Image1.JPG (15354 bytes)

04.01.1999

INFORMAÇÃO
Jesus & Mary Chain
Nenhum de Nós
Otto
Relespública
DeFalla

P&R
Piveti
Isabel Monteiro
M
an or Astroman?

COLUNISTAS
COLUNA VERTEBRAL
de Ricardo Alexandre
PAIRANDO...
de Camilo Rocha
ESPINAFRANDO
de Leonardo Panço
OUTROPOP
de G. Custódio
PENSAMENTOS FELINOS
de Tom Leão
ROCK & RAP CONFIDENTIAL
de Dave Marsh
atenciosamente,
de rodrigo lariú

BR-116
Pequenas Capitanias
Outros Carnavais
Polaroid
Por Fora do Eixo
Loniplur-RJ
Das Margens do Tietê

Distancity
Leite Quente
Londrina Chamando

HISTÓRIA
DO ROCK

Black Sabbath
Burt Bacharach
"Três Lugares Diferentes"

RESENHAS
Beck
Mercury Rev
Jurassic 5

Sala Especial
Lou Reed (show)
Asian Dub Foundation
Belle and Sebastian
"Velvet Goldmine"
Autoramas (show)
Grenade
Chemical Brothers (show)
Cardigans
Bauhaus
Stellar

E-MAIL

CRÉDITOS

ESPINAFRANDO
Por Leonardo Panço

Roupa suja se lava em público

Cá estamos na primeira coluna, no primeiro assunto. A grande questão vai ser sempre colocar os pingos nos is. Tentar mostrar o que está errado no nosso undergroundzinho, que ainda tem muito feijão com arroz pra comer e mostrar que virou um adulto mais ou menos dedicado e bem sucedido.

Vamos começar falando sobre o maior evento de fanzines do Brasil que rolou durante 6 dias do mês de setembro aqui em minha terra querida, o Rio de Janeiro. Para quem não sabe, o Zinemutante já havia acontecido no ano passado com várias atividades e tinha sido bem sucedido o suficiente para que a direção do Centro Cultural Banco do Brasil (o maior e mais importante do Rio) desse mais verba e mais espaço para o segundo evento.

Eu, que no ano passado tinha sido palestrante, falando sobre underground, sobre música e fanzines, já havia ficado muito puto da vida por apenas uma pessoa conhecida ter aparecido em minha palestra. O auditório não ficou vazio não. De jeito nenhum. Só não apareceram os amigos. Todos aqueles em cujos shows eu já tinha ido depois de pegar três ou quatro ônibus para chegar. O motivo alegado por todo mundo: "ah, mas no domingo, às 11 da manhã, eu tava dormindo".

Pois é. É por isso que o nosso underground ainda vai dormir por muito tempo. Ninguém está interessado em dar o sangue pelos lances legais. Acordar cedo por uma boa causa não faz parte do repertório das pessoas envolvidas na cena (ô palavra medonha!!!). A princípio pode parecer apenas um pequeno sangramento em meu ego. "Ah, tadinho dele. Ninguém conhecido apareceu para vê-lo falar..." Mas quem enxerga só até esse ponto, está redondamente enganado. Não era eu. Era o maior centro cultural do Rio de Janeiro, com um banco gigante dando grana pra zine, pra xerox falando de banda, pra essas coisas que nossos próprios pais falam que não vão dar em lugar algum. Quando temos a chance de mostrar que sim, é importante, é legal, é cultura, é isso e aquilo, ninguém aparece. Estavam todos dormindo.

E esse ano mais uma vez aconteceu. Eu passei de palestrante para coordenador da mostra de videoclipes e monitor na zineteca. O evento cresceu. Muitas outras atividades foram acrescentadas ao repertório. Inclusive o que muitos queriam e diziam que havia faltado no ano anterior, os shows. É incrível dizer isso, mas nenhum componente dos Los Djangos apareceu para prestigiar o evento. Como tocavam no último dia, foi nesse que eles foram. E como os shows eram no Espaço Cultural dos Correios (a 20 metros do CCBB), eles não deram nem as caras no restante do evento. Era muito para eles perceberem que a presença de mais cinco ou dez pessoas que fossem na Zineteca, no Altar Ego, onde quer que fosse, era importante.

Do mesmo modo se portou o pessoal do Piu Piu e sua banda. Do Cynics, apenas um apareceu. Por quê? Porque Paulo André, organizador do Abril Pro Rock, daria uma palestra e ele queria entregar material para tentar tocar no badalado festival de Recife. Uma vez concretizada a entrega, "ralou peito" rapidamente. Do Zumbi do Mato, apenas um apareceu porque estava realmente interessado em participar. Como se chama isso tudo? Egoísmo? Burrice? Falta de visão? Sei lá. Eu poderia enumerar uma série de adjetivos para essas atitudes, mas deixa como está. Será que nenhum deles consegue perceber que se eles mesmos prestigiarem, outros parecidos vão acontecer?

Muitos integrantes de bandas apareceram por lá, mas se fôssemos calcular a quantidade dos que não foram perceberíamos que o evento poderia ter tido uma outra repercussão. As sessões de documentários e clipes custavam dois reais, o que, convenhamos, não é caro. A projeção mais concorrida (quáquáquá) não chegou a ter vinte pessoas. Os shows, gratuitos como todas as outras atividades, levaram cerca de duzentas pessoas. Seria cômico se não fosse muito triste para uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro.

O resultado dessa brincadeira toda, é que o evento foi cancelado para este ano. Era o que todo mundo queria. Assim se pode voltar à velha ladainha de que o Rio vai mal, que nada acontece, que somos pobrezinhos de marré marré. Pois que queimem todos no fogo do inferno. A começar pelas línguas.

As pessoas ainda não perceberam que poderíamos fazer história. Que é possível mostrar muita coisa interessante dentro da produção cultural independente. Como fazer para que os próprios idiotas que reclamam comecem a fazer algo.

Leonardo Panço
Toca no Jason e toca o selo Tamborete Entertainment, com uns chegados da área. Normalmente não é tão rabugento quanto no texto, mas o cara rala tanto pelo independente brasileiro que chega uma hora ele solta os cachorros. Normal.

Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos autores
© 1999
Fale conosco