath garantia a coroa, o cetro e a grande majestade do segmento que até hoje enlouquece zilhões de amantes da música no Brasil e no mundo.

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