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PAIRANDO... Por Camilo Rocha O medo do novo! Como explicar o fato de que, no fim dos anos 90 existem pessoas letradas em fax, ocasionais surfistas da Internet, conhecedores de programas da TV a cabo, leitores periódicos dos grandes jornais e de pelo menos duas publicações estrangeiras (nem que só para ver as figuras...), capazes de entender as piadas "subliminares" do Beavis & Butthead, e que já cruzaram a linha do Equador de avião pelo menos vez na vida, com medo do novo?Bem-vindo ao mundo do formador de opinião pop brasileiro típico: ele pode ser um crítico de música escrevendo para um grande jornal, editor de uma revista "jovem", repórter de TV, responsável pela programação de uma emissora de clipes, locutor de rádio FM, gerente do internacional de uma gravadora qualquer. De qualquer jeito, ele é mais careta que seu pai. Afinal, seu pai provavelmente passou por e assimilou numa boa os Beatles. O formador pop brazuca, pois, acha o Oasis radical. O problema é a preguiça de pensar sozinho. Acostumados as toneladas de informação mastigadas despejadas no seu colo todo mês, aos releases amigos que trazem toda a ficha, as teorias prontas fornecidas pela imprensa estrangeira, o esforço mental do formador de opinião é mínimo. Aí um belo dia surge um fato novo fora dos esquemas habituais, algo que ninguém em nenhum lugar explicou direito. O formador se vê numa sinuca de bico. Suas alternativas são duas: se embananar todo ou olhar para o outro lado, apavorado, com a mão na boca. Esse medo é fácil de entender. O novo e inexplicado expõe cruelmente a incapacidade do formador pop local em: identificar um novo fenômeno e compreender esse fenômeno. E desvenda também sua caretice. Pronto, em dois tempos está desmascarada a farsa. O tal esperto, antenado, bem informado, no fundo, sabe tanto quanto o Itamar Franco sobre novas tendências. Uma das defesas mais comuns é desdenhar fenômenos novos como "modismos", afetação moderna, viadagem até. É um ponto de vista válido. Mas agora pense no coitado que em 62 menosprezou os Rolling Stones como um modismo, que esnobou os hippies em 67 como afetação ou que, em 76, achou que o punk (ou mesmo a discoteca) era uma trivialidade passageira. Bom, o seu equivalente em 98 está aí celebrando o novo ao vivo dos Stones, não para de se referir aos anos 60 como "loucura sem igual" e considera o Green Day um importante nome da atualidade. Enquanto isso, ignora solenemente em que veia do organismo pop da década bomba sangue quente. Só isso explica a revista Showbizz nunca ter publicado uma linha sobre a cena rave brasileira (enquanto até revistas como Exame VIP e Veja já trataram do assunto. Mas aí, claro, são jornalistas não-pop, "de verdade", que conhecem uma notícia quando vêem uma). Também esclarece porque a MTV prefere usar música eletrônica em vinhetas ao invés de clipes. O assunto só é abordado em suas manifestações mais pop, mais palatáveis: Prodigy, Chemical Brothers, Fatboy Slim etc. Que são devidamente tratados como a última palavra do subterrâneo, o grito radical do momento. Mas não é preciso ir tão fundo no underground para achar exemplos. Tome as rádios FMs de São Paulo: é quase impossível ouvir a música nova do Beastie Boys ou mesmo do George Michael! Nas FMs a situação é mais crítica do que em qualquer outro meio. A maior parte do que se ouve de rock e pop nas rádios é música velha. Dizem que é o que o público quer ouvir. Mas é claro, se eles não conhecem as coisas mais novas como é que vão pedir para ouví-las? Criou-se um monstro: a massa nostálgica. É comum meninas de 15 anos ligarem pedindo para ouvir Raul Seixas! Que é isso, elas deveriam estar pedindo Crystal Method! Camilo Rocha Os textos só poderão ser
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