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Tenho que admitir...
Tenho que admitir, que exijo demais... Quero coisas impossíveis.
Quero, ao fim do dia, encontrar meu amor, pegar um ônibus juntos
e abraçados, conversar de como foi o dia, ele me dizer o quanto
fez, eu dizer o quanto ele fez falta... e chegando em casa, passar antes
na padaria, comprar pão pro café de amanhã e caminhar
abraçados até o nosso portão, onde a gente entra e
está em casa... A vontade... se abraça e toma banho junto,
se ama e depois, sempre junto, faz comida e come, arruma a cozinha, se
senta prá ver TV e ele cansado, cochila no meu colo. Eu o admiro,
observo e amo olhar prá ele. Ele acorda e diz, vamos dormir? E aí,
vamos junto prá cama, mas o sono some, quando ele me abraça
e me diz "eu quero você". Suas mão percorrem meu corpo, num
caminho que ele sabe de cor, mas que cada vez parece redescobrir e sem
pressa, sinto cada toque, cada gesto, sinto a respiração
se alterar e murmuro, quase em prece "eu te amo". Me perco nele e ele em
mim. A cada centímetro de pele dele medido com meus lábios,
o sinto crescer... e me arrepio ante a expectativa do que sei que está
por vir e que adoro tanto. Meu homem, meu dono, meu amor, me possui pelo
toque, pelo cheiro, pela maneira com que me abraça, firmeza com
que me segura e me invade, segurança com que me dá o maior
prazer que há no mundo. Me sinto linda em seus braços. Me
sinto amada. Me sinto especial... E quando, sem mais conseguir conter,
explodimos na energia que faz surgir a vida, sinto seu peso em mim. Seu
arfar, seu suor, sinto-o enfim, dono de mim. Adormecemos abraçados,
num sono seguro e calmo dos que amam.
Despertamos com o dia, alegres, juntos...
e ele é cada hora mais bonito, porque é nessa hora, no despertar,
que ele é meu menino. Carinha de sono, barba por fazer, cabelo em
desalinho... Como ele é lindo! Banho, rotinas matinais... O café,
que ele não toma, mas faz porque eu gosto do dele, o leite que eu
não bebo, mas preparo p/ ele, para que fique sempre saudável,
forte, firme, porque preciso dele prá me cuidar e preciso dele prá
eu cuidar... O cheiro de "bom dia amor", da barba feita, do banho tomado....
Vamos embora? Tá na hora, amor. E lá vamos nós, para
a pior hora do dia, hora em que eu o deixo ir prá vida. Como sinto
saudades... Enquanto trabalho, ele mora na minha cabeça e a noite,
quando nos reencontramos, ouço-o dizer, como esse dia demorou a
passar, como senti falta de você...
Coisas demais eu quero...
Aos fins de semana, ficar até mais
tarde na cama... e brincar de não fazer nada, porque estar ali é
mais que tudo. Depois sair, caminhar juntos, sentir a brisa no corpo e
ele ao lado. mãos dadas, como que prá juntar mais o que não
se separa. Ele mostra uma flor, que sabe que eu gosto e diz que o cheiro
dela não se compara ao meu... eu, envergonhada e feliz, sinto verdade
no que ele diz...
Caminhamos em silêncio, apenas o toque das mãos diz tudo o
que é necessário. Rotinas chatas a cumprir, vamos ao mercado,
juntos escolhemos o que se pode ou não levar e planjamos o futuro
próximo... a tarde, nos sentamos para fazer contas e nos chatear
ao constatar que "ainda não dá"... prá logo depois
nos alegrar com "mês que vem vai dar"... e decidimos juntos, que
vamos ficar mais em casa... afinal, aqui, em nossa casa temos um ao outro,
que mais queremos? Nada....
Á noite, vemos amigos... eles nos
dizem o quanto estamos sumidos, nós rimos, com vontade de dizer
que já temos tudo que nos basta, e que, de verdade, não notamos
falta de nada mas as pessoas não entenderiam, então dizemos
coisas banais, como "é o trabalho", a vida, e trocamos olhares,
que só nós compreendemos... Nós nos temos, há
mais alguma coisa que importe? Mas eles não entenderiam, ou pior,
nos invejariam... guardamos nosso segredo só prá nós.
Domingo, dia de visitar pais... os meus, os seus... A cada lugar que chegamos,
sempre juntos, ouvimos comentários de como somos bobos e de como
conseguimos suportar ficar tanto junto... Suportar? Como? Eu jamais suportaria
era ficar sem ela, você responde e seus amigos riem... Provavelmente
de inveja, porque não há quem não queira o mesmo.
Sim eu exijo demais... isso não existe...
Jamais serei especial assim prá alguém. Jamais terei esse
sonho em forma de verdade, embora, eu desse tudo que possuo por isso.
Lírios
Oi amigo,
Eu não vou perguntar se está
tudo bem contigo, pois eu sei que não está. E isso me entristece
muito. Queria que você estivesse feliz, plenamente feliz, curtindo
intensamente uma alegria quase infantil de saber-se vivo e presente, importante
e confiante, cheio de planos para o futuro e com ânimo e energia
para as tuas realizações.
Mas, não é esse o teu caso. Você está triste,
muito triste. Acabrunhado, desesperançado, descrente de ti mesmo
e mais ainda do mundo que te virou as costas. E você se pergunta
pela milésima vez: por quê justo comigo? Por quê eu
fui tão burro? Por quê eu fui tão leviano, por quê,
por quê, por quê?
Vejo a lágrima caindo de teus olhos,
lenta e contínua, como uma pequena nascente que se torna um ribeirão,
desaguando por fim num choro convulsivo, soluçado, desesperado,
de compaixão e de ódio, de amor e desprezo pelo ser humano
mais importante da face da terra: você mesmo.
Você, ser único e insubstituível,
você, ser individual e sensível, você, ser humano entre
outros seres que também se esforçam em ser humanos, você,
enfim, que procura um amparo e um conforto, um recanto de paz e harmonia
para a sua própria sublimação, você é
a pessoa mais importante que existe.
Vejo o teu ar de surpresa, olhando-me com
muito desgosto através de uma visão prejudicada pelas lágrimas
que ainda estão a rolar. Pergunta-me o amigo, com ar de ironia e
descaso: você enlouqueceu? Como você ousa falar uma asnice
tão grande? Eu sou o fim, eu sou o nada, eu sou o lixo do mundo
e a isso você quer chamar a pessoa mais importante que existe?
E eu lhe respondo apenas com um sorriso,
um meio-sorriso, um arremedo de sorriso e lhe estendo um branco lírio
do campo, como presente de minhalma para o teu coração sofrido
e combalido, ávido de um carinho de fé e de esperança.
Meu amigo, olhe bem para esse lírio do
campo, que não tece e nem fia, que não fala nem escreve,
que não declama e menos ainda reclama e ouça a mensagem singela
que ele tem a te oferecer.
Olhe fixamente para o lírio do campo, deixe-se envolver pela sua
beleza, pela sua cor, pelos seus pequeninos detalhes tão insignificantes
e sinta em teu rosto o carinho sem igual que esse pobre lírio do
campo, sem tecer e nem fiar, lhe oferece sem esperar nenhuma retribuição.
Deixe-se levar por esse solitário lírio
do campo para junto da nascente onde crescem frondosas árvores te
abençoando com um verdor refrescante que soa como um hino de amor.
Sinta as picadas dos insetos, observe o voar das borboletas, rasteiras
e sorrateiras, pousando de galho em galho e não se fixando em nenhum.
Respire fundo, bem fundo e sinta os perfumes da natureza que em nenhum
vidro, por mais caro que seja, você vai encontrar. Deixe que teus
ouvidos sejam invadidos pelos sons dos pássaros, um tititi diferente
do outro, deixe-se levar por um deles no vôo mais sereno e calmo,
mais amplo e infinito do que qualquer nave ou aeronave construída
por humanas mãos poderia te transportar.
Olhe para esse céu azul, para esse
sol tropical e deixe a tua pele, poro por poro, ser envolvida por esse
carinho tão grande, tão profundo, tão fantástico
que te transporta a um orgasmo extático, completo e absoluto, que
você nunca imaginou existir.
E, dentro dessa plenitude de sentimentos, olhe
singelamente para o lírio do campo na tua mão. Essa mão
única, essa mão perfeita em sua imperfeição,
essa mão com apenas cinco dedos, totalmente desiguais, um mais comprido
do que o outro, um mais fino, outro mais grosso, um mais roliço,
outro mais chato, essa mão que é tua, meu amigo, toda tua
e de mais ninguém.
Converse com a tua mão imperfeita, de cinco dedos apenas e pergunte-lhe
o que ela tem a te oferecer. E o sorriso se alarga, e o carinho se amplia
e você começa a perceber que a pessoa mais importante que
existe é você. Apenas você.
Você, meu amigo, está nesse momento vivo e tem um presente
tão grande em tuas mãos que basta um pouquinho de paciência,
bem pouquinho, e você saberá o que dele fazer.
Você, só você, a pessoa mais importante que existe,
sabe o que fazer desse presente, dessa eterninadade que é o teu
próprio viver.
O futuro? Que importa, que interessa? O
lírio do campo que não tece e nem fia também não
pergunta pelo amanhã. O que importa é sempre o presente,
esse presente sem igual, esse presente único e grandioso, imenso
e precioso, esse presente eterno que esquecemos de viver.
Não se pergunte do passado e não
se pergunte do futuro. São mentirosos, enganosos e fazem sofrer.
O passado por ser irremediável e o futuro por ser incerto. Mas o
presente, esse é lindo, esse é maravilhoso, esse é
a natureza em festa lhe desejando sempre o melhor, mesmo através
dos raios e trovões de uma imensa tempestade.
Meu amigo, esse é o presente que Deus te deu. Curta-o intensamente,
ele é teu, somente teu, a pessoa mais importante que existe: você
mesmo.
Um beijo e um abraço do fundo do
meu coração anônimo...
"Olhai os lírios do campo que não tecem e nem fiam. Porém,
nem Salomão, com toda sua riqueza e sabedoria algum dia conseguiu
se vestir com tanta majestade." (Mateus 6:28-29)
Renê - rene@lexxa.com.br

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