Na época
em que vivia na cidade de Kotzk, o rabino Itzjac de Vorki foi convidado
para um banquete.
Quando o rabino
se aproximou da casa do seu anfitrião viu que a entrada estava repleta
de bonitos adornos e que enormes lâmpadas a iluminavam.
O rabino se
deteve no caminho e o seu anfitrião foi ao seu encontro.
Itzjac de Vorki
disse ao homem que retirasse todos aqueles enfeites e faróis que
tinha posto na faixada da casa por causa da sua visita.
- Mas por que?
O senhor não gostou? - perguntou o anfitrião.
- Não
se trata disso - disse o rabino - Um homem não deve ser diferenciado
do outro na sua condição de hóspede. Eu desejo ser
tratado de maneira igual ao mais humilde hóspede. Ou você
faz o que pedi ou me prometa que de agora em diante você receberá
do mesmo modo todos aqueles que visitarem a sua casa.
- Mas rabino,
se eu tratar a todos os meus hóspedes da mesma maneira que pretendo
tratá-lo eu irei à falência!
- É por
isso que pedi para retirar os adornos e as lâmpadas...
O anfitrião,
então, retirou os enfeites que tinha posto, serviu uma refeição
mais moderada e devolveu à sua casa a aparência cotidiana...
Tratar diferentemente
as pessoas por causa da sua condição social ou da sua aparência
é agir em total desacordo com os preceitos do amor universal.
Usar de dignidade
e justiça no trato com os outros é um dever básico
para quem quer contribuir para a edificação de uma realidade
melhor.
É muito
triste tratar as pessoas de maneira interessada. Por isso é difícil
imaginar um castigo pior para a pessoa mesquinha do que aquele que ela
já tem: viver num mundo de tanta falsidade e egoísmo.
O indivíduo
justo e generoso sabe que as perfídias, vilanias e sinistroses existem
no mundo, mas sabe também que, acima delas, existem as boas ações
e os gestos de amor. O mesquinho, porém, nem sequer suspeita disso,
e essa é, por si só, a sua ruína.
Só quem
vive o amor conhece a verdade. Só aquele que busca a justiça,
a bondade e a espontaneidade pode enxergar corretamente o valor das pessoas,
sem apelar para a exterioridade enganosa.
Indistintamente,
o humilde pardal pousa no teto do abastado e do pobre. À singela
avezinha não interessam os milhões de um ou a simplicidade
do outro, mas sim se o vento depositou sobre as coberturas de suas casas
algum grão para saciar a sua fome ou algum graveto para construir
o seu ninho.
Quantas vezes
este pequenino hóspede nos visitou sem que o tenhamos percebido?
Não nos mandou avisar de sua visita, nem nos exigiu nenhum tratamento
especial, mas saiu satisfeito e agradecido. Tão agradecido que retornou
muitas outras vezes, anonimamente como sempre.
Este nosso visitante
tão discreto pode nos ensinar a lição da verdadeira
hospitalidade. Pois os hóspedes mais humildes são os embaixadores
de Deus.
Há uma
lenda indiana que fala do deus Vishnu tomando a aparência de um velhinho
maltrapilho e indo pedir abrigo a um jovem casal brâmane, a fim de
testar a sua devoção.
Ser hospitaleiro
não é dominar a etiqueta social para agradar visitas que
consideramos importantes, é sim reconhecer um traço de Deus
em todos aqueles que batem à nossa porta...