 01.03.1999
INFORMAÇÃO
Blur
Ira!
Sleater-Kinney
Goldie
P&R
Henry Rollins
Jon Carter
Afrika Bambaataa
COLUNISTAS
CINISMO ALTO-ASTRAL
por Emerson Gasperin
PAIRANDO
por Camilo Rocha
ESPINAFRANDO
por Leonardo Panço
OUTROPOP
por G. Custódio Jr.
PENSAMENTOS FELINOS
por Tom Leão
CORRESPONDENTES
INTERNACIONAIS
A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO
NORTE-AMERICANO
por Cassiano Fagundes
WICKED, MATE
Por 90
BR-116
Pequenas Capitanias
Outros
Carnavais
Por
Fora do Eixo
Arroz com Pequi
Loniplur-RJ
Das Margens do Tietê
Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando
FICÇÃO
Leia no último volume
Canalha!
Miniestórias
RESENHAS
Massive Attack
Blondie
"You've Got the
Fucking Power"
Relespública
(show)
Trap
Johnattan Richman
(show)
Little Quail & the
Mad Birds
High Llamas
Thurston Moore
Red Meat
Los Djangos
Bad Religion (show)
Vellocet
Jon Carter (show)
Raindrops
Jimi Hendrix
Experience
Fun Lovin' Criminals
E-MAIL
CRÉDITOS |
|
HENRY ROLLINS
Por Chris MorrisHenry Rollins é o Chuck D branco. O cara tem tanta moral, faz tanta coisa,
manda tão bem no palco e rala tanto que é impossível ficar indiferente. Ele é daqueles
caras que começam a falar e você passa a respeitar porque ele faz muita coisa legal e é
articulado praca. Pra quem não conhece, o cara é o berro que fez o Black Flag ser a
lenda do punk que é, é ativista político, montou a Rollins Band, é dono de uma editora
e duas gravadoras, lança dúzias de livros falados (ou discos de discursos, como
quiser)... Enfim, vamos deixar o cara falar nessa entrevista cedida pela gravadora
Universal.
1999 - Qual a diferença entre seu trabalho de spoken-word (discos falados,
apenas com poemas ou discursos) e com a Rollins Band? O que vira uma letra de música e o
que vira um discurso?
Rollins - O que normalmente vira uma letra pra mim são idéias que
sejam potentes e compactas, que possam ser ditas em 12 linhas ou três estrofes e um
refrão que resuma toda a idéia. As canções são como socos curtos. Você não pode
contar uma história de 45 minutos sobre entrar num avião com um piloto maluco em uma
canção. Às vezes você leva meia hora pra contar uma história, existem várias
histórias paralelas - uma canção é um meio restrito. O principal numa letra de
música, pra mim, é acertar o tema rapidamente e sair dele. A única pessoa que eu
conheço que é capaz de escrever 9 estrofes sem perder o rumo é Dylan. Como Desolation
Row, por exemplo, ele pode cantar aquilo o dia inteiro, sem perder o ritmo. O mesmo vale
pro Nick Cave. Ele pode cantar por horas que eu vou ficar pra ouvir. Eu não tenho essa
habilidade.
Já a parte falada me permite tocar free jazz com palavras. Se a Rollins Band é uma
noite com o Van Halen, uma banda de rock, o meu trabalho falado é Albert Ayler tocando A
Night in Tunisia por três horas. Ou Coltrane. Começa como A Night in Tunisia, mas em
cinco minutos já esquecemos o conceito original e estamos em outra. Na banda, estou num
time. Mas gosto de estar só pra explorar outras formas de expressão.
1999 - Fale um pouco sobre sua editora, 2.13.61. Vocês começaram
lançando Get in the Van, que contava a história do Black Flag.
Rollins - Você tem razão. Get in the Van foi nosso primeiro livro. Começamos
distribuindo livros dos outros. Um livro grande, capa dura, com fotos, foi um trabalho
enorme lançá-lo. Lembro de abrir o pacote quando o livro chegou de Hong Kong e sorrir
sentindo-me recompensado, pois levaram quatro anos pra fazer tudo aquilo. Foi um
acontecimento. Desde então nós tentamos fazer livros diferentes - livros de
fotografia... Como um enorme do Led Zeppelin, em que pedimos pros melhores fotógrafos do
meio dar as fotos mais legais, demos elas pro Jimmy Page que escreveu a introdução.
Fizemos outro com o fotógrafo oficial do Metallica, Ross Halfin, que tira foto dos caras
há mais de doze anos. Ele tem AS fotos. Fizemos um com Stephanie Chernikowski chamado
Dream Baby Dream, em que ela conta os dias áureos da cena punk em Nova York, muitas fotos
do CBGBs. É o meu livro de fotos favorito, porque tem Blondie, Cramps, Ramones, Tom
Verlaine, Alan Vega, Warhol, Nico, John Cale, muito legal... . E belas fotos, ela estava
lá mesmo. Um pequeno trunfo nosso é um livro chamado Dear Dear Brenda, que são cartas
de Henry Miller pra Brenda Venus, a última namorada de Henry. O que torna este conjunto
de cartas basicamente os últimos manuscritos de Henry Miller. Uma ótima leitura, porque
até com sua idade avançada Miller é tipo... "Tira a roupa mulher! Aaaah!",
genial (risos). Ele parece um moleque de dezesseis anos com excesso de hormônio... Eu li
as cartas à Brenda, o que foi uma emoção. Sentar com aquela quantidade de cartas no
colo, ler a caligrafia de Miller, foi uma experiência fabulosa. Tive que escolher umas 35
cartas e, bem, o que a nossa pequena editora está fazendo é entregando ao mundo algo em
torno de sete mil palavras que apenas Henry e Brenda haviam lido. Tenho orgulho disso.
1999 - 2.13.61 também é uma gravadora. Qual o critério que você usa pra
contratar artistas e quem você já lançou?
Rollins - O critério que eu uso pra escolher artistas é amar o que eles fazem.
Quero dizer, é o meu dinheiro, as regras são minhas - eu tô pagando por isso, só vou
lançar o que eu gosto. Eu não os lanço por dinheiro. Se der grana ótimo, mas pra mim a
arte vem antes. Temos um conjunto bem diverso e eclético de sons. Discos falados: meus,
de Exene Cervenka (vocalista do grupo X), temos uma coletânea de spoken-word que chama-se
No! You Shut Up!, com Ian McKaye (líder do Fugazi), Alan Vega (do Suicide)... Estamos
relançando todos os discos do Gun Club que não saíram na América. Todos os Birthday
Parties, todos limpos digitalmente... O desafio da gravadora é intenso porque estamos
lançando música que não está na moda, competindo com Alanis Morissette e Pearl Jam...
Não que eles sejam ruins, mas, por que não isso?
1999 - E como é estar do outro lado do negócio?
Rollins - Agora sou o odiado dono da gravadora e o A&R (diretor artístico)
insuportável. Eu enfio minha cabeça na gravação dos outros, tenho artistas reclamando
de pagamento. "Ei, somos uma gravadora independente, às vezes não dá!" ou
"Quem mais vai lançar seu disco?" (risos). Sim, às vezes tenho que mandar
"ele calar a boca que semana que vem eu lhe mando o cheque!" ou ficar no
telefone "Sei, sei, que pena... Puxa..." e depois pegar outra ligação e
"Eu tô indo agora te pegar e quebrar os móveis da sua casa!!!", "Meu
alface estava dobrado errado!!!", sei lá (risos). É esquisito.
1999 - E a Infinite Zero, gravadora que você tem com Rick Rubin (produtor,
Beastie Boys, Slayer, Tom Petty)?
Rollins - Infinite Zero é uma gravadora de relançamentos. Vamos atrás de
artistas que estão fora de catálogo ou nunca foram lançados aqui, licenciando o que
conseguimos, limpando os discos, chamando gente legal pra escrever os textos, de
escritores de revistas aos próprios músicos: tivemos o Page (Hamilton) do Helmet
escrevendo sobre o Gang of Four, o Soundgarden escreveu sobre o Devo, eu e o Girls Against
Boys falando do Troublefunk. Tentamos pegar todas pessoas envolvidas, esperando que um fã
do Soundgarden vai ler aquilo e vai sentir a mesma coisa que o Chris Cornell sentiu quando
ouviu Devo pela primeira vez! E descobrir a maravilha que é a De-evolution, outro grande
conceito. Devo foi um dos melhores conceitos a serem gravados. Aqueles discos são coisa
de gênio! Basicamente o que fazemos é passear pelos arquivos da Warner perguntando
"Ei, podemos lançar isso?". Tipo o primeiro disco solo do Tom Verlaine,
Dreamtime, "Vocês não querem. Podemos ficar?" e eles "Tá bom".
Lançamos o primeiro disco do Tom Verlaine em CD. Encontrei Tom há uns dias e ele me
agradeceu! Eu fiquei "Uau, Tom Verlaine me agradecendo! Pára com isso!".
Lançamos alguns discos do Gang of Four, vamos lançar os primeiros discos do Fall, o que
é uma honra, pois é grande música. Basicamente o que quero é arrumar tempo pros
artistas que foram bons e cujo único crime foi não se encaixar nos anos 90. Se Axl Rose
pode ter seus discos na prateleira, o que eu acho que ele deve, como eu, então toda a
discografia do Devo tem de estar disponível, acessível pras pessoas. Não deve ser
objeto de colecionador. Porque isso é legal pra algumas pessoas, mas pra outras não há
a menor graça em ir na grande vendas de discos antigos no Alabama pra disputar um disco
do James Brown pela Smash com outros colecionadores maníacos. Infinite Zero é uma
subsidiária da Warner Bros. e eu adoro isso. Adoro pegar o dinheiro deles e fazer boa
música. Meu salário são 25 CDs a cada disco que lanço. É tudo que quero. Minha
recompensa é ouvir um dos caras da banda que relancei dizendo "Obrigado". Ou
receber cartas de gente falando "Não é possível! Fui pra loja de discos e
encontrei todos os discos do Gang of Four por US$ 12, 99! Vocês são demais!".
1999 - Você tem uma carreira de ator e
já trabalhou com Al Pacino. Fale sobre isso.
Rollins - Eu não sou ator, sou limitado. Sei que se me esforçasse seria melhor.
Mas trabalhar com o Al Pacino, o cara é um faixa preta. Você entra numa cena e lá está
o cara, gritando contigo, te esbofeteando, você fica se perguntando porque raios ele
está tão puto e aí você se lembra que está num filme. Quando acaba ele chega (imita a
voz grossa de Pacino) "E aí, cara, tudo bem? Foi ótimo, você foi ótimo!"...
É uma cara ótimo, mas quando dizem "Ação" ele não brinca, é tão sério
quanto a morte. Tenho medo de todo mundo quando atuo. Mas não amo atuar tanto quanto
eles, como eu amo música, com toda aquela multidão na minha cara. Todo mundo que ganha
salário mínimo deveria ter uma chance de trabalhar num filme com Al Pacino, só pra
dizer, aos 80 anos: "Filho, sabe o Al Pacino? Ele chutou a minha bunda!"
(risos). Trabalhar com ele foi um ápice na minha vida, não na carreira. Ponto. Ele é Al
Pacino. Todos aqueles filmes, Um Dia de Cão, O Poderoso Chefão, Scarface... Me disseram
que eu ia atuar com ele e eu fiquei "Uau! Tá louco! Um rocker não-ator vai atuar
com Pacino? Tô nessa!". Claro que foi um ápice. E uma experiência educacional.
Como eu disse, ele não brinca, ele te faz um ator melhor porque ele é melhor. Como tocar
com Miles Davis. Wayne Shorter, todo mundo diz, "Eu nunca pensei que tivesse aquela
música em mim, mas Miles veio ficou na minha frente e me incitava a tocar aquilo. Eu ia
mais longe, porque ele empurrava, tirando uma música que eu não sabia que podia
tocar". Foi a mesma coisa com Al Pacino. Foi divertido.
Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999
Fale conosco |