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ASIAN DUB FOUNDATION Rafi's Revenge (ffrr/PolyGram) Por Abonico R. Smith Não há quem não consiga escapar da fatídica pergunta disparada pela professora em nossos primeiros anos de vida escolar: o que você quer ser quando crescer? Médico, dentista, engenheiro, bailarina, jornalista ou mesmo jogador de futebol são respostas comuns dadas pelas crianças, muitas delas pegando as figuras paternas como o maior exemplo a ser seguido. Com o passar dos anos, vemos que os ideais de infância definitivamente não são bem aquilo que esperamos do futuro. Muitos acabam trocando de sonhos na adolescência. Pedem uma guitarra ou uma bateria para o pai e, exatamente na faixa etária onde se quer fazer o máximo de barulho para ser ouvido pelo mundo, acabam comunicando em alto e bom som para a família: "quero ser roqueiro". Pois bem. Roqueiro hoje virou sinônimo de profissão rentável - por falta de visão dos nossos executivos de gravadoras e meios de comunicação, no Brasil esta palavrinha antes maldita pode ser trocada por pagodeiro, sertanejo ou dançarina de grupo baiano. Depois de cinco décadas de rock'n'roll, o gênero virou caminho fácil para conquistar o status de bon vivant, Mansões, carros conversíveis, harém de mulheres ao redor e grana, muita grana para gastar despreocupadamente. Basta subir ao palco e empunhar uma guitarra para ter tudo aquilo que um emprego nove-às-seis com carteira assinada nunca proporcionaria. Toda esta ambição é apenas uma conseqüência das eficazes engrenagens que fazem funcionar as máquinas da indústria corporativista. Desde meados da década de 70, quando o planeta inteiro percebeu que rockstars poderiam gerar ilimitados milhões de dólares, grandes empresas invadiram o ramo musical para tomar conta do pedaço e faturar alto. Desde então, quase toda a história da música pop vem sendo milimetricamente calculada. São estrelas de proveta, movimentos de tubo de ensaio, atitudes e declarações projetadas para fazer decolar a carreira e vender discos. Sempre que surge algum foco de oposição a esta cronologia robótica, mártires são destruídos e incendiários são convencidos a, cedo ou tarde, virarem bombeiros. Foi assim com o punk (Clash, Sex Pistols), o indie rock americano da década passada (Hüsker Dü, R.E.M.) e seu filhote alternativo (Nirvana, Pearl Jam, Smashing Pumpkins, Hole, Beck). E o que, afinal, toda esta teoria tem a ver com este fantástico quinteto britânico, que vem arrebatando altos elogios e caindo no gosto dos habitantes da ilha com um excelente álbum? Antes de tudo, Rafi's Revenge é um disco gravado por cinco moleques que não planejam entrar para a história como marajás dos três acordes. Formado por jovens descendentes de indianos e paquistanes (os paquis são esmagadora maioria dos subúrbios londrinos de hoje em dia), o Asian Dub Foundation quer justamente remar contra a maré, cutucar a ferida e colocar os dedos nos olhos de quem só quer ver acomodação. As rajadas verborrágicas disparadas pelos vocalistas Chandrasonic, Dr Das e Deeder tratam sobre o indisfarçável preconceito sofrido pelos imigrantes asiáticos. Tal qual uma obra de outro conterrâneo", o escritor Hanif Kureishi (Dica do editor: o livro O Álbum Negro, disponível em português, é uma bárbara obra de Kureishi), o ADF reclama da realidade e promove afiadíssimos discursos contra a opressão social. "Free Satpal Ram" pede liberdade a um paqui que, em legítima defesa, matou um skinhead que iria assassiná-lo. "Assassin" fala sobre um assassinato político que serviu para levantar o orgulho do povo indiano. "Naxalite" saúda as tropas guerrilheiras do Rio Bengala do final dos anos 60. Pode-se até abrir um paralelo com o Clash, já que há duas décadas a banda de Joe Strummer e Mick Jones fez ecoar por todo o planeta a voz dos guetos negros nos arredores da capital inglesa. Rafi's Revenge (que, por sinal, saiu primeiro na França para meses depois ganhar o apadrinhamento do Primal Scream e, aí sim, encontrar um selo que o colocasse à venda na própria terra natal) não surpreende apenas pelo discurso que faz o pacifista Mahatma Gandhi se virar no túmulo - muitas das letras levam em conta a teoria do olho por olho e dente por dente e sustentam que a violência pode ser respondida com a mesma dose de violência.. O álbum que chega agora em versão nacional é uma grande conspiração antiburocrática. Quebrando toda a previsão de monotonia prevista pelas grandes corporações (quantas vezes você já não ouviu que o rock morreu, a saída é misturar ritmos ou o povo só quer saber do que já é passado?), Chandrasonic, Deeder, Dr Das, Pandit G e Sun-J também conquistam pela sonoridade. E que sonoridade!!! Unindo guitarras e baixos com samplers, programações eletrônicas, sintetizadores e equipamentos de DJ, o ADF consegue achar o ponto exato da fusão entre gêneros muito equivalentes em visceralidade. Exemplificações simplistas diriam que o grupo promove uma mistura homogênea de punk rock e drum'n'bass, mas as doze faixas também revelam outros ingredientes. Neste grande caldeirão se encontra hip hop hardcore ("Free Satpal Ram" e "Assassin" trazem boas doses de Beastie Boys), surf music (os riffs de guitarra de "Naxalite" e do hit "Buzzin'" são puro Dick Dale), reggae ("Hypocrite"), ragga ("Change"), dub ("Dub Mentality") pop (o na-na-na "Black And White" vai agradar em cheio aos fãs dos Carpenters), ambient/trance ("Tribute To John Stephens", "Charge") e alguns resquícios da música indiana tradicional ("Culture Move"). Asian Dub Foundation espalha pelo ar o cheiro de uma nova revolução. Tão perigosa quanto for a incompetência dos tentáculos do sistema em identificá-la, absorvê-la e incorporá-la. Os textos só poderão ser
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