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DEFALLA Psicocirco Por Abonico R. Smith e Fabiano Camargo Três horas da tarde de uma pacata tarde de quinta-feira em Curitiba. Um trio de figuras bizarras salta de uma van vestindo trajes pretos de couro que transitam entre o sensual e o sadomasoquista. A menor, única representante do sexo feminino, faz pose de vamp. O magrelo tem olhos e unhas pretas, máscara de ferro na cabeça e uma saqueira como única peça no corpo. Mas o líder é uma figura à parte. Drag queen de dois metros de altura (contando com a ajuda de botas com plataforma de 15 centímetros), meia-arrastão, espartilho deixando os ombros e uma coleção de incontáveis tatuagens à mostra. A cara está repleta de pancake branco e traz detalhes de sombra e batom e vermelho. A longa peruca de cabelos platinados ostenta duas marias-chiquinhas, no melhor estilo Xuxa de ser. Vários pirulitos a serem deliciosamente lambidos completam a parafernália visual. Por sugestão do líder, o grupo, então desfalcado de um quarto integrante, invade um dos maiores shopping-centers da cidade para uma sessão fotográfica. As pessoas parecem ter saído daquele dia em que a transmissão radiofônica de A Guerra Dos Mundos, feita por Orson Welles, botou Nova York inteira em Pânico. As reações são das mais diversas. Papai Noel cai na gargalhada. Crianças berram estáticas, deixando transparecer o medo dos estranhos. Uns dão chilique, achando tudo um ultraje. Outros pedem autógrafo. Não há quem não pare para arriscar algum comentário (existe até quem profira um "acho que hoje é Dia Internacional dos Gays"). Por onde o trio passa, exerce poder de atração. Parecem imãs puxando para fora das lojas clientes e vendedores. Depois de uns quase vinte minutos transitando por um dos templos máximos do capitalismo, o grupo de alienígenas é gentilmente convidado a se retirar pelos seguranças. Mesmo com a autorização prévia dada pela administração do local, a alegação é a de que o trio estava "chocando" todo mundo. Missão cumprida. Para quem estava disposto a ser preso durante a sessão de fotos, ser expulso do shopping já bastou para garantir um pouco de diversão durante o dia. Chega a madrugada e os mesmos seres exóticos tomam o rumo do local onde suas aparições estão sendo ansiosamente aguardadas - não por ufólogos, mas por fãs do rock alternativo. Alguns minutos depois das duas horas da manhã, o quarteto surge pelos corredores do Circus Bar, trajando os mesmos figurinos da tarde e rapidamente toma o caminho do palco. Quase no escuro, uma baterista, um baixista e um guitarrista se acomodam nas suas posições. Então é a vez do líder da turba. Ele - ou ela - se posiciona diante do microfone. As luzes se acendem e, imediatamente, o público é tomado por uma grande surpresa. Quem ou o quê é aquilo? O que está cantando? É um travesti importado de uma esquina de Saturno ou Urano? Um manequim de moda sadomasoquista que fugiu de alguma sex shop depois de ganhar vida em um ritual satânico? Ou seria uma Barbie versão pornô para depravados? Quem sabe um extraterrestre que abduziu uma pobre, ingênua e indefesa paquita e tomou seu corpo? A dúvida impera. Não, é ele mesmo, Edu K, o eterno mutante e vocalista da cultuada banda gaúcha DeFalla. O artista que na década passada fez shows usando calcinhas, sutiãs e coturnos voltou a aprontar. Para acompanhar o som do grupo, que agora toca um "techno-punk com influências góticas dos anos 80", Edu fez o DeFalla adotar um figurino sadomasoquista-apocalítico. "O meu visual é o de uma spice girl do inferno", define o próprio. Aqueles que conhecem um pouco da história do DeFalla, já vão para um show prontos para tudo, teoricamente. Afinal, Edu já mudou de visual e de som diversas vezes, com o DeFalla ou em breve carreira solo. Após a fase inicial, que tinha muitas experimentações e na qual o vocalista praticamente lançou no Brasil o visual drag queen, a banda adotou vários estilos sonoros e de figurinos: hard rock, thrash metal, rap-hardcore. Há três anos, Edu chegou a lançar um disco solo, bem pop, na capa do qual aparecia vestindo um impecável terno preto e gravatinha - afinal, queria ser Fábio Jr. Mesmo com toda esta ficha corrida, ele conseguiu pegar o público novamente desprevenido. Só depois da terceira música o povo que lotava o Circus começou a acordar do baque provocado pela nova estampa e pelas performances de Edu K - ele rebolava, simulava sexo oral com o canudinho da água mineral, se jogava no chão para imitar poses de calendário de mulher pelada, arrumava a meia arrastão, borrava o batom com as costas da mão (imagine aquele figura da foto estampada acima em movimento...). Passado o susto, metade do público começou a cair na dança. A outra ainda permaneceu em choque. Ao contrário do que se poderia esperar, ninguém jogou nada no palco. O máximo que se ouviu foram dois solitários berros de "bichona" e "poseur f*d*p*" (este último grito deve ter caído como um elogio nos tímpanos de Edu, já que a banda sempre incluiu muita pose na sua identidade). Além de um artista inquieto que sabe como provocar e não tem nem medo e nem pudor no palco, Edu K continua criando boa música. O techno pesadão do DeFalla traz a guitarra de Marcelo Fornazzier na linha de frente, soltando riffs distorcidos, enquanto a bateria de Paula Nozzari e o baixo de Z funcionam mais como tempero para as pulsantes bases eletrônicas. Os vocais característicos de Edu, agora mais performáticos, puxaram um repertório que trouxe músicas novas (como uma ótima versão para "Fire", de Jimi Hendrix, primeiro single da nova fase do grupo) e ainda releituras para velhos hits do DeFalla ("Não Me Mande Flores", "Repelente", "Scrow You", "Sodomia", todas quase irreconhecíveis). Se a nova cara da banda faz lembrar Prodigy e Marilyn Manson, o som tem personalidade diferente dos dois. O DeFalla é mais eletrônico que Manson e mais roqueiro que o Prodigy.No final, o bis apresentou um set oitentista em homenagem aos grupos Bauhaus, Sisters Of Mercy e Alien Sex Fiend, covers aditivadas pelo techno e por climas ainda mais sombrios que os originais. Parecia ser o estágio terminal de um transe. Em tempos de um rock nacional muito comportado e pouco criativo, Edu K e seu Defalla mais uma vez chutaram o pau da barraca e tacaram fogo no circo. Estes veteranos dos anos 80, definitivamente, ainda têm muito o que dizer. Os textos só poderão ser
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