Revolução Francesa e a Maçonaria

de Il. Ir. Caio Jose Almeida de Sousa, Sao Paulo, Brasil


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O mundo inteiro ficou com suas vistas voltadas para as comemorações do bicentenário da Revolução Francesa, ocorrida em 14 de julho de 1989. Em Paris Chefes de Estado de várias regiões do mundo se fizeram presentes. O Governo francês gastou trezentos e cinqüenta milhões de dólares na construção de uma pirâmide de vidro que serviu de entrada ao Museu de Louvre; no topo de uma colina, seiscentos milhões de dólares foram gastos na construção do Arco de La Defende – um edifício de 72 andares em forma de cubo, vazado em concreto e vidro, abrigando na cobertura a Fundação dos Direitos do Homem; trezentos e oitenta milhões de dólares foram gastos no monumento Ópera da Bastilha. Uma equipe de 47 cérebros encarregados de pensar, centralizar e dar andamento aos seis mil projetos de exposições, espetáculos, congressos, simpósios e festejos que custaram mais de cem milhões de dólares. Banquetes para os chefes de Estado, separando os dos sete países mais ricos do restante dos países pobres, em contraste com o espírito da Revolução que se comemorou naquela data. Mais de quatrocentos livros foram escritos e lançados, durante o ano de 1989, acerca da Revolução.

No Brasil, uma Comissão de alto nível, constituída de três representantes de cada Poder da República, definiu e promoveu os festejos do centenário da Proclamação da República Brasileira. Um grupo de trabalho foi instalado, em Brasília, pelo senhor Ministro da Cultura José Aparecido de Oliveira, para tratar das festividades. Para maior charme, também foi comemorado naquele ano o bicentenário da Inconfidência Mineira, muito embora as comemorações ocorreram dentro da maior crise sócio-econômico-financeira do Brasil, em abril de 1992, vez que em 10 de maio de 1789 foi dado início ao processo contra os conjurados, mas a sentença foi a 21 de abril de 1792, quando Tiradentes foi enforcado.

A Revolução Francesa fez rolar grande número de cabeças, a Inconfidência Mineira teve um mártir apenas e a proclamação da República foi feita sem sangue.

Todavia, não foi por essa razão que se comemorou todos esses acontecimentos no ano de 1989, mas sim porque a Revolução Francesa foi o acontecimento maior que irradiou luz aos idealistas e inaugurou nova era na História da Humanidade, fortificando o espírito de patriotismo e de humanismo cristão; foi a semente da liberdade de muitos povos, inclusive na América Latina, com Simon Bolivar e, em particular, na Argentina, com José de San Martin.

O brasileiro José Joaquim da Maia, que estudava na França, viveu aquela Revolução e estimulou a Inconfidência Mineira. A Declaração dos Direitos do homem e do Cidadão, discutida e aprovada entre 20 e 26 de agosto de 1789, foi o fanal que se acendeu na torre do humanismo e permaneceu aceso e foi iluminar as inteligências dos representantes das 50 Nações que, em 25 de abril de 1945, em São Francisco da Califórnia, inauguraram a Conferência que deveria aprovar a carta das Nações Unidas, que mais tarde aprovou a Declaração dos Direitos do Homem.

Convém lembrar que na Sessão de 14 de agosto de 1789, da Assembléia Nacional Francesa, foi dito que o pretendido era a elaboração de uma "declaração dos direitos para todos os homens, para todos os tempos, para todos os países".

Como os principais jornais e revistas aditaram cadernos especiais sobre esses acontecimentos, achamos de bom alvitre escrever esta matéria tão crua quanto os acontecimentos: REVOLUÇÃO FRANCESA E A MAÇONARIA, que o leitor da melhor e maior Revista Cultural Maçônica do Brasil vai aqui deglutir sem o tempero da hipocrisia.

Considera-se o 14 de julho de 1789 como a data da Revolução Francesa, porque foi nesse dia que o povo francês assaltou a célebre fortaleza da Bastilha, tomada após quatro horas de combate, cuja vitória fez o rei capitular completamente. Ironicamente, os cerca de 600 invasores da Bastilha foram encontrar encarcerados apenas sete presos: 2 loucos, 4 vigaristas e 1 lorde tarado.

Bastilha era o nome que se dava a todos os castelos fortificados, mas depois se aplicou especialmente ao célebre castelo real situado em Paris, o qual servia de prisão aos réus de inconfidências e de fortaleza para defender a cidade.

Essa Bastilha começou a ser construída em 1369 e foi concluída em 1383. Seu construtor, Aubriot, foi o primeiro a ser nela encarcerado. Voltaire também foi preso ali em 1717, devido a uma sátira injustamente a ele atribuída, e lá concluiu sua primeira tragédia – Édipo – em 1718. Em 1726, voltou a ser encarcerado na Bastilha; liberto, seguiu para a Inglaterra retornando à França em 1729.

Luiz XVI (1774-1792) era neto de Luiz XV (1715-1774) e tetraneto de Luiz XVI (1643-1715). Soberanos absolutos, donos de todo o poder, esses três homens governaram a França durante 150 anos. A Bastilha, que era símbolo do absolutismo, caiu em 14 de julho de 1789, mas Luiz XVI somente deixou de reinar em 22 de setembro de 1792, quando foi proclamada a República. Em 21 de janeiro de 1793, por decisão da Convenção Nacional que o condenou à guilhotina, num escrutínio em que 387 votaram a favor e 344 contra, Luiz XVI foi decapitado, na Place de la Révolucion, hoje Place de La Concordia.

A Revolução Francesa foi iniciada em março de 1789, com revoltas camponesas em Provença, Picardia e Cambresis, estendendo-se até 9 de novembro de 1799, quando do golpe de Estado, de Bonaparte, nomeado Primeiro-Cônsul.

A França viveu em permanente estado de abolição social. A sociedade francesa do antigo regime dividia-se em três camadas distintas chamadas de Estados ou Ordens. O órgão consultivo, criado por Felipe, o Belo, em 1302, era a Assembléia dos Estados Gerais, da qual faziam parte os três Estados. O primeiro Estado era constituído pelo clero; o Segundo Estado, pelos membros da burguesia. Tanto a nobreza quanto o clero, viviam às custas de fabulosas pensões que recebiam do Estado arrecadador de taxas e impostos. Os grandes proprietários de terras não se interessavam em torná-las produtivas, apoiavam o Estado e se opunham a qualquer reforma na estrutura agrária, procurando manter os direitos feudais remanescentes da Idade Média; recusavam-se a pagar impostos e impediam qualquer reforma fiscal.

Nobreza e clero se confundiam, vez que os cardeais, arcebispos, bispos e abades eram recrutados na alta nobreza, cujos membros representavam apenas um por cento da população, mas que detinham vinte por cento de todas as terras e gozavam da isenção de pagamento de impostos.

A burguesia próspera, constituída de banqueiros, comerciantes e industriais, com seus empreendimentos é que gerava quase toda a renda da França. Ela desejava amplas reformas (administrativas, jurídicas, fiscais) que lhe permitissem ampliar seus negócios, ao tempo em que não se dispunha a continuar sustentando a nobreza e o clero. Além disso a burguesia sonhava com a implantação da República que só veio cento e cinqüenta e nove anos depois, com Napoleão no Poder.

A Revolução Francesa de 1789 foi feita então pela burguesia, em virtude dos motivos já explanados. Nenhum proeminente revolucionário era Maçom, embora quase todos Maçons fossem burgueses, já que lordes eram poucos. Da plebe não tinha ninguém. Não eram Maçons: Robespierre, Marat, Carmot, Danton, Condorcet, David (Jeaj-Luis), Saint-Just, nem mesmo Mamoro (Antoine-François) um dos principais editores de imprensa do período revolucionário e que, em 1791, cunhou a expressão LIBERTÉ, ÈGUALITÉ, FRATERNITÉ e a fez escrever nos edifícios públicos. Também não era Maçom o libertino Mirabeau, preso várias vezes e eleito deputado do Terceiro estado para os Estados Gerais e que também era grande orador e fundador dos primeiros jornais revolucionários.

Todavia, era Maçom ORLÉANS (Louis-Philipe Joseph), duque, príncipe de sangue, Grão-Mestre da Maçonaria que, eleito para a Constituinte e para a Convenção, pertencente à bancada da Montanha e votou pela morte do rei, seu primo. Terminou preso e condenado por pertencer à família Bourbon; foi guilhotinado a 6 de novembro de 1793.

Pode-se querer alegar que a Revolução Francesa foi inspirada nos ideais de Voltaire, mas este iniciou-se na Maçonaria em 7 de abril de 1778, aos 84 anos de idade, e morreu a 30 de maio do mesmo ano, lamentando tê-la conhecido tão tarde e afirmando que os Maçons e os filósofos buscam o mesmo fim.

Treze anos depois de sua morte, a Revolução Francesa transladou seu esquife para o Panteon, em homenagem àquele considerado um dos seus autores, proclamando-o "o libertador do pensamento humano", talvez por haver sido Voltaire o profeta de uma "revolução inevitável" à qual não estaria presente como testemunha do seu vaticínio.

Para com a revolução, Voltaire contribuiu apenas com o vocábulo que trouxe para a filosofia política. Entretanto, Maçons desavisados proclamam que a Revolução Francesa foi feita pela Maçonaria, inspirada na sua divisa LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE, criada por um profano e adotada por ela depois da Revolução.

Segundo o historiador francês Agulhon, a tomada da Bastilha e os primeiros linchamentos nas ruas de Paris não teriam acontecido se no dia 11 de julho de 1789 o rei não tivesse decidido demitir o ministro Necker e entregue a pasta das Finanças à aristocracia, e não tivesse ainda enviado às praças a cavalaria. Com esse ponto de vista o historiador Furet não concorda.

O envolvimento da Maçonaria na Revolução Francesa, nasceu da imaginação do jesuíta Francês Agostinho Barruel que, em 1797, publicou uma obra intitulada "Memória para servir à História do Jacobinismo". Tal obra foi publicada na Alemanha sob o título FEITOS NOTÁVEIS PARA SERVIR À HISTÓRIA DO JACOBINISMO E AS PROVAS DE UMA CONSPIRAÇÃO CONTRA TODAS AS RELIGIÕES E TODOS OS GOVERNOS DA EUROPA, QUE EXISTE NAS REUNIÕES SECRETAS DOS FRANCO-MAÇONS, DOS ILUMINADOS E DAS SOCIEDADES DE LEITURA.

Nela Barruel afirma: "Nesta Revolução Francesa, tudo, até nos seus crimes mais espantosos, tudo foi previsto, meditado, constituído, resolvido, estatuído; tudo tem tido o efeito da mais profunda perversidade, pois que tudo foi preparado, conduzido por homens que tinham, sozinhos, o fio das conspirações há muito tempo tramadas dentro das sociedades secretas".

Barruel atribuía a Diderot, d’Alembert, Voltaire e a outros Maçons, a inspiração da Revolução, incluiu entre os "cúmplices" d’Argenson, Choiseul, Malesherbes, Turgot e sobretudo Necker. Em sua obra afirma: "A conjuração visa, antes de tudo, destruir o Cristianismo".

Nicola Aslan, em seu livro História da Maçonaria, trata do assunto bem como assegura que no dia 17 de julho de 1789, "numa recepção feita a Luiz XVI, na Cultura de Paris, depois da tomada da Bastilha, os Maçons que lá estavam em grande número, fizeram a abóbada de aço à qual, o rei espantado e amedrontado, passou".

Esse gesto, de respeito e apoio maçônico ao rei, desmente o jesuíta Barruel e reforça nossa convicção de que não foram os Maçons franceses que fizeram a Revolução e, muito menos, pretenderam eles destruir o Cristianismo.

É necessário que os Maçons deixem de procurar andar atrás da História para projetar nossa Instituição, mas que façam a História como a fez nosso Irmão Simon Bolivar – o libertador das Américas.

Ir. Caio Jose Almeida de Sousa

email: caiojose@paiol.terra.com.br

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