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FUN LOVIN' CRIMINALS 100% COLOMBIAN (Virgin) Por Alexandre Maitas Antes de mais nada, sim o três caras do Fun Lovin Criminals são brancos e fazem rap. Mas como todo rapper branco que se preze, eles não tentam imitar seus parceiros negros. O segredo de ser branco e fazer rap é buscar uma sonoridade nova, criar um ambiente próprio e - mais importante - não querer tirar onda de negão. Somos todos iguais, mas se tem uma coisa que pega mal é branco tentando imitar negro. Sempre parece depreciativo ou ridículo ou risível. Mas os bons rappers brancos sabem disso e seguem criando seus universos sonoros: os Beastie Boys tentam traduzir tudo que eles acham legal em seu old-skool de moleque birrento, o Cypress Hill apavora - de verdade - com zunidos e sons do outro lado da tumba e o House of Pain soube transportar o gueto pra pista de skate sem dificuldade. Todos cantando com a mesma garra e vigor que seus pares afro-americanos, mas nunca os imitando. O discurso pode ser o mesmo, mas as gírias são diferentes, a postura é menos local e mais global e a forma de rapear é própria. E o Fun Lovin Criminals pertence a este grupo. Os três apareceram pro resto do mundo em 96, quando seu Come Find Yourself abria uma possibilidade do rap ser fruto de gangsters, não gangstas. E adaptando o gueto prum filme de Martin Scorsese, Huey, Fast e Steve apareciam como jovens cappos nos anos 90, herdeiros de clãs sicilianos querendo tirar onda como os novos-ricos californianos que inventaram o gangsta rap. Seu disco de estréia colocava os Beastie Boys para atuar papéis que na primeira versão pertenceram a Al Pacino, Robert DeNiro e Joe Pesci. E um passeio de carro à noite pelo subúrbio nova-iorquino era só uma desculpa pros três se gabarem de seus planos, assaltos e fugas. Em seu segundo disco, 100% Colombian, eles reafirmam sua postura de moleques bandidos - mas enfatizam no Lovin está entre o Fun e o Criminals de seu nome. O tempero vem com uma boa dose de caramelo afrodisíaco soul, que adocica e aplaca o lado adolescente do grupo. O nome do meio do grupo não tem a ver com o óbvio "amável", mas com o mesmo "sweet lovin" que o Chef do desenho South Park (o vozeirão cafajeste de Isaac Hayes) oferece às suas parceiras. "Barry White salvou a minha vida", canta Huey no primeiro single do disco - Love Unlimited -, "e se o Barry White salvou sua vida/ ou te fez voltar com sua ex-esposa/ cante Barry White, Barry White é legal". Ele cita as características predatórias do groove pesado de White como uma forma de mostrar que através do amor se pode crescer e amadurecer, sem precisar abandonar o ar rebelde e irresponsável da adolescência. Estamos falando, afinal, da máfia italiana em Nova York. Do mesmo jeito que os moleques do Bronx vêem seus ídolos entre ativistas negros e bandidões alta-roda, o FLC acha os seus nos piores elementos de uma irmandade fora da lei que tem seu próprio código de ética, muito mais justo - e duro - que o que o sistema propõe. E tira onda com todos os clichês do gênero, como se fosse um moleque fumando os charutos do pai escondido. Sério e tenso, um pré-adolescente que conhece todas as artimanhas da Cosa Nostra e que não hesita em brincar com situações e pessoas que irão cobrar no futuro o seu pescoço como pagamento. Mas isso é o primeiro disco. 100% Colombian traz este ar de amante profissional que deixa esse mesmo moleque maior. Quando ele gira o charuto entre os dedos e fala com este tom, por minutos esquecemos sua idade e nos vemos diante de um líder nato, que domina o carisma e o palavreado com maestria. Deve estar no sangue. E assim se preocupa com um irmão ainda mais irresponsável que ele (Were All Very Worried About You), joga o estuprador de sua amante-cidade, a que chama carinhosamente de Delancy, nos trilhos do metrô e não olha pra ver o estrago (na pesada Southside), trabalha sem sujar as mãos (All for Self) e invade Los Angeles em grande estilo (na suinguenta Big Night Out). Mas é um apaixonado pela Grande Maçã, mas não esta cidade fria de hoje, mas a que o viu crescer e ganhar poder, como o Hill de Up on the Hill, a Rua 10 de 10th Street ou seu bairro-natal, que "guarda no coração com um segredo" em Back in the Block. Encontra tempo pra apreciar o visual (The View Belongs to Everyone), a música (Mini Bar Jam) e a comida (Korean Bodega) de sua cidade, mas quer é amar. Reconciliar-se com a ex-esposa, passar a mesma cantada e ter o mesmo doce amor que ele sabe que ela pode dar a ele. Claro que ele pode se divertir e ter supermodelos da costa leste em seu colo (pra não dizer em outra coisa, como em Big Night Out), mas o amor verdadeiro é daquela mulher que viu ele se livrar de todos aqueles corpos sujos na banheira. Pois canta sobre amor e fidelidade - em termos - em Love Unlimited, Sugar, Southside e Up on the Hill e derramando o clima de balada por todo novo disco. O título - "100% colombiano" - faz jus à qualidade do CD em parâmetros narcotráficos, mas ele reforça a pureza do cidadão siciliano que nasce no peito da capital do mundo. E marca também a primeira grande transação, a primeira negociata de peso, um rito de passagem. A partir daqui, não dá pra olhar pro Fun Lovin Criminals como meros moleques. O pior é que eles são isso, mas não pra vê-los apenas como isso. Os textos só
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