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QUILÔMETRO ZERO Uma discussão vem se alastrando aos poucos pelo indie (vamos convencionar que indie se refira a tudo que se chame de independente, ok?) brasileiro e ganhando força à medida que gera mais polêmica. Num mercado cujas fábricas de CD ainda dão preferência a quem encomende mais unidades, deixando os pequenos sempre pra trás, a fita cassete se tornou a moeda de música, a unidade básica, a célula do organismo indie. Afinal de contas, é só gravar uma fita. Mesmo quem tem o mínimo de recurso consegue fazer isso, basta pendurar um microfone no teto da garagem e apertar o Rec e o Play ao mesmo tempo. Mas, uma vez gravada, uma fita pode ter diversas possibilidades de classificação - não de gênero ou formato, mas de função. Quando se pendura o microfone no teto, a idéia é registrar a banda. Capturar o ímpeto inicial, a energia dos primeiros encontros, a felicidade de se estar juntos musicalmente. Um gesto de desespero, como um pai que põe os filhos pra cantar em volta do microfone e flagrar pro resto da vida aquela vivacidade dos primeiros anos da infância. Bandas fazem isso pra se ouvir de fora, pra ver se são tão boas quanto parecem quando estão dentro dela. E, ocasionalmente, pra mostrar aos amigos. O segundo estágio é a fita demo. Demo, claro, vem de demonstração e serve como a resposta perfeita pra pergunta "como é a sua banda?". Você grava três ou quatro músicas, que dêem uma idéia de como é o conjunto, escreve o nome da banda, os integrantes e os nomes das músicas e manda praquele produtor que não sabe se vai te contratar, praquele zineiro que trabalha no escritório do seu batera, praquele dono de selo que queria saber como era o som. É o equivalente sonoro de um flyer, um resumo rápido do que vem por aí. Depois chegamos na fita de verdade. Quando se entra no estúdio disposto a gravar músicas para serem lançadas, com capa, tiragem e preço, quando poderia-se lançar um CD, caso as limitações do primeiro parágrafo insistam. Entre a demo e a fita existe um salto de evolução - a primeira existe pra mostrar o seu trabalho para quem não conhece, a segunda para registrar o mesmo para a posteridade. O mercado alternativo adotou o nome "demo" como uma possibilidade de criar-se um novo formato, um formato próprio do indie. Não era um disco nem uma fita, era uma demo. Mas o nome resvala no amadorismo subjulgado pelas grandes gravadoras e é assim mantido por elas para que a fita sempre seja vista como um subproduto, algo anterior ao processo criativo propriamente dito, um ensaio de existência. O que é mentira. Todo mundo sabe que uma banda pode ter toda sua obra resumida a fitas e que, para isso, estas fitas não são mais fitas demo. A partir do momento em que o artista produz um material em série ele não está mais querendo aprovação, ele quer aceitação. Por isso, o termo demo é inapto para descrever as fitas que são - mais uma vez - a célula básica do indie brasileiro. Mas existe outro problema nesta polêmica. Uma campanha iniciada à boca pequena mas que já tomou corpo e importância devido aos comentários gerais. A campanha - ainda não oficializada - pode ser mal interpretada por seu slogan. "Demo é o Cassete" quer recuperar a dignidade das fitas vendidas como fitas demo. A idéia da empreitada é abandonar de vez o termo "demo" e adotar a nomenclatura "cassete". A campanha pode até ser bem intencionada, mas não funciona. Abdicar de um termo de uso comum para adotar um termo sequer usado na conversação diária é como recomeçar a contar o calendário. É um processo difícil de ser aceito e que, para isso, deve ser imposto, forçado. Sem contar outro aspecto levantado pelo colaborador do 1999 e aspirante a publicitário (não resisti...) Gustavo Mini, que lembrou corretamente que uma campanha cujo slogan levanta a bandeira do que é contra é como uma propaganda da Coca-Cola que diz "não beba Pepsi". Prefiro adotar, sem impor, a nomenclatura "fita". Afinal de contas, é uma fita, ora bolas. Fica mais fácil de trocar de referência (toda vez que digito demo, volto algumas casas e reescrevo fita) e não é forçado, não parece militância, imposição. Afinal de contas, adere quem quer. Mas deixemos de trololó, como dizem nas novelas, e vamos ao cardápio desta edição de BR-116: - A gravadora Solaris e um Leão em PernambucoOutros Carnavais - Spencer disseca o pop baiano Por Fora do Eixo - Novidades de Brasília: Prot(o) e Rumbora Arroz com Pequi - . Loniplur-RJ - Flamengo, Dogma 95, Oasis, um carnaval solitário e Los Hermanos despontando no horizonte Das Margens do Tietê - Daúde num festival de música eletrônica? Distancity - Pupila, Old News, Total Fun e Kólica Leite Quente - Réplica curitibana ao colunista candango Londrina Chamando - Rodrigo Guedes lembra o antigo programa Ala Jovem e faz propaganda do seu, Outside. Os textos só
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