Fábrica de Marajás
Temos questionado os Conselhos
de Escola baseados em nossa experiência e nos relatos de pais denunciando que
não representam de fato a comunidade no segmento pais e alunos. Que os pais são
ingênuos, ou então entram, não concordam e saem calados, pois têm medo da
repressão que seus filhos possam sofrer. Pais conscientes que insistem e são
expulsos. Pais que gostariam de participar de um Conselho de Escola sério. Não
é mais um fato que se possa alegar ignorância. Conselho de Escola precisa
mudar.
Para nossa surpresa aparece um
vereador e apresenta um projeto de lei onde através do Conselho de Escola, ele
faz presente da escola municipal para os diretores. Faz cortesia com o chapéu
do povo.
Do jeito que está é ruim, as
verbas que são repassadas para a escola são mal gastas, os pais reclamam. As
escolas são miseráveis. O Vereador quer toda a verba na mão das diretoras,
diretamente. Dá para a direção da escola plenos poderes, ela fica dona da
escola. Pode até alugar o prédio para outras atividades além do ensino. Fora do
ensino, fora de atividades culturais. Para quê as diretoras alugariam o prédio
da escola (artigo 7, parágrafo V)?
A diretora pode contratar
funcionário para a secretaria. Pode contratar professores de informática.
Lembramos que a prefeitura formou 28.000 professores em informática. Não
sabemos de nenhum aluno que tenha feito curso de informática na escola. Um
curso como os professores fizeram, completo. Os alunos ficaram sem aula e
professores estudando informática. No projeto lei a diretora vai contratar
professores de fora. Sendo ela dona escola, vai cobrar mensalidade dos cursos!
A diretora eleita pelo Conselho
de Escola vai criar o cargo e nomear Diretor, Assistente de Direção Cultural.
Diretor de escola e Diretor de cultura com seus respectivos assistentes. Cargos
que certamente custarão uma fortuna. Os dois diretores para quê? Lembrando que
os professores indicam, o diretor nomeia. Será uma cadeia de favores entre os
professores e diretores. Vão ser criados cargos novos e as verbas serão
suficientes porque a escola receberá 30% da arrecadação do município. Verba da
FUNDEF, Fundo de Manutenção, Fundo para a Valorização do Magistério, Programa
de Alimentação, Quota e Salário Educação. Uma montanha de dinheiro.
O mais triste é saber que esse
mundo de dinheiro vai para a escola. A diretora vai criar novos cargos
regiamente remunerados e que só ficarão nos cargos 2 anos. Saem com o salário e
voltam para seus lugares de origem. Entram outros no lugar. Sai um porco bem
gordo e entra um magrinho no lugar. Um não, um monte. Sai os diretores e
assistentes. Nova eleição. Novos diretores. Os diretores concursados podem sair
com seus salários nababescas e dar lugar para os novos. Em pouco tempo a escola
será a mais eficiente fábrica de Marajás do município.
Imagine a folia, a orgia. Sem
ninguém para cobrar.
Hoje um diretor de escola
estadual que ganha menos que um diretor de escola municipal receberá um abono
de R$ 3.500,00. Se o abono foi esse, imagine o salário dele.
Para que nenhum membro da
comunidade se aventure em investigar o projeto de lei do Vereador Vicente
Cândido, previna-se, na eleição só podem entrar pais ajie tenham filhos na
escola, ou o próprio aluno. Vai ser o de sempre, sem nada de novo. Os pais não
vão fazer parte disso, vão se omitir para proteger seus filhos. A eleição vai
ficar mesmo na panelinha da escola. Como é um rio de dinheiro, o vereador no
projeto de lei ainda se ampara: haverá até uma Lista (art. 27 e 28) - com os
nomes dos pais de alunos e professores, só os convidados da “festa podre”.
Não será permitida a
participação de pessoas estranhas à comunidade de escolas. Ocorre, porém, que
para ser enviada essa fortuna para a escola, todos pagam. Mesmo quem nunca teve
filhos em escola pública.
Com essa onda de moralização,
esse projeto de lei parece uma agressão tão covarde que a gente não sabe se
batiza como “Fábrica de Marajás’, “Festa Podre” ou “Cortesia com Chapéu do
Povo”.
S. Paulo, 15/01/2001
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