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Ednilsom Montanhole

Arquivo X: A Resposta para o Mistério está aqui

Arquivo X: A Resposta para o Mistério está aqui

Alessandra Sanches Kafka

Fernando Henrique Alves Gargantini

Rui Luiz Ferreira Granado

Yeis da Silva de Lima

Trabalho Orientado pela Professora Rosemeire de Castro Fernandes

São Bernardo do Campo, 1996

Obs.: Não foram atualizados os dados presentes neste trabalho.

"Há uma quinta dimensão além daquelas conhecidas pelo homem. É uma dimensão tão vasta quanto o espaço e tão desprovida de tempo quanto o infinito. É o espaço intermediário entre a luz e a sombra, entre a ciência e a superstição; e se encontra entre o abismo dos temores do homem e o cume dos seus conhecimentos. É a dimensão da fantasia. Uma região Além da Imaginação."

(narração de abertura da série The Twilight Zone, coordenada por Rod Serling,

na versão exibida no Brasil)

Introdução: Através de uma análise qualitativa, pretendemos dar resposta a nossa dúvida: está a série Arquivo X fazendo sucesso devido a sua estrutura? Para que tal ocorra, analisaremos o episódio intitulado "O Ser do Espaço". Como hipótese, o fato de que as pessoas sentem-se atraídas pelo Arquivo X não somente pelas suas histórias, mas também pela maneira como elas são contadas.

A) Estruturação do Trabalho:

  • Capítulo 1: bases teóricas. Como não encontramos nenhuma outra pesquisa, fizemos um pequeno resumo do livro de Ciro Marcondes Filho intitulado : "Televisão: a Vida pelo Vídeo" (vide bibliografia).
  • Capítulo 2: Neste capítulo, discutiremos o que é ficção-científica.
  • Capítulo 3: Há uma pequena história sobre os seriados, os mais assistidos na televisão brasileira e a evolução de sua estrutura.
  • Capítulo 4: Neste capítulo há um pequeno resumo sobre a história da programação da TV brasileira e como, desde cedo, ela foi invadida por seriado americanos.
  • Capítulo 5: Histórico sobre a série Arquivo X e análise do episódio escolhido.
  • Considerações Finais: Se algo ficou de fora do trabalho ou não foi possível encaixar durante sua feitura, as consideraçoes finais servirão para isso.
  • Conclusão.
  • Bibliografia: Nessa parte do trabalho, haver dois sub-itens: a bibliografia consultada pela equipe e uma outra para possível para a consulta do leitor.

Cap. 1: "Televisão: A Vida pelo Vídeo"

"A televisão, ainda jovem, é um aparelho que atende as necessidades humanas muito antigas, que em outras épocas foram, bem ou mal, atendida por outros meios. Há 100 anos, os trabalhadores e as trabalhadoras satisfaziam suas fantasias com romances populares, vendido aos milhões para a população de baixa renda. Esses livretos apaixonavam as pessoas, faziam-nas sonhar, fabricavam, enfim, sensações de ansiedade e prazer.

E por que precisamos dessas coisas? A resposta pode estar na questão da fantasia.

As pessoas vivem normalmente em dois mundos. Um deles ‚ o das coisas práticas: o trabalho que se tem que fazer, fora ou dentro de casa, os lugares onde se precisa ir, as compras indispensáveis e ainda outras coisas que se reúnem sob o rótulo de obrigações. Além destas, existem as obrigações espirituais (definidas pela crença de cada um), obrigações sociais (casamentos, festas de aniversário, comemorações), obrigações cívicas etc. É o mundo das normas, compromissos e participações, que não foi criado por você nem por alguém determinado, mas que sempre existiu. "As pessoas" o criaram.

Ao lado desse mundo, há um outro, o da fantasia. É puramente mental, interno, subjetivo. Nele nos entregamos aos sonhos; ‚ praticamente ele que move o outro. Até as grandes revoluções sociais foram realizadas porque se aspirava a implantação de uma nova sociedade que, mesmo antes de ser criada, já estava na fantasia e na imaginação dos revolucionários. Melhor dizendo, vivemos, suportamos nossas vidas, temos sonhos, expectativas, desejos, porque temos esperança de que coisas melhores aconteçam". (FILHO;1992: 07)

A televisão, então, passaria a funcionar como uma válvula de escape para nossos anseios, muitas vezes frustrados. Nós acabamos encontrando nela uma amiga, uma aliada capaz de realizar nossos sonhos mais íntimos e secretos.

Mais e mais somos hipnotizados por suas cores, suas luzes. Nossa amiga, então, se transforma em nossa companheira. É com ela que iremos discutir tudo o que deu errado na nossa vida: basta apertar um botão e pronto, nossas frustrações se realizam e no dia seguinte temos mais um motivo para sermos felizes.

Esquecemos, enquanto isso, nossa realidade. Ficamos sós nesse mundo de ilusão e nem nos damos conta. A passividade vem chegando devagarinho, nos transformando em massas, em pessoas uniformes, sem desejos e sem vontades próprias. Deixamos de viver nossa vida para viver a vida da televisão, nessas horas já transformada em amante. Essa impressão de vivermos os fatos ganha mais ênfase e nossa vida, nossa pobre vida, é jogada de lado...

Cap. 2: Ficção-Científica: A Épica de muitas Épocas

Ao longo de sua história, o homem sempre se deparou com situações que o fizeram refletir sobre sua própria existência. A eterna busca por respostas como quem somos?, onde estamos? e para onde vamos?, proporcionou-lhe o desejo de romper a barreira entre o real e o imaginário, consecutivamente despertou-lhe algo mais profundo: o poder criativo de sua imaginação.

A preocupação em saber o que estaria oculto atrás da porta do futuro seria o maior desafio a ser vencido, pois nenhum mortal, até então, teria conseguido tal façanha. Para o homem, o futuro estaria no céu, perto dos deuses; este seria o primeiro passo a ser conquistado. Havia um porém: para chegar mais perto dos deuses, o homem precisaria de asas. Como tal privilégio não lhe foi concedido, o homem foi mais além, utilizou-se da sua maior virtude, ou seja, a capacidade de pensar de acordo com as suas próprias necessidades, criando universos mágicos, descobrindo tesouros fabulosos, criando heróis que personificaram os seus ideais, e acima de tudo viajar pelo universo em busca de novos mundos a serem conquistados.

Baseada nesses ideais surgiu a ficção-científica, uma tentativa de explicação para as respostas que o homem tanto procurava. Trata-se de um gênero literário que integra as forças de transformação científica-social. Preocupa-se com a crítica, extensão, revisão e revolução deliberada, em oposição a toda concepção estética da ciência. Seu objetivo é acelerar o movimento em direção a uma nova imagem do mundo, mais fiel a realidade e mais próxima da natureza das coisas. "É um ramo da fantasia, distinto da ficção realista. Mas, o que a diferencia do fantástico é a exclusão da mágica e do sobrenatural, substituídos pela ciência, recurso para tornar a estória acreditável" ( O Estado de São Paulo; 1985: 6).

A ficção-científica é também regida por suas próprias leis. Situada na vanguarda da investigação, ela reproduz os progressos alcançados pela ciência e as vezes chega mesmo a antecipá-la. A explosão científica do século passado habituou-nos a identificar a ficção-científica com o moderno, o novo, o mais projetado para o futuro que existe em matéria de imaginação. "No seu sentido mais amplo de imaginação, de devaneio criador que prefigura a realização científica, a ficção-científica, que se serve, como os mitos do velho sonho do homem de dominar a natureza e é tão antiga quanto a humanidade" (O Estado de São Paulo; 1985: 24).

A ciência está sendo levada a reconsiderar o sobrenatural, a aceitar o mistério, a buscar um novo sentido para a transcendência e a remodelar a face do próprio Deus. O maravilhoso, o imaginário, o onírico e o fantástico deixaram de ser vistos como pura fantasia ou mentira, para ser tratado como portas que se abrem para determinadas verdades humanas.

Cap. 3) Os Seriados de Televisão:

3.1) Introdução:

Os seriados surgiram num época em que a radionovela predomina em audiência. "Percebe-se, ainda hoje, que a repetição estrutural reforça a familiaridade para com os espectadores. A possibilidade de acompanhar um mesmo personagem em aventuras estruturalmente repetitivas, onde apenas alguns detalhes são alterados, parece remeter o espectador a apreciar as variações possíveis de uma mesma fórmula. Com o tempo, o espectador esta familiarizado com o discurso fílmico propriamente dito" (CAPUZZO; 1990: 20).

3.2) A História dos Seriados de Televisão

"Num primeiro momento, a televisão aproveitou os filmes já existentes para cumprir sua programação e os seriados feitos para o cinema ocuparam significativo espaço no vídeo. Um curioso exemplo, Hopalong Cassidy, um elegante cowboy interpretado por Willian Boyd, que, no cinema, teve 66 capítulos, entre 1935 e 1948. Esses filmes não foram realizados como seriado, pois cada título era autônomo. Os próprios produtores resolveram intervir em alguns títulos, dividindo-os em capítulos.

A televisão exibiu esses filmes até que, em 1951, o próprio ator Willian Boyd resolveu produzir especialmente para a TV 52 episódios, com cerca de 26 minutos cada um. Essa decisão adveio do sucesso que seus filmes feitos para o cinema obtiveram na TV, quando reprisados em forma de série". (CAPUZZO; 1990: 39)

Mas, quando a série é transposta para a TV, ela deve sofrer algumas modificações: uma, a mais importante, é a autonomia de cada episódio, transformando cada episódio num bloco dramático com começo, meio e fim. A outra, que só veio a ocorrer nos fins dos anos 50, é o tempo de duração, que passou de 25 para até no máximo 50 minutos.

Os seriados televisivos, no começo, "irão optar pelo filme 'família', onde aventura e humor se mesclam com as rotinas dos lares". (CAPUZZO; 1990: 39). É o caso de Papai Sabe Tudo. Depois, surgiram seriados como Lassie e As Aventuras de Rin Tin Tin, que mostrava a amizade entre cachorro e ser humano.

A partir daí, uma série de gêneros invadiram a televisão: desde de western (Bonanza) até ficção-científica (Perdidos no Espaço), uma série de modificações ocorreram para que o seriado que assistimos atualmente se padronizasse. "A padronização formal, com duração média de 25 minutos, depois transformados em 50 minutos, além da autonomia de cada episódio, sugerem uma dramaturgia sem muitas sutilezas, com ritmo ágil, centralizada nos diálogos. Mesmo que os personagens estejam em lugares exóticos, os recursos de produção não permitem elaborados efeitos especiais. Os diálogos marcam o ritmo. As emoções são verbalizadas e o impacto ‚ procurado, em detrimento de uma reflexão mais elaborada, através de uma ação incessante"... A televisão começa a impor, nesse período, uma linguagem específica, marcada por muitos closes, numa montagem que acentua a relação plano e contra-plano, com um comentário musical que pontua e explicita os momentos de tensão... Os roteiros devem ser sintéticos... A linearidade ser interrompida, na exibição, pelo comercial. Portanto, é previsto o momento exato da interrupção, fazendo com que a narrativa caminhe por pequenos blocos de aproximadamente 10 minutos, de forma modular." (CAPUZZO; 1990: 41).

Não podemos deixar de lado que, cada seriado novo que surge na televisão, há sempre um longa metragem antes, introduzindo cada personagem, suas sutilezas psicológicas, etc. , permitindo que durante a série haja maior tempo para ser dedicado aos conflitos, pois o público já tem uma certa familiaridade com os personagens.

Todavia, não é o que aconteceu com a série Arquivo X, que teve apenas como referencial seu piloto (exibido pela Record no dia 4 de dezembro de 1994). Embora, esse piloto tenha todos os ingredientes da série, como: suspense, mistério, e o contraste de personalidades entre os personagens Mulder e Scully, não foi o suficiente para que seu público, fiel, se familiariza-se com a série. Mesmo porquê, a diferença entre os seriados de ficção-científica, como Perdidos no Espaço e Jornada nas Estrelas, já assistidos pelo público em geral, com o Arquivo X é muito grande: enquanto aqueles se passam em tempos futuros, mas com as mesmas características da nossa sociedade ocidental, este se passa no dias presentes e nos é mostrado intrigas governamentais para que a população em geral não fique sabendo da existência dos UFOS.

Vale relembrar que duas séries fizeram escola na televisão: Os Intocáveis, onde a imagem faz um discurso linear, lógico, descritivo e imperceptível ao telespectador; a outra, é o Além da Imaginação, que influenciou alguns dos melhores nomes atuais da indústria cinematográfica norte-americana, incluindo o criador da série Arquivo X, Chris Carter.

3.2.1) As Principais Séries de Televisão:

Nos anos que se passaram, desde o seu surgimento até os dias atuais, muitas séries foram reprisadas e vistas por várias gerações. Dentre elas se destacam:

  • I Love Lucy: episódios originais em preto e branco com meia hora de duração que eram gravados ao vivo, com a presença da platéia. Teve presença marcada na televisão de 1951 a 1971.
  • The Rogers Show: Interpretado por Leonard Slye, Roy Rogers é considerado até hoje o cowboy mais bonzinho da TV. "No Brasil, Roy Rogers foi ao ar diversas vezes pela Tupi até 1976, sempre os mesmos filmes em preto e branco, com meia hora de duração". (ESQUENAZI; 1993: 138)
  • As Aventuras de Rin Tin Tin: A série, estrelada por um pastor alemão e Lee Aaker (no papel do Cabo Rusty), contava as aventuras de um cachorro e seu fiel amigo. "A maior gracinha acontecia quando Rin Tin Tin obedecia, como os outros soldados, a ordem de virar … direita ." (ESQUENAZI; 1993: 140).
  • Papai Sabe Tudo: "Esta série tinha como ponto-chave a atenção do cotidiano. Os personagens eram de fácil identificação" (CAPUZZO; 1990: 40). No Brasil, Papai Sabe Tudo teve um legião grande de fãs, sendo reprisado várias vezes em diferentes emissoras.
  • Zorro: As aventuras de um espadachim , que longe de sua capa, espada e máscara, era um bobalhão desastrado com nome de Don Diego de la Vega. Atualmente, esta série está sendo reprisada no programa Agente G, transmitido pela Record de segunda a sexta sempre às cinco e meia da tarde. Esta versão, reprisada pela Record, não tem o mesmo charme da original: esta é colorida por computador.
  • Aventura Submarina: durou 156 episódios e foi transmitida, no Brasil, de 1967 a 1970. Cada episódio tinha duração de 25 minutos e, como o nome diz, as aventuras se passavam no fundo do mar. Tudo era possível nessa série desde que os fatos acontecessem no fundo do mar.
  • Bat Masterson: Essa série chegou no Brasil no mesmo tempo em que era transmitida pela NBC americana e foi transmitida aqui, primeiramente, pela extinta TV Rio. Depois, Tupi, Globo e SBT. But Masterson "não era delegado ou xerife, mas atuava como um obstinado defensor da lei. Excelente jogador de pôquer, fazia charme para as mulheres do século passado, ao mesmo tempo em que enfrentava os bandidos, tentando implantar regras mais civilizadas de convivência nas cidades poeirentas e hostis do interior dos Estados Unidos." (ESQUENAZI; 1993: 146).
  • Jim das Selvas: "Mim Tarzan, você Jane". Quem nunca fechou os punhos e bateu-os contra o peito e gritou: OOOH! OOOOH!!!OOOOHHH!, provavelmente nunca assistiu essa série e também não sabe de que se trata Tarzan, o valente, corajosos e inteligente guia que mostrava os perigos e desafios da floresta africana.
  • Dr. Kildare: "Conquistou corações e pontos no Ibope, primeiro na Excelsior e depois na TV Tupi. Não porque era a melhor série ou porque Richard era um excelente ator. Na verdade, ele era considerado o melhor partido do mundo da medicina." (ESQUENAZI; 1993: 153).
  • Lassie: na mesma linha "cachorro amigo de gente". Era transmitido pela TV Record e pela TV Rio todos os domingos, das 17h30 às 18 horas. Lassie era interpretado por um Collie, que procurava desesperadamente seus verdadeiros donos.

3.2.1.1) Principais Série de Ficção-Científica:

Entre algumas séries de ficção-científica surgidas desde a década de 50 até os dias, poucas tiveram tantos fãs como:

  • Além da Imaginação: histórias que não limitavam a barreira da realidade e do ficcional. Sempre tinham finais abertos, "para que o próprio público usasse a sua capacidade criativa" (ESQUENAZI; 1993: 147). No Brasil, a série estreou na Record no início dos anos 60 e foi reprisado por inúmeras emissoras. A nova versão, colorida, foi transmitida pela Rede Globo em 1987.
  • O Túnel do Tempo: "Dominar os mistérios do tempo ‚ sonho antigo dos homens. Mas só na ficção é possível viajar pelo passado e futuro, embora isso possa trazer inúmeras complicações. No seriado O Túnel do Tempo, o diretor Irwin Allen se inspirou em H.G. Wells e inventou uma máquina que podia fazer transportes fantásticos para todas as épocas do passado e futuro da humanidade" (ESQUENAZZI; 1993: 150). No Brasil, essa série foi reprisada por várias emissoras até 1990, sempre chamando a atenção pelo sua fotografia e pelos efeitos especiais.
  • Nacional Kid: único seriado de origem não-americana, tratava de batalhas entre seres abissais e o herói japonês. No Brasil, a série foi estreada em 1964, na TV Record, sendo que um incêndio, em 1968, destruiu os filmes originais.
  • Viagem ao Fundo do Mar: Contava as peripércias do submarino Seaview nas profundezas do fundo do mar. Foram gravados 110 episódios que abusavam de temas relacionados à ficção-científica.
  • Perdidos no Espaço: "Em 1997 - num futuro que parecia longínquo na década de 60, partia da Terra a família Robinson rumo ao planeta Alfa Centauro" (ESQUENAZI; 1993: 162). Partiam numa nave chamada Júpiter II, que perdeu a direção e "vagou um tempo enorme no além até pousar e enfrentar estranhos durante 83 episódios, de 1965 a 1968" (ESQUENAZI; 1993: 162). Além dessa série se passar num tempo futuro e em outro planeta, ela ainda contava com a ajuda de um Robô que a todo instante repetia: "Perigo! Perigo!"
  • Thunderbirds: Retratava uma outra época, o ano de 2063, e mostrava moderníssimas naves e tecnologias só possíveis em bons seriados de ficção-científica. Para maior admiração, essa série era feita com bonequinhos de madeiras, necessitando uma imaginação muito grande de seus realizadores.
  • Jornadas nas Estrelas: Contava as aventuras da nave USS Enterprise e sua multirracial tripulação pelo confins do espaço. Comanda pelo Capitão Kirk, tinha como fiel escudeiro o ser meio humano e meio vulcano, com orelhas pontiagudas chamado Sr. Spock, que muitos lembram com carinho até hoje.
  • Terra de Gigantes: Um dos melhores seriados de ficção-científica da década de 60, mostrava como uma tripulação da espaçonave Spindrift, sobrevivia aos ataques dos gigantes (seres 12 vezes maiores que os seres humanos). Essa série tinha como ponto forte seus cenários e objetos gigantescos.
  • Jeannie ‚ um Gênio e A Feiticeira: Dois grandes sucessos da TV não só americana como brasileira, essas duas séries contavam a história de duas feiticeiras: uma que vivia numa garrafa e outra, casada com um publicitário, que queria ser um pessoa de carne e osso.

Algumas séries que eram assistidas por nós e que não foram encontradas em livros, mas que merecem destaques são: Planeta dos Macacos, O Elo Perdido, Buck Rogers, A Mulher Biônica, O Homem Invisível, O Homem de Seis Milhões de Dólares, Poderosa Ísis, Capitão Marvel, Mulher-Maravilha, A Ilha do Dr. Estranho, O Incrível Hulk, The Flash, entre tantos outros. Uma excentricidade a partir, o seriado Twin Peaks fez alguns fãs e de vez em quando é citado por alguém.

O Arquivo X surge numa época infestada de seriados como Barrados no Baile e Melrose, onde a inteligência do telespectador é subestimada. O charme das séries de televisão dos anos 60, ganha nova roupagem nessa série que já está fazendo escola: dentro em breve a Record começará a transmitir o seriado Comando Espacial (Space), criado pelos ex-roteiristas Glen Morgan e James Wong.

3.3)Influências do Arquivo X:

Embora tenhamos citado algumas séries de televisão de ficção-científica que são lembradas com carinho pelos saudosistas, nem tudo o que influenciou o criador Chris Carter a criar o Arquivo X foi feito em série. Entre as recordações do criador, como Além da Imaginação, Alfred Hitchcock Apresenta e Kolchak e os Demônios da Noite, há um filme em especial O Silêncio dos Inocentes, donde surge "a idéia de usar o FBI como meio natural de entrada nesse mundo dos fenômenos paranormais" (LOWRY; 1996: 19).

Cap. 4) Breve Histórico sobre a Programação da TV Brasileira

4.1) Décadas de 50 e 60

A programação da TV brasileira está totalmente decidida e determinada no eixo Rio - São Paulo e o restante de tempo que sobra as componentes de rede para programação local se restringe às notícias, programas infantis e alguns femininos.

Por outro lado, ela não se apresenta diversificada e a produção nacional é estabelecida como percentual pouqu¡ssimo significativo para a abrangência da atuação tanto geográfica como em índices de audiência. Essa programação é constituída, na maior parte de tempo, de emissão de enlatados (produtos importados, filmes de longa metragem e séries de certa duração), principalmente do mercado norte-americano, onde firmas com características industriais de produção em massa, desejosas de alcançar seus objetivos, não se preocupam com o tratamento de conteúdo das mensagens ou com sua adaptação para os vários mercados e sua realidade. A pergunta que fica dessa situação é: qual o substrato ideológico que passa, na medida em que nossas características sócio-econômicas diferem da realidade de procedência?

Realmente as grandes corporações americanas ligadas à indústria cinematográfica e às grandes companhias da própria indústria eletrônica, indústria fotográfica etc., estabelecidas em formas de grandes conglomerados, surgidos com a fusão de diversas delas, retratam as dimensões desse manancial de produtos que a nossa televisão, por força dos estímulos de preços, é obrigada a aceitar. Pouco das emissões se constitui de programação ao vivo, pois a maioria dos programas é gravada.

Analisando-se a partir da situação em São Paulo, temos a programação nacional, que foi instituída no advento da televisão em 1950; sofre acréscimos até 1960 para depois ir decrescendo vertiginosamente, numa inversão proporcional ao aumento das emissões estrangeiras que eram, em 1960, aproximadamente 20% e a nacional 80%; em 1966, foram respectivamente 40% e 60%; em 1972, 45% e 55%; em 1976, 50% cada. A tendência, em 1977, era suplantar-se os 50% em média para as seis emissoras (Globo, Tupi, Bandeirantes, Record, Gazeta e Cultura), com a ampliação gradual dos percentuais nacionais, principalmente no horário vespertino e no horário das 21 horas ( a Globo passou O Caso Especial e programas infantis, por exemplo).

4.2) Década de 70

A incidência maior dos enlatados nesse período foi crescendo e acompanhando o crescimento do número de aparelhos receptores e se concentrar mais no horário de 22 horas ao encerramento de horas de emissão. Esse índice decresceu para esse horário em 1972, ficando num plano mediano até 1976, quando ganhou novo impulso de aceleração, inclusive entre 20 e 21 horas e aumentou também no horário vespertino até 1972, quando passou a decrescer até 1976. Em meados de 1977, os dois períodos críticos de maior incidência de enlatados na programação da TV paulista são os de 21 horas em diante; e o período vespertino, principalmente infantis de procedência americana e japonesa (Via EUA), poluem o vídeo entre 15 e 18 horas. Esses enlatados incidem sobre uma alta concentração de população infantil que se expõe em média 7 horas por dia ao veículo, permanecendo passivamente diante do televisor, sem nenhuma seletividade e descriminação por parte dos pais ou responsáveis.

Em 1976, os shows permaneciam no ar de segundas a sextas-feiras, entre os horários de 19 a 22 horas, e aos domingos das 14 às 21 horas. Os programas jornalísticos se situavam entre 19:30 e 23 horas; as séries filmadas entre 19 e 23 horas; os longas-metragens entre 21 e 23 horas com exceção dos domingos. Os de jornalismos esportivos entre 21 e 23 horas; os femininos se situam entre 13 e 16 horas e as novelas entre 18 e 22 horas.

Esse efeito é tanto maior se considerarmos o padrão de homogeneização presente nessas programações, normalmente em termos de violência e valores para obtenção e manutenção do poder que eles evidenciam.

Tratando-se da programação, já observamos que os programas de maior audiência são de produção nacional (novelas e jornais), aproveitados comercialmente por produtos de origem estrangeira. Mas no volume total da programação, em especial com relação aos itens desenhos infantis, seriados e filmes, os programas estrangeiros tem uma supremacia que em alguns casos chega a quase 100%.

4.3) Década de 80

Durante os anos 80, esta supremacia esteve nitidamente visível devido a avalanche de títulos importados (enlatados) que chegaram e consecutivamente invadiram os aparelhos de TV e os lares de todo o Brasil. A produção nacional apesar de sua grande contribuição, não conseguiu o monopólio da programação. A situação econômica do país não era favorável e a aquisição dos enlatados era a alternativa mais viável devido ao auto-custo de uma produção nacional. Outros fatores que contribuíram para a elevação do número de horas transmitidas com programação estrangeira, foram o ausente de concessões de emissoras e o aumento de horas diárias de programação.

Em um levantamento feito pela EMBRAFILME, no início dos anos 80, revelou que dos 1.359 filmes de longa metragem exibidos pelas cinco emissoras cariocas de televisão, apenas 29 eram nacionais. O Brasil, segundo o mesmo levantamento, ocupava apenas o quinto lugar ente países cujos filmes são exibidos pela televisão brasileira. Em primeiro lugar, estavam os Estados Unidos (1.016 filmes), Inglaterra (169), Itália (80) e França (38).

Segundo Alberto Flaskman, superintendente da EMBRAFILME na época, os filmes brasileiros tinham dificuldade para serem veiculados na TV por dois principais motivos: concorrência das distribuidoras estrangeiras, " que vendem a preços baixos e obrigam as emissoras a comprar filmes ruins em troca de seriados de sucesso" (ÁVILA; 1982: 66), e a atuação da censura, " que só libera os melhores filmes nacionais para a exibição após as 23 horas" (ÁVILA; 1982: 66).

4.4) Anos 90

Nos anos 90, as produções nacionais reagiram; todavia, os seriados estrangeiros continuam marcando presença embora não mantenham mais o monopólio da programação. As produções nacionais praticamente expulsaram as séries da TV aberta. Hoje, esses programas conquistaram espaço nos canais pagos, que são segmentados por natureza.

A única emissora de rede aberta a priorizar os seriados em sua programação é a Rede Record, que passou a existir no mercado em função das séries. A Rede Bandeirantes também está disposta a investir em seriados com a criação da Sessão "Os Embalos das Séries de Sábado".

Os diretores de programação de emissoras como a Record e a Bandeirantes entendem que os seriados não servem apenas "para tapar buraco", pois esse tipo de produção possui um público fiel.

Além da rede aberta, vários seriados estrangeiros são exibidos simultaneamente pela TV paga, é o caso do Arquivo X, Plantão Médico e Louco por Você. As distribuidoras determinam que os episódios sejam exibidos primeiramente pela TV paga.

Esse semestre, os canais pagos transmitirão mais de 150 opções de seriados na programação. Este grande número está relacionado diretamente ao surgimento de três novos canais: Sony, Warner e USA Networks. O canal USA Networks retoma clássicos como: " O Incrível Hulk" e "Jornada nas Estrelas". A lista de seriados antigos continuam com "Mc Gyver", "Miame Vice", "Super Máquina", "A Mulher Biônica" e "O Homem de Seis Milhões de Dólares". Outro canal que ressuscitou alguns seriados foi a Warner. Entre eles, destacam-se "Jeannie é um Gênio" e "A Feiticeira".

Cap. 5: Desvendando os mistérios

A série Arquivo X invade as telas de televisão de milhões de espectadores em todo o mundo com estórias sobre alienígenas, atividades paranormais, experiências genéticas e uma infinidade de mistérios aparentemente inexplicáveis. Criado por Chris Carter, um promissor roteirista americano, a série caminha para o seu quarto ano de exibição nos Estados Unidos (aqui no Brasil, entraremos no terceiro ano da série), tornando-se a série de maior sucesso da atualidade.

Exibida originalmente pela Fox (Rede Fox Broadcasting) nos EUA, Arquivo X foi ao ar pela primeira vez em 10 de setembro de 1993 (no Brasil, em 04 de dezembro de 1994), com o episódio piloto (The X-Files: Pilot). O primeiro episódio trazia uma história baseada em fatos reais e documentados, onde dois agentes especiais do F.B.I. investigam as misteriosas mortes de vários estudantes de uma escola de 2º grau. Os agentes do F.B.I. são Fox Mulder e Dana Scully, interpretado por David Duchovny e Gillian Anderson, respectivamente.

A temática da série está relacionada diretamente nas investigações do Agente Mulder na tentativa de desvendar casos inexplicáveis e aparentemente sem solução. Mulder reabre os Arquivos X, uma coleção de casos da instituição que tratavam de fenômenos inexplicáveis ou sobrenaturais. Mulder é um agente brilhante, sendo crente e convicto de que não estamos sozinhos nesse universo. Seus superiores acham que ele está perdendo tempo com o que eles consideram um trabalho sem sentido. " Numa tentativa de acabar com os arquivos X, eles designam a Agente Dana Scully como sua parceira para que ela escreva um relatório objetivo sobre a importância do programa. Scully é inteligente, culta e uma céptica completa, uma ferramenta perfeita para acabar com o programa" (The X-Files - Saga Special Series; 1996: 02). A partir daí, todas as semanas os dois agentes passam a se defrontar com os mais estranhos casos, o que faz com que se crie um laço muito forte entre ambos. " Embora o relacionamento entre os personagens Mulder e Scully seja escrito com muito cuidado, tem sido desenvolvido um esforço consciente no sentido de não permitir que a série caia na armadilha da atração romântica, que tem atingindo muitos programas de TV" (LOWRY; 1996: 10).

A obsessão de Mulder em investigar e obter maiores informações sobre os Arquivos X se deve ao fato de que quando tinha 12 anos , sua irmã Samantha Mulder desapareceu misteriosamente e nunca mais foi encontrada. Em uma sessão de regressão, Mulder descobre que sua irmã foi seqüestrada por alienígenas. Desde então, ele ingressa no F.B.I. para ter acesso a tais informações e chegar mais perto da verdade. Para Mulder, o Governo americano se esconde atrás da omissão da verdade, a verdade que está lá fora.

A série Arquivo X cita um suposto governo paralelo, onde vários representantes das grandes potências mundiais, como: E.U.A., a antiga União Soviética, França, China, as duas Alemanhas e Inglaterra, comanda todas as atividades ligadas a captura de extraterrestres e documentos confidenciais sobre o assunto. Esta alta-cúpula, que manipula a indústria da conspiração, teria sido formada em 1947 com o famoso episódio do Caso Roswell.

Para obter as informações, Mulder e Scully contam com a colaboração especial de alguns informantes como o Garganta Profunda (durante o primeiro ano da série) e X (durante os segundo e terceiro anos da série). Além do Garganta Profunda e X, a dupla de Agentes ainda contam com a paranóica turma intitulada "Os Pistoleiros Solitários", que editam uma revista direcionada contra a tal conspiração.

O criador da série, Chris Carter, saído recentemente da Disney, inspirou-se em outra antiga série de terror, chamada Kolchak e os Demônios da Noite ("Kolchak - The Night Stalkers"), na qual um repórter investigava semanalmente casos ligados ao oculto. Como a muito tempo não havia nada parecido na televisão, Carter achava que o seriado Arquivo X tinha grandes chances de emplacar. Infelizmente, mais ninguém parecia pensar assim, inclusive os executivos da Fox.

O dia escolhido para a estréia da série foi uma sexta-feira, famoso dia por ter acabado com várias séries de ficção. Desde os anos 60, toda série desse gênero que estava preste a ser cancelada era transferida para sexta-feira a noite. Exemplos famosos são Jornadas nas Estrelas e Contra Tempos. Outro fato interessante é que o primeiro episódio, ao contrário de tantas outras séries, não foi um longa metragem contudo um episódio de duração normal, sem orçamento superior a um milhão de dólares ou possibilidade de ser lançado em vídeo. Inclusive, nota-se que no primeiro episódio, a aparência dos atores David Duchovny e Gillian Anderson está muito diferente dos episódios seguintes, o que mostra que mesmo após a sua produção, os diretores da Fox devem ter demorado um bom tempo até darem a ordem para continuação da série.

Na verdade, todas as fichas da Fox foram apostadas em outra série lançada na mesma época: As Aventuras de Brisco County Jr. Achava-se que a série estrelada pelo astro Bruce Campbell se tornaria o grande sucesso da temporada, tanto que foi feita uma grande campanha publicitária para ela. E enquanto ao Arquivo X? Bem, provavelmente não iria durar muito?

Assim, não foi surpresa quando o primeiro episódio teve um baixíssimo índice de audiência. Mesmo com as várias críticas positivas que começaram a aparecer em seguida, a audiência não aumentou muito. Pelo meio da primeira temporada começaram a surgir fortes boatos de que a série seria cancelada, não chegaria ao segundo ano de produção. O sucesso do Arquivo X se deu mais ou menos nessa mesma época. De repente, a audiência começou a aumentar. Começaram a chegar cartas de vários fãs a emissora, todas reclamando do suposto cancelamento. Vários profissionais do meio fizeram campanha em favor da série nos seus jornais e revistas. "Bernard Weintraub, do New York Times, escreveu: " Numa época em que os Flintstones e Débi e Lóide dominam as bilheterias, a televisão está se tornando a mídia de escolha para o escritor que tem algo a dizer" (The X-Files - Saga Special Series; 1996: 03). Como prova, o jornalista citava o recente retorno das séries inteligentes, lideradas pelo Arquivo X. Para muitos que não conheciam a série, a afirmação foi uma surpresa. Talvez por isso, mais e mais pessoas tenham começado a se interessar pelo programa. Apesar de seus temas, envolvendo discos-voadores, monstros estranhos, mutantes, etc., todos os episódios possuem um enfoque diferente da maioria dos filmes sobre o assunto, muitas vezes levantando mais questões do que respondendo.

Segundo o próprio Chris Carter, o segredo do Arquivo X é uma conseqüência do processo de "provocar e cultivar a paixão dessa geração de fãs através do lado oculto de todos nós" (GERAÇÃO TEEN ZIG E ZAG; 1995: 20). Embora a série investigue OVNI e outros acontecimentos bizarros, também é equilibrada por brincadeiras e diálogos bem humorados entre os personagens principais, além de complexos e intrincados enredos envolvendo conspirações e acobertamentos governamentais, relacionados com as próprias informações que os agentes estão tentando investigar. Esses episódios e incidentes passaram a ser conhecidos como a mitologia do progama, e tem ajudado a definir tanto a série como a estranheza que lhe serve de marca registrada, resultando em frases de apelo popular como "Não confie em ninguém" e "Eu quero acreditar".

"Apesar das semelhanças que a idéia de Carter compartilha com os Demônios da Noite, relativamente ao fator suspense, também passaram a se manifestar notáveis diferenças com a sua evolução. O repórter Kolchak vivia tropeçando em monstros por casualidade, o que exigia do público um enorme esforço para dar uma pausa no seu descrédito. No Arquivo X, os Agentes Mulder e Scully procuram pelo fenômeno paranormal depois que alguma outra pessoa o encontra" (LOWRY; 1996: 20).

"Mergulhando em sua própria natureza de pessoa descrente, Carter também plantou as sementes daquilo que se tornaria uma parte integrante do programa - ou seja, a suposição de que existem forças em ação dentro do governo americano que procuram impedir que esse tipo de informação venha à luz" (LOWRY; 1996: 20).

Os aspectos que diferem o Arquivo X das demais séries de ficção-científica (como: Jornadas nas Estrelas, Buck Rogers, Planeta dos Macacos, Perdidos no Espaço, etc.) são: o fato de que enquanto o universo dos filmes se passa em um tempo futuro, onde as pessoas estão familiarizadas com a rotina futurista, o Arquivo X se passa no presente, tendo como charme o suspense e o levantamento de várias dúvidas e situações que pairam no ar, instigando a imaginação do telespectador. Além disso, o Arquivo X conta com a fidelidade do seu público.

X-Clubes X-Convenções X-Mania

O Arquivo-X estará entrando no terceiro ano de exibição aqui no Brasil e, por incrível que pareça, continua atraindo uma legião cada vez maior de eXcers (apelido carinhoso para os admiradores do Arquivo X) que acompanham avidamente as aventuras de Mulder e Scully religiosamente às sextas-feiras.

Como não se via um fenômeno deste desde os tempo áureos de Guerra nas Estrelas, os fãs-clubes começam a se multiplicar a velocidade da luz. Nos Estados Unidos, o ano de 1995 encerrou com algumas Convenções X , onde um grande número de X-Philes (apelido dos admiradores do Arquivo X nas terras do Tio SAM) e curiosos pelos temas de paranormalidade e ufologia... A cada dia, novos souvenirs são criados. Desde de camisetas até bottons, os eXcers estão sempre ganhando novos itens para suas coleções. A última novidade é o lançamento de dois Cds com músicas da série; o primeiro com os temas criados pelo compositor Mark Snow e, um segundo, de música pop inspiradas pelo seriado.

Aqui no Brasil, a obsessão não é diferente. A primeira convenção dos eXcers aconteceu em abril atraindo gente de todos os lugares do país. Foram vistos no Palácio das Convenções do Anhebi (local onde se deu a primeira Convenção), desde de agentes secretos (devidamente uniformizados e com crachá) até um réplica em tamanho natural do E.T. do caso Roswell, uma das principais fontes de inspiração para o criador Chris Carter. Entre maníacos e fanáticos, foi possível adquirir: camisetas, desde oficiais até mesmo cópias de cards, cards, revistas em quadrinhos, fanzines especializados em Arquivo X, livros com adaptações da série, bottons, etc. Fato consumado, essa primeira Convenção trouxe de volta uma coisa que a muito tempo não se via no Brasil: diálogos, dissertações e hipóteses. Tudo foi possível nessa convenção. O bar dentro do Anhebi, se tornou palco de conversas de botequins um pouco diferentes. Entre tantas pessoas que estavam discutindo, nomes como Roswell, Hangar 18 e Área 51 eram ouvidos a todo o instante. Nenhuma briga ocorreu no local, tornando a amizade entre leigos, principiantes e cobras no assunto ainda maior.

O Fã-Club Oficial do Arquivo X brasileiro, coligado a Frota Estrelar (fã club oficial do Jornada nas Estrelas), conta com uma leva de 7.500 inscritos desde que foi fundado em agosto de 1995. Já possui um fanzine chamado eXtremos (no terceiro número).

Mas, a tendência não é ficar cada Fã Club do Arquivo X no seu lugar. Com o acesso cada vez mais fácil, a Internet tem se tornando um bom meio de correspondência entre os eXcers. Páginas atrás de páginas, tudo é possível se encontrar quando o assunto é a X-Mania. Os telespectadores mais fanáticos votam nos episódios através dos endereços clazaro@julian.uwo.ca e mcgrew@info.rutgers.edu; os menos intendidos no assunto podem encontrar informações detalhadas sobre todos os episódios ou simples resumos, biografia de Gillian Anderson e David Duchovny. Há também a possibilidade de se comunicar, via rede, com os principais atores e o criador (em anexo segue alguns exemplos do que pode ser encontrado no Internet).

O Arquivo X é o fruto de um trabalho minucioso, onde Chris Carter, o criador da série, utilizou-se de vários artifícios cinematográficos. Carter, um perfeccionista, pensou nos mínimos detalhes, visando causar impacto dentro de um clima de suspense onde os telespectadores são seduzidos por essa atmosfera, criada intencionalmente para transmitir uma sensação de mistério, um dos pontos fortes da série.

Utilizaremos como exemplo o episódio "O Ser do Espaço" (E.B.E.), exibido no Brasil em 07 de abril de 1995. O episódio é dividido em cinco blocos de aproximadamente nove minutos.

O primeiro bloco começa com um piloto iraquiano derrubando um ovni, que cai perto de uma base americana na fronteira entre o Iraque e a Turquia. Corte para a vinheta de abertura, logo após a imagem de uma espaçonave não atingida indo embora. Após vinheta de abertura, a história segue em Reagan, Tennessee, onde um motorista de caminhão fica sem energia, ao sair observa um disco voador e luzes no céu. Quando Mulder tente interrogar o homem, o xerife o liberta, dizendo que ele não quer cooperar com as investigações. Mulder tem certeza de que o caminhão transportava um E.B.E. (entidade biológica extraterrestre).

Buscando ajuda, Mulder apresenta Scully ao trio conhecido como "Os Pistoleiros Solitários" - um grupo extremista de investigação das atividades governamentais (um membro, chamado Langly, costuma contar vantagem que havia tomado café-da-manhã com "o cara que atirou em John F. Kennedy"). Scully acha que eles são paranóicos até que descobre equipamento de escuta em seu apartamento. O primeiro bloco termina com o close em um aparelho de escuta preso na caneta de Scully.

INTERVALO

O segundo bloco começa com Mulder chamando por meio de um código secreto a sua fonte de informações: Garganta Profunda. Garganta Profunda entrega a Mulder um pacote onde há instruções para ele ir até uma instalação na Georgia, dizendo que ele está "num caminho perigoso". Scully teme que Mulder esteja sendo enganado e, embora ele diga que confia em Garganta Profunda, a dica que recebeu acaba sendo falsa. "Eu só confio em você, Mulder", diz Scully, advertindo-o de que está cego por causa de sua obsessão e de que outras pessoas podem usar essa obsessão contra ele mesmo. O segundo bloco termina com Mulder dizendo a Scully que os dois não devem confiar em ninguém.

INTERVALO

O terceiro bloco se inicia com um encontro entre Mulder e Garganta Profunda. Empurrado contra a parede, Garganta Profunda admiti ter tentado enganar Mulder, dizendo que "ainda existem alguns segredos que devem permanecer secretos".

Fazendo um rastreamento do caminhão, Mulder e Scully viajam para o estado de Washington, onde são obrigados a parar de repente por causa de um clarão de luz muito forte, e então descobrem o caminhão abandonado. O terceiro bloco termina com Mulder dizendo a Scully:" Acho que acabamos de testemunhar uma missão de resgate."

INTERVALO

O quarto bloco começa com Scully dizendo a Mulder que está tremendo de medo. Em seguida, Mulder diz a Scully que aquela experiência não passou de mais uma fraude, percebendo que aquilo tinha sido apenas um truque para afasta-los da investigação. Falando com o motorista do caminhão, eles localizam e entram em uma instalação do governo, utilizando credenciais falsas produzidas pelos Pistoleiros Solitários.

INTERVALO

O quinto e último bloco começa com Mulder e Scully investigando salas da instalação do governo. São abordados por um segurança e Mulder foge. Mulder tranca a porta das escadas enquanto a segurança vai atrás dele.

Ali, ele se encontra com Garganta Profunda, que lhe conta sobre um pacto ultra-secreto entre as nações depois do incidente de Roswell, em 1947, segundo o qual qualquer E.B.E. sobrevivente seria exterminado. Garganta Profunda diz ter sido um dos três homens que haviam cumprido este tipo de pacto, quando ainda trabalhava na Cia., no Vietnã - um incidente que o continuava assombrando e o havia inspirado a usar Mulder como meio de se redimir. "Através de você", ele diz, "a verdade será conhecida".

Mulder olha mas não existe nenhum alienígena na sala. O bloco termina com Mulder dizendo a Garganta Profunda: "Gostaria de saber em que verdade devo acreditar", em seguida Garganta Profunda desaparece no nevoeiro da noite.

Com base na observação do episódio, pudemos encontrar aspectos essenciais que fazem do Arquivo X um conjunto de elementos interligados. Dentre eles, destacamos: a iluminação, a música, o movimento de câmera, corte e edição. A preocupação com cada um desses elementos reflete a postura de Chris Carter em relação a estética do Arquivo X.

Arquivo X apresenta cores escuras e opacas, havendo uma predominância de cenas noturnas. Os Agentes Mulder e Scully usam roupas de tonalidades preta, cinza, azul marinho e marrom. As cores servem para reforçar o clima de suspense e mistério. Nota-se que muitas vezes a face dos personagens permanece semi-oculta. "Esta técnica de fazer uso das sombras, foi inicialmente utilizada por Charles Chaplin. Seu efeito faz com que as imagens pareçam se passar num mundo fantasmagórico, sem volume nem espessura. Esta técnica foi expandida por Orson Welles e Alfred Hitchock" (SABOYA; 1992: 32).

A música, criada especialmente por Mark Snow, também possui uma participação muito especial. Sua evolução acompanha o desenvolvimento da trama contida nesse episódio. O som denota tensão. Uma música concreta com acordes credenciados, vez por outra, aumenta lentamente sua intensidade. As imagens ganham mais ênfase e os telespectadores ficam tensos e apreensivos. Segundo Jackson Saboya, este é um recurso no qual o autor roteirista deve estar sempre atento. Ele tem que ter o felling para espelhar na sua estória desejos e necessidades da audiência.

Carter, através de uma montagem conceptual de enquadramentos simbólicos, procurou fazer com que as pessoas produzissem em suas mentes uma série de associações de idéias. Neste caso, a câmera aparece como "o olho do telespectador", permitindo-nos antever determinadas situações e os bastidores da trama. Além disso, Carter sabe fazer bom uso da técnica do clímax, obtida através da redução cada vez maior dos fragmentos a montar. O clímax se apresenta de forma crescente e o salto das imagens , chamado de reticências, eliminam os tempos mortos da narrativa. Há predominância de cenas externas, muito incomum em seriados televisivos. A câmera limita-se a dois tipos de planos: geral e close-up. No plano geral, o espectador possui a oportunidade de observar algo do cenário de fundo. Com o close-up, o plano torna-se íntimo, principalmente durante os diálogos entre os agentes Mulder e Scully. Quando há dúvida paira no ar este plano faz com que as expressões tornem-se mais evidentes.

As imagens aparecem sincronizadas com o som, especificamente nas cenas de tensão; o ponto alto do episódio. O corte para a entrada dos comerciais é feito estrategicamente, ou seja, em situações onde o nível de tensão é alto (clímax), uma maneira de fazer com que o espectador permaneça atento em sua poltrona, sem mudar de canal, esperando pelo desfecho de tais situações. Utiliza-se também a computação gráfica dando um acabamento mais sofisticado e aperfeiçoamento das imagens onde o ovni aparece.

Considerações Finais:

Quando se fala em enquadramentos simbólicos para produzir uma série de associações na mente do espectador, devemos levar em conta o primeiro cineasta a fazer tal coisa: Eisenstein.

Chris Carter utiliza também outros recursos cinematográficos para chegar ao clima de suspense, tão bem utilizado na série: a reticências, saltos durante a narrativa que servem para eliminar os tempos mortos e o fondu, utilizado para concluir uma cena ou para traduzir a passagem de tempo. Um outro recurso cinematográfico utilizado por Carter que serve para atenuar os contrastes é o flou, uma leve camada de gaze colocada em frente a lente da câmera.

Quando o episódio precisa dar um salto muito grande não só no tempo, como também no espaço, Chris Carter recorre ao mesmo recurso utilizada, com bastante sucesso, na série Os Intocáveis: a legenda, onde pode ser lido o local onde a cena se passa, data e horário.

Conclusão:

Concluímos que sim, a série de televisão Arquivo X faz sucesso devido ao seu novo formato: a série perneia entre a tradicional fórmula dos seriados de televisão, mesclando cinema; fazendo com que o Arquivo X se torne não somente uma série como também uma tentativa de se fazer um novo tipo de televisão. Se isso vai influenciar as gerações vindouras? Cremos que sim, pois assim foi com Além da Imaginação e assim será com o Arquivo X...

Bibliografia

Bibliografia Utilizada:

1) ÁVILA, Carlos R. Améndola, "A Teleinvasão - a participação estrangeira na televisão do Brasil". São Paulo, Cortez Editora e Editora Unimep, 1982.

2) CAPUZZO, Heitor, "O Cinema Além da Imaginação". Vitória (E.S.), Editora Fundação Ceciliano Abel de Almeida - Universidade Federal do Espírito Santo, 1990.

3) ESQUENAZI, Rose, " No Túnel do Tempo: uma memória afetiva da TV brasileira". 1º Edição, Porto Alegre (R.S.), Artes e Ofícios Editora Limitada, 1993, p. 79 a 85 e 133 a175.

4) FIKER, Raul, "FC: Ficção, Ciência ou uma Épica de uma Época?". Porto Alegre (R.S.), L & PM Editores, 1985.

5) FILHO, Ciro Marcondes, "A Linguagem da Sedução - a conquista das consciências pela fantasia". São Paulo, Editora Com-Arte, 1985.

6) ______ , " Televisão: A Vida pelo Video". São Paulo, Editora Moderna, 1988.

7) LOWRY, Brian, "Bastidores: o livro oficial da série Arquivo X". São Paulo, Mercúrio, 1996 (Unicórnio Azul).

Jornal:

8) Folha de São Paulo, Caderno TV Folha. São Paulo, domingo, 2 de junho de 1996. p. 3 a 5.

9) Estado de São Paulo, Ano 04 - nº 252 (1985). p. 6

Bibliografia recomendada:

sobre fenômenos ufológicos:

1) BENÍTEZ, J. J. , "Os Visitantes". São Paulo, Mercuryo, 1993.

2) BERLITZ, Charles, "O Livro dos Fenõmenos Estranhos". São Paulo, Editora Best Seller, 1988.

3) BUTTHAR, Johannes Von, "O Fenomeno UFO". São Paulo, Círculo do Livro, 1978.

4) DURRANT, Henry, "Primeiras Investigações sobre os Humanóides Extraterrestres". São Paulo, Hemus Livraria Editora Limitada, 1980.

5) STRIEBER, Whitley, "O Projeto Majestic - a nave perdida". São Paulo, Mercuryo, 1989.

Sobre Ficção Científica:

1) ASIMOV, Isaac, "No Mundo da Ficção-Científica", Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1984.

Sobre Análise de Roteiro:

1) TADDEI, Nazareno, "Leitura Estrutural do Filme". São Paulo, Edições Loyola, 1981.

Sobre Seriados:

1) JONES, Gerard, "Honey, I'm home!: sutcoms, selling the american dreams". 1º edição, USA, Grove Weindenfeld, 1992.

2) STURCKEN, Frank, "Live Television: the golden age os 1946 - 1958 in NY". Jefferson (North Carolina), McFarland & Company, Inc., Publishers, 1990.

3) THOMPSON, Robert J., "Adventures on Prime Time: the television programs of Stephen J. Cannel". 1º edição, New York (USA), Praeger Publisherns, 1990.

4) WOOLERY, George W., "Children's Television, the First Thirty Five Years, 1946 - 1981. Part II: Live, Film an Tape Serie". USA, The Scarecrow Press, Inc., 1985.

Texto gentilmente cedido por Alessandra Kafka (ale.sanches@base.com.br)