O tremor do renascimento do rock brasileiro ainda não pode
ser sentido pela maioria, mas os ponteiros dos sismógrafos já estão balançando.
Primeiro foi o lançamento do disco do Los Hermanos que começa, pelas beiradas, a mostrar
a que veio. O segundo está acontecendo agora, depois que o empresário dos Autoramas,
Leonardo Rivera, emplacar o selo Astronauta dentro da gravadora Universal. O primeiro
lançamento é, e não poderia deixar de ser, justamente os Autoramas, uma banda pronta
para conquistar o país.
O trio carioca é conhecido pela formação estelar: na guitarra e vocal, Gabriel
Thomaz, ex-cabeça do finado Little Quail & the Mad Birds; no baixo, Simone do Vale,
ex-Dash; e na bateria Bacalhau, ex-Planet Hemp. Mas se celebridade fosse quesito pra
qualidade, a Caras seria uma revista pra ler: a base dos Autoramas é a mesma do Little
Quail - grandes canções, refrões certeiros, peso na medida -, mesmo porque a maioria
das músicas é composta por Gabriel e tanto Simone quanto Bacalhau são fãs do LQ.
O resultado é pop guitarreiro com tempero de surf music e um distinto baixo com
distorção já copiado por algumas bandas novas. O trio de canções que compõe a única
e já clássica fita do grupo (Eu Não Morri, Catchy Chorus e Tudo Errado) é só um
aperitivo para o CD, que será produzido por Carlo Bartolini (ex-Ultraje, que produziu
Ira!, Concreteness, e Sheik Tosado) e deve ver a luz do dia no fim de janeiro do ano que
vem: "Todas as músicas que o pessoal conhece dos shows vão entrar (Ex-Amigo,
Carinha Triste, Fale Mal de Mim, Souvenir), menos Motorcross e Bahamas, que vão sair em
7 via Monstro Discos (gravadora independente de Goiânia)", conta Simone
ao Trabalho Sujo. O grupo ainda não tem idéia do nome do disco que não tem "nem
participações especiais, nem surpresas", indo direto ao ponto -
rocknroll.
Rocknroll também é o assunto do Astronauta Discos, selo tocado por
Leonardo Rivera: "Ele nasce com este perfil rock on e pretendo
respeitá-lo por enquanto", explica o diretor artístico "o que não significa
que seu conceito não seja mutante. O próprio rock é mutante, não é mesmo?".
Rivera, que já escreveu em revistas e tocava a coluna Tangerina (dedicada às bandas
novas) no jornal carioca International Magazine, vê com bons olhos o renascimento do rock
no mercado: "É sintoma de mudança na cabeça dos consumidores de música, em
especial a galera da minha faixa etária, dos vinte e poucos", teoriza, "a
maturidade sempre vem um dia (risos). O rock é a base de toda a juventude". Para
mandar material para o Astronauta, escreva para Caixa Postal 34141. Rio de Janeiro-RJ. CEP
22462-970 Ele não tem medo da euforia do começo da década repetir-se, quando as bandas
assinavam com gravadoras, à procura do dito rock alternativo, e achavam que bastava
esperar os discos venderem sozinhos. "Acho que quem assina um selo com uma grande
gravadora não deve ter na cabeça que está tudo resolvido, que agora vai dar tudo certo.
Tem que trabalhar muito", conta Rivera.
Profissionalismo também é o segredo dos Autoramas: "A gente se diverte sendo
profissional, temos muito prazer no que fazemos e felicidade é isso", brinca a
baixista. Ela enfatiza seriedade e disposição pra trabalhar como fundamentais pro rock
independente nacional: "A única saída pro indie nacional é o profissionalismo. Por
que o Traidores, o Midsummer Madness e a Ordinary, por exemplo, funcionam e outros selos
independentes não? Tem que trabalhar direito, não adianta ficar reclamando sem correr
atrás e caprichar nas gravações, nos shows, na divulgação".