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01.02.1999

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JON SPENCER BLUES EXPLOSION
Acme
(Matador)
Por Alexandre Matias

Beck pode dizer que sabe onde é que está (where’s it’s at) ao misturar rock clássico com funk e encontrar a pólvora criada no fim dos anos 70 pela cultura hip hop no formato que domina os anos 90. Duas picapes e um microfone não é apenas o paraíso perfeito para quem tem sua cabeça musical em forma nem o fator que aproxima pós-rockers, garotos indie, rappers e technoheads para o mesmo ponto em comum da década. É mais do que isso, é o formato que veio se mostrar tão eficaz quanto o quarentão guitarra-baixo-bateria no rock do pré-milênio.

É lá que o Jon Spencer Blues Explosion está. Eles são a banda da virada do milênio, no sentido que representam este processo de transição. O trio nova-iorquino não é simplesmente uma banda que atualiza o blues ou o rock’n’roll. Sua mistura de blues com punk é uma colisão tão violenta quanto blues e country, a nitroglicerina que fez o big bang do rock explodir com Elvis Presley - mas é apenas uma fórmula 3 x 4 inventada para ser repetida a esmo (vide o último disco da banda, Now I Got Worry).

A grande sacada do JSBE (ou JSBX, pelo som que a letra X - que, em inglês, é pronunciada como "écs" - faz em "eXplosion" ) é com este seu formato saudar as novas gerações. Ao contrário de Beck, que fala como um visionário, Spencer vê o admirável mundo novo dos anos 90 como uma mistura da mitologia dos anos 60 com o excesso dos 70. E cogita o que poderia acontecer se os Stones gravassem com o Kraftwerk, com os New York Dolls, com o P-Funk ou com o Emerson Lake & Palmer. E, por pura diversão, resolve fazer sons com os mais diversos colaboradores.

Seu primeiro disco (Crypt Style, de 91) era o blues enquanto disco de hardcore, a produção a cargo do desfibrilador Steve Albini (Pixies, Nirvana). O segundo (Extra Width) foi gravado no estúdio das Breeders e do Sonic Youth. O terceiro (o prateado Orange) flertava com o techno e tinha Beck rapeando por telefone. O quarto, o EP de remixes (!!), era submetido a desconstruções a cargo de gente como Wu-Tang Clan, o beastie boy Mike D, Moby, o novato U.N.K.L.E., Beck, Mario Caldato e o Dub Narcotic Sound System. E no último disco da banda, Now I Got Worry, eles retribuíam o favor ao Dub Narcotic e regravavam F*** S*** Up, além de contar com a participação especialíssima do Staxman Rufus Thomas.

O novo disco, batizado apenas de Acme (importado) não poderia ser mais óbvio neste aspecto - o que quer dizer que o disco pinça artistas ainda mais diferentes entre si. Entre os nomes lidos através da única página do encarte estão o de Steve Albini, o de Calvin Johnson (do Dub Narcotic), de Alec Empire (do Atari Teenage Riot) e de Dan The Automator (DJ do Dr. Octagon, a recente persona do ultramagnetic MC Kool Keith). Mas o que dizer de uma banda que consegue não apenas colocar estas quatro figuras antitéticas no mesmo disco e ainda soarem parecidos?

Eles fazem a transição perfeita do nosso século de um gênero só para o próximo em que todo mundo conseguirá seu espaço para falar. Com os dois pés fincados até as canelas no lodaçal do rock'n'roll, o grupo está com sua cabeça no multiverso rítmico da virada do milênio e, com uma guitarra pendurada no pescoço, traduz sua excitação com barulho.

Nem tão barulho assim. O trio vem aprimorando cada vez mais a onomatopéia de soco que era seu som no começo. Sim, eles ainda conseguem fazer aquele mesmo barulho primevo do disco de estréia (vide a matriz podreira de "Attack", que funcionou de base para os blips de Alec Empire). Mas sua evolução como banda de rock é instigante - é como se ninguém nunca tivesse feito isso que eles estão fazendo, como se a cartilha do rock estivesse sendo escrita agora.

O batera Russell Simmins talvez seja o dono das baquetas mais firmes do rock atual, uma mistura de funky drummer de James Brown, Charlie Watts e bateria eletrônica. O experiente Judah Bauer aos poucos aproxima sua guitarra do pântano à noite do country mais sulista possível (cheque a setentista "Magic Colours"). E Jon Spencer encarna um Mick Jagger sendo possuído pelo equivalente demoníaco de Iggy Pop, despejando acordes sujos de sua guitarra (pendurada só por estilo) como descargas elétricas dadas em sua cabeça. A coesão do grupo é ao mesmo tempo minimal e clássica, representando tudo que o rock deveria representar: um show vivo de força, raça e sensualidade sonora, toda música tocada como se fosse a última.

Em Acme, o grupo encarna os anos setenta dos Rolling Stones, mais precisamente em Exile On Main Street, substituindo o jazz, o gospel e o resto da música negra americana do começo do século pela do final do século e por seu equivalente branco, o punk. Quando berra "I Got the Blues!", Spencer não toca blues, mas se ajoelha a ele, como faziam as bandas de rock inglês nos anos 60. Chega ao didatismo de explicar que a "revista Rolling Stone veio me entrevistar sobre essa nova moda, o blues" e que "eu não toco blues, toco rock'n'roll!!" na hip hopada "Talk About The Blues". Os backing vocals de Calvin em "Do You Wanna Get Heavy?" fazem a conexão direta com o disco mais clássico dos Stones (que havia sido regravado na íntegra pela banda anterior de Spencer, o Pussy Galore, em 84), mais precisamente em faixas como "I Just Wanna See His Face" e "Let It Loose".

É isso mesmo que você está pensando - o Jon Spencer Blues Explosion é o que os Rolling Stones deveriam ter sido hoje, não esta caricatura magrela que passeia no jet-set.

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© 1999

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