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PORTISHEAD A adolescência é o período perfeito para que se comece a sentir na pele o gosto amargo da vida. Enquanto o mundo corre a passos largos lá fora, a gente, da porta do quarto escuro para dentro, se perde em meio a emoções turvas e análises profundas e supostamente certeiras da vida como ela é. No meio deste vastíssimo oceano de sentimentos, não há quem não se veja alguma vez cara-a-cara com a frustração. Ninguém me ama, ninguém me quer e, sobretudo, ninguém me entende. O desfecho precisa ser decisivo: ou você se enche de coragem e parte para matar todos os monstros interiores que o impedem de abrir a janela e ver o sol ou se entrega de vez à derrota. Quem já passou ou ainda passa por isso sabe muito bem a grande importância do Portishead para a música pop. Afinal, ouvir as dores de amores deste grupo made in Bristol (berço britânico do trip hop, região de onde saíram outros grandes ícones do gênero como Massive Attack, Tricky e Nellee Hopper) tem o mesmo efeito de assistir aos programas dos Ratinhos ou devorar aqueles jornais que jorram sangue se torcidos. É a pílula milagrosa que traz um pouco de alegria e esperança ao fazer você perceber que há sempre alguém que acaba sofrendo mais neste mundo cão. O Portishead vem se superando com o tempo. Lançou um álbum de estréia devastador há meia década e manteve o alto nível dois anos atrás com um segundo trabalho impecável. Agora, para judiar ainda mais dos corações maltratados espalhados pelo globo terrestre, o produtor Geoff Barrow e a vocalista Beth Gibbons (mais o veterano guitarrista jazzy Adrian Utley) concebem mais uma obra-prima. Juntando um pouco dos dois repertórios, o Portishead se flagra nos palcos durante uma pequena turnê (a maioria das faixas realmente saiu de um único show no club nova-iorquino Roseland, mas também há registros feitos em San Francisco e na Escandinávia). E consegue o mais improvável: ao contrário de quase todos os outros álbuns ao vivo, quando o artista dá aquele gás e punch que o estúdio não permite, a dupla soa mais cool que nas gravações originais. O que, para um projeto do calibre dramático do Portishead, significa a perfeição. Armado de vários músicos-convidados, uma grande orquestra por trás e mais uma mesa de recursos, trucagens e efeitos sonoros que vão de samplers e scratches a um poderoso e improvável theremim (instrumento de origem russa cuja sonoridade remete a antigos fimes trash de ficção científica), o Poritshead arrasa e estraçalha qualquer ser um pouco mais sentimental em onze faixas - o vídeo, de mesmo nome, traz mais músicas, entre elas o hit "Numb". Sob o comando de bases de alto teor romântico-climático (aí entram doses e mais doses de soul, jazz, blues e easy-listening), a voz sofrida de Gibbons conduz à dilaceração total. Ouvi-la cantando aos prantos os versos "é só você que pode me deixar em frangalhos" ("Only") e "Me dê um motivo para te amar/ Me dê um motivo para ser uma mulher" ("Glory Box") ou separando sílaba por sílaba o refrão "No-bo-dy lo-ves me" ("Sour Times") é uma experiência da qual não exista quem saia inteiro. Remédio contra o suicídio antes inevitável ou simples trilha sonora para fazer passar mais rápido a fossa, o Portishead é uma das maiores pérolas da música pop desta década. Quem tem plena consciência disto não pára de agradecer à deus - de joelho e às lágrimas - pelo destino ter unido as duas cabeças do projeto. Afinal a dupla Barrow & Gibbons é uma grife tão poderosa quanto Leiber & Stoller, Lennon & McCartney, Jagger & Richards, Page & Plant, Morrissey & Marr... Os textos só
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