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No Brasil, uma Comissão de alto nível, constituída de três
representantes de cada Poder da República, definiu e
promoveu os festejos do centenário da Proclamação da República
Brasileira. Um grupo de trabalho foi instalado,
em Brasília, pelo senhor Ministro da Cultura José Aparecido de Oliveira,
para tratar das festividades. Para maior
charme, também foi comemorado naquele ano o bicentenário da
Inconfidência Mineira, muito embora as
comemorações ocorreram dentro da maior crise sócio-econômico-financeira
do Brasil, em abril de 1992, vez que
em 10 de maio de 1789 foi dado início ao processo contra os conjurados,
mas a sentença foi a 21 de abril de 1792,
quando Tiradentes foi enforcado.
A Revolução Francesa fez rolar grande número de cabeças, a Inconfidência
Mineira teve um mártir apenas e a
proclamação da República foi feita sem sangue.
Todavia, não foi por essa razão que se comemorou todos esses
acontecimentos no ano de 1989, mas sim porque
a Revolução Francesa foi o acontecimento maior que irradiou luz aos
idealistas e inaugurou nova era na História
da Humanidade, fortificando o espírito de patriotismo e de humanismo
cristão; foi a semente da liberdade de
muitos povos, inclusive na América Latina, com Simon Bolivar e, em
particular, na Argentina, com José de San
Martin.
O brasileiro José Joaquim da Maia, que estudava na França, viveu aquela
Revolução e estimulou a Inconfidência
Mineira. A Declaração dos Direitos do homem e do Cidadão, discutida e
aprovada entre 20 e 26 de agosto de
1789, foi o fanal que se acendeu na torre do humanismo e permaneceu
aceso e foi iluminar as inteligências dos
representantes das 50 Nações que, em 25 de abril de 1945, em São
Francisco da Califórnia, inauguraram a
Conferência que deveria aprovar a carta das Nações Unidas, que mais
tarde aprovou a Declaração dos Direitos
do Homem.
Convém lembrar que na Sessão de 14 de agosto de 1789, da Assembléia
Nacional Francesa, foi dito que o
pretendido era a elaboração de uma "declaração dos direitos para todos
os homens, para todos os tempos, para
todos os países".
Como os principais jornais e revistas aditaram cadernos especiais sobre
esses acontecimentos, achamos de bom
alvitre escrever esta matéria tão crua quanto os acontecimentos:
REVOLUÇÃO FRANCESA E A MAÇONARIA,
que o leitor da melhor e maior Revista Cultural Maçônica do Brasil vai
aqui deglutir sem o tempero da hipocrisia.
Considera-se o 14 de julho de 1789 como a data da Revolução Francesa,
porque foi nesse dia que o povo francês
assaltou a célebre fortaleza da Bastilha, tomada após quatro horas de
combate, cuja vitória fez o rei capitular
completamente. Ironicamente, os cerca de 600 invasores da Bastilha foram
encontrar encarcerados apenas sete
presos: 2 loucos, 4 vigaristas e 1 lorde tarado.
Bastilha era o nome que se dava a todos os castelos fortificados, mas
depois se aplicou especialmente ao célebre
castelo real situado em Paris, o qual servia de prisão aos réus de
inconfidências e de fortaleza para defender a
cidade.
Essa Bastilha começou a ser construída em 1369 e foi concluída em 1383.
Seu construtor, Aubriot, foi o primeiro a
ser nela encarcerado. Voltaire também foi preso ali em 1717, devido a
uma sátira injustamente a ele atribuída, e lá
concluiu sua primeira tragédia – Édipo – em 1718. Em 1726, voltou a ser
encarcerado na Bastilha; liberto, seguiu
para a Inglaterra retornando à França em 1729.
Luiz XVI (1774-1792) era neto de Luiz XV (1715-1774) e tetraneto de Luiz
XVI (1643-1715). Soberanos absolutos,
donos de todo o poder, esses três homens governaram a França durante 150
anos. A Bastilha, que era símbolo
do absolutismo, caiu em 14 de julho de 1789, mas Luiz XVI somente deixou
de reinar em 22 de setembro de 1792,
quando foi proclamada a República. Em 21 de janeiro de 1793, por decisão
da Convenção Nacional que o
condenou à guilhotina, num escrutínio em que 387 votaram a favor e 344
contra, Luiz XVI foi decapitado, na Place
de la Révolucion, hoje Place de La Concordia.
A Revolução Francesa foi iniciada em março de 1789, com revoltas
camponesas em Provença, Picardia e
Cambresis, estendendo-se até 9 de novembro de 1799, quando do golpe de
Estado, de Bonaparte, nomeado
Primeiro-Cônsul.
A França viveu em permanente estado de abolição social. A sociedade
francesa do antigo regime dividia-se em
três camadas distintas chamadas de Estados ou Ordens. O órgão
consultivo, criado por Felipe, o Belo, em 1302,
era a Assembléia dos Estados Gerais, da qual faziam parte os três
Estados. O primeiro Estado era constituído pelo
clero; o Segundo Estado, pelos membros da burguesia. Tanto a nobreza
quanto o clero, viviam às custas de
fabulosas pensões que recebiam do Estado arrecadador de taxas e
impostos. Os grandes proprietários de terras
não se interessavam em torná-las produtivas, apoiavam o Estado e se
opunham a qualquer reforma na estrutura
agrária, procurando manter os direitos feudais remanescentes da Idade
Média; recusavam-se a pagar impostos e
impediam qualquer reforma fiscal.
Nobreza e clero se confundiam, vez que os cardeais, arcebispos, bispos e
abades eram recrutados na alta
nobreza, cujos membros representavam apenas um por cento da população,
mas que detinham vinte por cento de
todas as terras e gozavam da isenção de pagamento de impostos.
A burguesia próspera, constituída de banqueiros, comerciantes e
industriais, com seus empreendimentos é que
gerava quase toda a renda da França. Ela desejava amplas reformas
(administrativas, jurídicas, fiscais) que lhe
permitissem ampliar seus negócios, ao tempo em que não se dispunha a
continuar sustentando a nobreza e o
clero. Além disso a burguesia sonhava com a implantação da República que
só veio cento e cinqüenta e nove
anos depois, com Napoleão no Poder.
A Revolução Francesa de 1789 foi feita então pela burguesia, em virtude
dos motivos já explanados. Nenhum
proeminente revolucionário era Maçom, embora quase todos Maçons fossem
burgueses, já que lordes eram
poucos. Da plebe não tinha ninguém. Não eram Maçons: Robespierre, Marat,
Carmot, Danton, Condorcet, David
(Jeaj-Luis), Saint-Just, nem mesmo Mamoro (Antoine-François) um dos
principais editores de imprensa do
período revolucionário e que, em 1791, cunhou a expressão LIBERTÉ,
ÈGUALITÉ, FRATERNITÉ e a fez escrever
nos edifícios públicos. Também não era Maçom o libertino Mirabeau, preso
várias vezes e eleito deputado do
Terceiro estado para os Estados Gerais e que também era grande orador e
fundador dos primeiros jornais
revolucionários.
Todavia, era Maçom ORLÉANS (Louis-Philipe Joseph), duque, príncipe de
sangue, Grão-Mestre da Maçonaria
que, eleito para a Constituinte e para a Convenção, pertencente à
bancada da Montanha e votou pela morte do
rei, seu primo. Terminou preso e condenado por pertencer à família
Bourbon; foi guilhotinado a 6 de novembro de
1793.
Pode-se querer alegar que a Revolução Francesa foi inspirada nos ideais
de Voltaire, mas este iniciou-se na
Maçonaria em 7 de abril de 1778, aos 84 anos de idade, e morreu a 30 de
maio do mesmo ano, lamentando tê-la
conhecido tão tarde e afirmando que os Maçons e os filósofos buscam o
mesmo fim.
Treze anos depois de sua morte, a Revolução Francesa transladou seu
esquife para o Panteon, em homenagem
àquele considerado um dos seus autores, proclamando-o "o libertador do
pensamento humano", talvez por haver
sido Voltaire o profeta de uma "revolução inevitável" à qual não estaria
presente como testemunha do seu
vaticínio.
Para com a revolução, Voltaire contribuiu apenas com o vocábulo que
trouxe para a filosofia política. Entretanto,
Maçons desavisados proclamam que a Revolução Francesa foi feita pela
Maçonaria, inspirada na sua divisa
LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE, criada por um profano e adotada por
ela depois da Revolução.
Segundo o historiador francês Agulhon, a tomada da Bastilha e os
primeiros linchamentos nas ruas de Paris não
teriam acontecido se no dia 11 de julho de 1789 o rei não tivesse
decidido demitir o ministro Necker e entregue a
pasta das Finanças à aristocracia, e não tivesse ainda enviado às praças
a cavalaria. Com esse ponto de vista o
historiador Furet não concorda.
O envolvimento da Maçonaria na Revolução Francesa, nasceu da imaginação
do jesuíta Francês Agostinho
Barruel que, em 1797, publicou uma obra intitulada "Memória para servir
à História do Jacobinismo". Tal obra foi
publicada na Alemanha sob o título FEITOS NOTÁVEIS PARA SERVIR À
HISTÓRIA DO JACOBINISMO E AS
PROVAS DE UMA CONSPIRAÇÃO CONTRA TODAS AS RELIGIÕES E TODOS OS GOVERNOS
DA EUROPA,
QUE EXISTE NAS REUNIÕES SECRETAS DOS FRANCO-MAÇONS, DOS ILUMINADOS E DAS
SOCIEDADES
DE LEITURA.
Nela Barruel afirma: "Nesta Revolução Francesa, tudo, até nos seus
crimes mais espantosos, tudo foi previsto,
meditado, constituído, resolvido, estatuído; tudo tem tido o efeito da
mais profunda perversidade, pois que tudo
foi preparado, conduzido por homens que tinham, sozinhos, o fio das
conspirações há muito tempo tramadas
dentro das sociedades secretas".
Barruel atribuía a Diderot, d’Alembert, Voltaire e a outros Maçons, a
inspiração da Revolução, incluiu entre os
"cúmplices" d’Argenson, Choiseul, Malesherbes, Turgot e sobretudo
Necker. Em sua obra afirma: "A conjuração
visa, antes de tudo, destruir o Cristianismo".
Nicola Aslan, em seu livro História da Maçonaria, trata do assunto bem
como assegura que no dia 17 de julho de
1789, "numa recepção feita a Luiz XVI, na Cultura de Paris, depois da
tomada da Bastilha, os Maçons que lá
estavam em grande número, fizeram a abóbada de aço à qual, o rei
espantado e amedrontado, passou".
Esse gesto, de respeito e apoio maçônico ao rei, desmente o jesuíta
Barruel e reforça nossa convicção de que não
foram os Maçons franceses que fizeram a Revolução e, muito menos,
pretenderam eles destruir o Cristianismo.
É necessário que os Maçons deixem de procurar andar atrás da História
para projetar nossa Instituição, mas que
façam a História como a fez nosso Irmão Simon Bolivar – o libertador das
Américas.
email: caiojose@paiol.terra.com.br *****************************************************************