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CORNELIUS CM - FM (Matador) Por Alexandre Matias Não é difícil ouvir Fantasma, o primeiro disco ocidental do japonês Cornelius, e ficar impressionado. Afinal, o CD compila a história do pop mundial contada por um de seus fãs mais ávidos, de um ponto de vista não-cronológico e a bordo de um estúdio formidável. Desconstruía a canção popular das últimas cinco décadas como se pudesse reescrevê-la, usando tecnologia e tendências de ponta pra dar sua versão dessa história. E não foram apenas ouvintes comuns que deixaram o queixo cair ao som de Keygo Oyamada (seu verdadeiro nome). Vários músicos, gente de destaque no grande prêmio da música pop atual, cederam aos encantos caóticos do japonês. E, correndo, pediram para que ele remixasse algumas de suas músicas. Cornelius topou. Só pedia duas condições. A primeira era que o artista também remixasse uma faixa de seu disco de estréia neste lado do planeta. A outra era que ele deixasse que o japonês usasse as duas músicas, tanto o remix requisitado quanto o do requisitante, quando quisesse. O resultado está nos dois discos que ele lança agora em março. CM e FM são os dois lados desta nova moeda. CM (Cornelius reMixes) traz o japonês alucinando em cima de músicas do U.N.K.L.E., Buffalo Daughter, High Llamas, The Pastels, Coldcut e Money Mark. FM (Fantasma reMixes) traz estes - mais Damon Albarn, do Blur - remixando as músicas de Keygo. Se você já conhece o trabalho de Cornelius, o disco a ser procurado é FM. Ele começa com Money Mark - o João Fera dos Beastie Boys - metendo a mão na faixa de abertura de Fantasma. Só que Mic Check deixa de ser um devaneio lúdico sobre passagem de som pra se tornar um hip hop quase instrumental, pesado, grave e claustrofóbico. De leve, Sean OHagan (o cabeça dos High Llamas) tira apenas os pedaços que lhe interessam de The Micro Disneycal World Tour: um vocal, que logo transforma, num loop e uma série de ruídos elásticos. Derrama um banjo dedilhado sobre um chocalho e remonta outros vocais da mesma faixa. E, sem que percebamos, caímos no meio de um disco do High Llamas - usando apenas elementos do disco do japonês (com exceção do tal banjo e de outros vocais, do próprio Sean). Excelente. Os também japoneses Buffalo Daughter limpam a primeira parte
de New Music Machine, deixando apenas o vocal sossegado de Keygo patinar sobre uma
cadência marcada por um baixo e uma guitarra abafados. No meio da música, sons
sintéticos cobrem o mesmo vocal - mas tudo (inclusive a métrica original) é soterrado
no refrão por uma guitarra pesada. E assim, acrescentando pedaços aos poucos, vão
tocando uma bela versão pro original. Count 5 or 6 é distorcida pela parte cerebral do Pizzicato
Five, o DJ Konishi Yasuharu. A princípio a canção lembra o original, mas um tecladinho
sacana - tocando uma melodia de festa de aniversário em churrascaria - nos carrega pro
universo kitsch do grupo do DJ. Damon Albarn, do Blur, recria completamente Star Fruits
Surfer Rider - dando ênfase em um teclado que passa sem perceber na versão de Cornelius.
Logo o próprio Albarn entra cantando - com a voz grave e em falsete - e, aos poucos,
acrescenta elementos da faixa inicial. Até que, no meio da música, um vocoder avisa que
uma raça alienígena vem observando a terra através das imagens do Planeta dos Macacos
(de onde Cornelius tirou seu pseudônimo). Mas pra tirar dos seus ombros a fama de rechear músicas alheias com quilos e mais quilos de pedaços de música, ele nos dá Windy Hills, dos Pastels, que recebe tratamento de jóia, limpa e polida. Ela torna-se, no meio do caminho, Homespin Rerun, releitura delicada para a canção dos High Llamas, ganhando groove sem deixar perder o pique. Que lá pela metade de sua duração, pra não fugir à regra, recebe aquela quantidade de microarquivos de áudio que são característicos de Cornelius. As muitas faces de Cornelius - seja remixando e remixado - podem ser digeridas em qualquer ordem, uma vez que ele é o centro dos dois discos. Cabe a você decidir por onde começar. Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos
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