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Se você quiser escrever para o 1999 sobre QUALQUER coisa que tenha a ver com música (um show legal que você viu, um carinha que você conseguiu entrevistar, um disco que você queria mostrar pras outras pessoas, qualquer tipo de teoria, contar qualquer parte da história do rock), basta escrever para a gente.

13.OUT.1999

P&R
MV BILL
Por Rodrigo Browne

Duas vans lotadas de jornalistas seguem para Jacarepaguá, zona oeste carioca. Destino: Cidade de Deus. Um antigo conjunto habitacional que se transformou numa das favelas mais perigosas do Rio de Janeiro, que hoje reúne uma população com mais de 120 mil habitantes. Na entrada do pequeno morro foguetes doze tiros de canhão anunciavam que a área estava "liberada". Os foguetes fazem parte de um código local e avisam aos traficantes que o pessoal que estava chegando era "limpeza". Logo depois da birosca "Covil da Onça" deu para avistar o CIEP (popularmente conhecido como Brizolão) Luís Carlos Prestes, também conhecido como "O Cavaleiro da Esperança". A entrevista foi realizada ali dentro, na cantina da escola. Várias cadeiras escolares foram arrumadas em forma de arco para a imprensa nacional. No lugar da flecha estava MV Bill. O nome verdadeiro ele não revela. Um artista que canta as mazelas de sua comunidade. Apesar de estar vestido como um rapper americano, com direito a boné e correntes douradas, Bill se revelou um artista consciente da realidade brasileira e, principalmente, se mostrou absolutamente sincero em todas as declarações. Durante a entrevista que durou quase duas horas, ele falou sobre tudo o que lhe foi perguntado, sem desviar de nenhum assunto. Foi o mais direto possível em todas as suas respostas. A impressão final é que está surgindo um grande artista na música brasileira de apenas 25 anos, segundo grau incompleto e com orgulho de ser favelado. Leia a seguir os principais momentos desta coletiva realizada, a
pedidos de MV Bill, no seu próprio "território".

Como surgiu o nome MV Bill?
Bill é um apelido de infância, "M" vem de mensageiro e "V" de verdade. Eu criei esse termo para se diferenciar de MC, que pode significar mestre de cerimônia ou mic control [controle de microfone, em português]. Isso todo mundo usa e ficou fácil demais.

Antes de se tornar músico você trabalhava?
Sim, já fui guardador de carros, trabalhei em banca de jornal e carregando compras de madame. Eu estudei até o primeiro ano do segundo grau e larguei. Antes eu achava que o cara que completasse o segundo grau seria o cara mais inteligente do mundo. Descobri que com estudos mas sem a sabedoria das
ruas, tudo o que se aprende não vale nada.

Como surgiu seu interesse no rap?
Foi com o filme Colors -  As Cores da Violência, que era sobre gangues. Pela primeira vez escutei o termo rap que, traduzido, é ritmo e poesia. Ouvindo as letras eu descobri que o rap nasceu do caos. Como aqui no Brasil eu nasci na guerra e faço parte dela até hoje, a minha identificação foi imediata. E preferi falar da minha realidade das coisas que eu vejo e a verdade que me cerca.

Suas letras se enquadram na categoria gangsta rap?
Para mim o gangsta rap é mais uma fantasia do que um movimento. Tinha um grupo NWA [Niggaz With Attitude], que foram os primeiros a serem chamados gangsta rap. Eles falavam da ação policial, drogas, violência e por isso foram chamados de "rap dos bandidos". Isso acabou virando um modismo. Hoje todo mundo quer ser gangsta rap, já que o rap político não vendia mais.

Qual o grupo que mais te influenciou no rap?
O Public Enemy. As declarações do vocalista Chuck D têm um pensamento bem parecido com o meu. Parece que ele fala dos Estados Unidos mas vive no Brasil.

"Um Crioulo Com Uma Arma" e "Contraste Social" são músicas que contam um pouco de sua história?
Tudo isso passa bem perto do que eu já passei. Todas as pessoas que nascem aqui dentro são, de alguma forma, ligados ao tráfico de drogas. Seja criança ou dona-de-casa. Assim a gente acaba se envolvendo até mais do que devia. Mas graças a Deus isso faz parte do passado. Infelizmente eu me inspiro nas coisas que eu vejo na minha comunidade, que tem mais coisas ruins que boas. Todas as histórias que eu canto são verídicas. Algumas aconteceram comigo, outras com pessoas próximas ou eu vi acontecer.

Você não revela seu nome verdadeiro por problemas no passado. O que aconteceu?
O que eu posso dizer é que não sou fichado na polícia, mas não posso liberar meu nome verdadeiro e por enquanto não posso sair tranquilo da Cidade de Deus. Existem pessoas que não gostam de esquecer o que aconteceu. Quando as coisas ficarem mais claras, um dia eu vou poder sair normalmente sem ter medo de levar bote de ninguém ou ser condenado pelo meu passado.

Ganhando uma grana com seus shows e com a venda dos discos dá para sair da favela. Você pensa em fazer isso?
A maioria da pessoas que moram aqui não gosta de ser favelado. A favela não precisa de poesia, precisa de justiça e igualdade. Ninguém aqui quer ser superior a ninguém, só quer ser igual, ter os mesmos direitos que todo mundo. Eu pretendo continuar morando aqui por uma questão de identificação.

Participar do Free Jazz significa atingir um público que nunca tinha te ouvido. Você tem alguma expectativa para o seu show no festival?
Eu nunca fiz um show contando com a reação do público. No Free Jazz não vai ser diferente. Essa é uma grande oportunidade de mostrar que quem está indo para o Free Jazz não é só o MV Bill: sou eu e todas as favelas do Brasil.

O que você achou da declaração do Mano Brown, que incentivou o sequestro de jogadores de futebol?
O Mano Brown é meu parceiro particular e explicou que não deu essa entrevista para o repórter da Trip. Ele me disse que estava falando com o Jofrin, que é o Folha Negra, lutador de boxe, patrocinado por ele. O repórter ouviu a conversa e transformou aquilo como se fosse uma entrevista. Pela música dos Racionais eu sei que ele não incentivaria o seqüestro do Ronaldinho ou de qualquer outra pessoa. Agora eu concordo com ele em 90%. Só discordo da questão do seqüestro. Porque tem  muito cara que está no pagode, no rap, no futebol que sai da favela e falam que quando aparecer na televisão vão denunciar a nossa realidade. Mas na hora que pode ele já está com o bolso cheio de dinheiro, carro importado, uma loura do lado e mora na Zona Sul, acha que essa obrigação não é mais dele, é do favelado.

Nas favelas é cada vez mais comum o "alistamento" de crianças para trabalhar no tráfico de drogas. Existe solução para acabar com isso?
Acho que o crime seduz a cada momento como a televisão. Todo mundo aprende a ser escravo do consumo. Na favela, quando você é moleque passa muita vontade. O jovem está condicionado a não aceitar o padrão de vida que foi colocado para ele. Ou seja, tem que estudar para no futuro ter um bom emprego e poder comprar as coisas que deseja.

Essa não é a saída certa?
É, mas a televisão mostra que a gente tem que ter a coisa imediata, independente da forma que se consiga o dinheiro. O trafico seduz, oferece poder e ostentação. Muitos vão por ingenuidade, ignorância, dinheiro, falta de opção ou perspectiva para o futuro. Infelizmente a escola ficou desacreditada. Ninguém acredita no futuro através da escola.

Mas isso não aumenta a escalada da violência?
A violência só passou a ser um problema quando saiu do gueto. Enquanto estava na favela ninguém ligava. Quando o sangue que decorava o chão da favela começou a descer o morro e bater na porta dos bacanas do asfalto, aí sim, a violência passou a ser um problema. Quando o seqüestro virou moda, quando começaram a bater em playboy na porta de shopping, quando o arrastão saiu de dentro do baile e invadiu as praias do Rio de Janeiro, aí a violência passou a ser um problema.

O rap oferece a solução?
O rap tem o poder de salvar. Mostrar e dar um direcionamento positivo para as pessoas, assim como deu para mim. Mostrar que nem tudo está perdido e entregue ao gatilho. O rap ao lado do funk, pagode e futebol, está salvando vários jovens. Basta ter força de vontade. À medida em que a auto-estima for recuperada, as coisas podem melhorar.

E as campanhas pela paz, pelo desarmamento?
Isso é demagogia. Trocar armas por brinquedos? É muita hipocrisia dizer que várias armas foram trocadas por brinquedos. Quando você vai olhar a arma só tem 22 enferrujada, 32 e, no máximo, um 38 velho. Ninguém bota lá um fuzil G3, uma AR15, ou H47, ninguém coloca isso nunca lá. A única defesa que a favela tem, infelizmente, é o tráfico. Este é o poder paralelo.

Você acredita na política?
Não dá para se afastar dela. Se a gente correr da política, acaba entregando o ouro aos verdadeiros bandidos. Para mim, hoje o político acaba sendo escolhido pelo candidato "menos pior". Enquanto os políticos não mudarem a situação e continuarem fazendo o que fazem com a população, estarão alimentando um grande monstro chamado revolução, que pode acontecer a qualquer momento. Por enquanto o povo está agonizando na favela. Quando eles voltarem as armas para o lado certo, para o lado dos culpados pela situação de miséria, isso vai mudar.

Como seria esta revolução?
Não sou Nostradamus para prever isso. Ela pode ser através do voto ou da violência. Neste caso, vai ter derramamento de sangue. Quero deixar claro que sou a favor da paz. Mas se a guerra for inevitável, que Deus ore por nós.

Thee Butchers' Orchestra
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Flaming Lips
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WICKED, MATE - 90 (de Londres)

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Plebe Rude
Wilco
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Divine
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Mocket
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Fatboy Slim
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Amon Tobin
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Sepultura
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