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04.01.1999

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(Curitiba)

Por Abonico Rycardo Smith

Dez horas da manhã de um ensolarado último dia do ano. Tranqüilidade na Redação. Em meio à faxina mental e espacial de reveillon, começo a pensar como foi o ano do Fun, caderno teen semanal publicado pelo jornal Gazeta do Povo e editado por este que vos escreve.

O principal objetivo foi alcançado: o de começar a quebrar a sólida barreira cultural autofágica imposta pelos próprios curitibanos ao longo do tempo. Depois de uma efervescente produção cultural na década de 60, a cidade foi se acostumando a não ter uma cara, uma identidade. A se parecer com coisa alguma. A não ter gosto nenhum feito torcedor do Fluminense. A idéia reforçada aqui é aquela velha história de que santo de casa não faz milagre. Você só é bom e seu trabalho só deve ser reonhecido se tiver o referendo de fora, principalmente do monopolizador eixo Rio-São-Paulo. Só isso explica a eterna soberania da política cultural (pública e privada) de trazer artistas de nome, dar-lhes um grande montante de dinheiro (que serviria melhor se financiasse projetos de muita gente da própria cidade, estes sim, dotados de real talento e capacidade de deixar para a história obras verdadeiramente significativas) em troca de uma falsa e pretensa divulgação do nome do investidor.

Pois bem. Sem falsa modéstia, acredito que o Fun deu o pontapé inicial para esta grande transformação de autovalorização. Nesta última temporada, vários músicos e bandas curitibanas (sim, nesta cidade o rock, por incrível que pareça, ainda é valorizado pelos leitores adolescentes) tiveram suas fotos estampadas na capa. Resist Control, Relespública, Skuba, Boi Mamão, Woyzeck, Anões de Jardim, Fuksy Faluta, Catalépticos, Whir, mais um bom número de dezenas de trabalhos comentados nas páginas do caderno. Gente que se ainda não faz, pelo menos batalha, rala e procura fazer (por merecer). O impulso ainda foi maior com a criação do Prêmio Fun, cerimônia anual que dá nome e troféu aos bois que foram votados por público e crítica como os melhores da temporada.

O que o Fun fez - e faz - é apenas a ponta do iceberg. Depois desta grande injeção de ânimo, as rádios passaram a se curvar frente aos trabalhos curitibanos. A 96 Rádio Rock, mais voltada ao rock clássico, abriu brechas em sua programação de flashbacks para alguns trabalhos locais e mantém o Garagem 96, um programa semanal para a veiculação de grupos curitibanos. A Educativa FM, tradicional reduto de MPB, emplacou o segundo ano do Todos Os Caminhos do Rock, segmento formado por vários miniprogramas que procuram mostrar todas as facetas e subdivisões do gênero. Lá as bandas "leite quente" são veiculadas em vários horários e têm até um especial com gravações ao vivo em estúdio, o Ciclojam. Até a antes irredutível Transamérica não quis ficar para trás. Organizou uma coletânea com alguns bons nomes e passou a tocá-los em sua pequena grade regional. Tudo isso sem contar a criação da Estação Primeira TV, canal por assinatura que não só propõe o fim do monopólio da MTV, como também procura mostrar trabalhos que não interessam à ditadura cultural imposta pelo eixão.

O ano de 98, assim como esta nova temporada, não significa nenhuma revolução. Muito pelo contrário. É apenas um incansável trabalho de formiguinha. Falta ainda muita coisa. Falta gravar mais discos (se bem que houve pelo menos uma dezena e meia de bons trabalhos postos na rua, alguns deles com a grande ajuda da Lei de Incentivos Fiscais, pela qual a prefeitura permite que empresas destinem o dinheiro de impostos para financiar projetos culturais). Falta tocar mais nas rádios, falta aparecer mais nas televisões, falta solidifcar um bom circuito de shows (aqui só há uma meia dúzia de três ou quatro casas underground para os grupos tocarem e desenvolverem repertório e sonoridades; o grosso bares e pubs ainda apostam no cover; e, saindo dos simpáticos buracos, não há espaços médios. Ou você toca para cem pessoas ou você só tem a Forum para 4 mil e a Pedreira Paulo Leminski com capacidade seis vezes maior).

Tudo bem, todo mundo sabe que falta isso tudo. O ingrediente principal desta grande revolução, entretanto, tem que partir dos próprios músicos. Além de passar a confiar nos seus tacos, eles precisam é parar de seguir o mesquinho pensamento autofágico curitibano. Aqui pouco se faz e muito se fala, principalmente (e mal) de quem começa a ter o trabalho reconhecido (lembre-se, afinal, de que "o artista curitibano é incompetente e deve ser relegado ao limbo do esquecimento"). Quando a inveja acabar e a maioria parar de querer puxar o tapete de quem ameaça se sobressair, a conversa será outra. Não precisa ser aquela falsidade da turma emepebófila de Caetano, do eterno jogo mútuo de confetes. Mas um pouco de humildade, união e confiança não só não fará mal a ninguém, como também (aí, sim) criará uma verdadeira cena roqueira na cidade.

TOP TEN

Como o Skuba aderiu ao processo de descuritibanização (foi morar em São Paulo, dando um pé na bunda do público local que o viu crescer), aqui vai a minha lista das dez principais bandas locais do ano, sem qualquer ordem de preferência ou colocação. O critério de seleção foi apenas a qualidade do trabalho apresentado durante a temporada.

  • Resist Control: A poderosa mistura de metal, hardcore, rap e groove embalou 20 mil pessoas na abertura para o Iron Maiden, fez vender cinco mil cópias de um disco independente e fez da banda a primeira a ter um imenso e fiel público espalhado pela cidade)
  • Boi Mamão: Apesar da divulgação capenga do novo disco, a banda fez um competente trabalho entre o rock e o ska - o famoso "ska com pauleira".
  • Woyzeck: Finalmente lançou seu primeiro álbum, um disco afiado onde várias vertentes do rock e da música pop se encontram com a MPB e a nossa música de raiz.
  • Relespública: Melhor ler a matéria sobre a banda nesta mesma edição. Um paraágrafo seria muito pouco para explicar tudo.
  • Catalépticos: Trio billy sai de Curitiba para tocar pela segunda no maior festival do gênero no mundo, o Big Rumble, na Inglaterra. Desta vez, porém, passou de mera curiosidade vinda de um país exóticos para ser aclamado de vez e entrar no seleto primeiro escalão do psycho planetário.
  • Limbonautas: O eterno herói da resistência do underground curitibano JR Ferreira recruta músicos novatos e veteranos e cria mais uma banda de impacto. A base sonora desta vez tem um pé no punk e outro na surf music.
  • Mosha: Veteranos do rock curitibano (lembram-se do Tessália, primeira banda local com sonoridades assumidamente britânicas, circa 88/89 ?) voltam da Inglaterra munido de samplers, guitarras, efeitos psicodélicos, seqüenciadores e ótimas idéias.
  • Fuksy Faluta: Pela primeira vez um grupo pode se dizer pop sem que isso seja uma ofensa às raízes alternativas. Com muito groove nos pés e guitarras distorcidas na cabeça, o sexteto tomou de vez Curitiba de assalto com seguidas apresentações em palcos locais e o reconhecimento do público da MTV (que o classificou para a final do programa Ultra-som). Já tem até fã-clube, na cidade e em São Paulo.
  • AAAAAA Malencarada: Tosqueira pura comandada por veteranos da cena local e verdadeiros profissionais do som amador. Punk rock na veia com vocais berrados por duas meninas.
  • Whir: Representante legítimos dos cromossomos XX na cidade. O quarteto feminino passou um ano atribulado, com mudanças na formação e na sonoridade - as antigas influências exclusivamente guitar passaram a ser temperadas com um pouco mais de sujeira, velocidade e agressividade). Recentemente, passou a ser alvo de uma acirrada disputa entre leitores na seção de cartas do Fun. Por sete semanas, diversos comentários (para o bem e para o mal) badalaram o Whir e deram a certeza de que a banda não está mais restrita ao circuito dos porões.

Abonico R. Smith
Edita o 1999 e o Fun e nunca perde a esperança de que o seu Flamengo volte, um dia, a ser o maior clube do Brasil

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