TER BONDADE...
Emerson Aguiar
Mestrando
em Filosofia
É muito natural que,
em nossos primeiros passos na seara do bem, sintamo-nos decepcionados com
a indiferença demonstrada por alguns indivíduos que nos rodeiam.
Em nosso íntimo, guardamos secretamente o desejo de que o bem que
praticamos seja reconhecido. Isso é algo perfeitamente compreensível.
Contudo, para que o nosso ânimo não fique à mercê
da gratidão dos outros, é necessário que compreendamos
o que é, verdadeiramente, agir com bondade.
Para que não nos
entristeçamos com a incompreensão alheia, precisamos eliminar
qualquer expectativa de reconhecimento pelas nossas ações.
Esse é um trabalho psicológico delicado que exige um certo
empenho. É preciso que nos desliguemos daquilo que fizemos, por
mais nobre que tenha sido a nossa ação.
Se não nos consideramos
diferentes das outras pessoas porque fazemos o bem, quando a adversidade
aparece, nós a enfrentamos sem reclames ou revoltas. Se, no entanto,
estamos constantemente a espera de recompensas pelo que julgamos ter feito
de bom, cada vez que surge um problema, pensamos: “Eu faço tudo
direito, isso não deveria estar acontecendo comigo”. Na prática,
isto significa potencializar a dor, isto é, multiplicá-la
pelo pseudo-valor que atribuímos a nós mesmos.
Não é exagero
afirmar que, quanto maior for a pretensão de sermos bem tratados
pelos nossos “méritos”, maiores serão as frustrações,
decepções e desilusões. O estrago da queda é
proporcional à altura em que acreditamos estar.
Se, ao contrário,
não nos considerarmos merecedores de homenagens, reconhecimentos
e elogios, estaremos bem mais preparados para tolerar e compreender a ingratidão,
a indiferença e a desonestidade.
Não que mereçamos
o mal em decorrência do que fazemos de bom. Não é isso.
Simplesmente não nos afetaremos tanto com a maldade, ao ponto de
pensarmos que o bem não vale a pena, se apenas formos bondosos pela
bondade, honestos pela honestidade e generosos pela generosidade. O verdadeiro
bem é aquele praticado sem qualquer interesse, e unicamente por
amor à Verdade.
Não há como
negar que a ingratidão daqueles a quem ajudamos com sinceridade
e carinho, abre feridas em nossos corações. Contudo, elas
cicatrizarão mais rápido se compreendermos que aquilo que
importa é a prática do bem, independentemente de quem tenha
sido beneficiado por ela.
A nossa insistência
em agirmos do melhor modo que pudermos, dar-nos-á a sabedoria necessária
para não cairmos em novas armadilhas. Um dos atributos da bondade
é a prudência. Ela é presenteada por Deus ao justo,
para que ele, sem perder a pureza, possa se defender dos aproveitadores
e trapaceiros.
À medida que vamos
progredindo moralmente, sentimos uma necessidade cada vez maior de melhorarmos
a nós mesmos e de efetuarmos boas obras. O serviço aos outros
torna-se um prazer. A ação correta e a palavra honesta não
são mais meios para se atingir o paraíso, mas sim partes
desse paraíso, componentes fundamentais do nosso bem estar.
Quem ama o bem, não
pode viver sem ele. Quando pautamos de fato a nossa vida pelas virtudes,
o sentido de estarmos vivos passa a ser o de sermos virtuosos.
Para quem ama servir, ser
o servidor de todos é a maior satisfação que se pode
ter. Não há outras além dessa. O serviço a
todos é o motivo maior da sua felicidade, e não a gratidão
daqueles a quem serve. Como diz uma frase de pára-choque de caminhão:
“O bom não é ser importante; o importante é ser bom!”.
Se os outros não
compreendem a nossa vontade de ajudar ou não nos agradecem pelo
auxílio que prestamos, isso não é razão para
desanimarmos. Ser bondoso não é ser considerado assim pelos
outros, mas é seguir o chamamento espontâneo do próprio
coração, que deposita toda sua esperança na oportunidade
de prosseguir servindo sempre, e em nada além disso.
Ter bondade é ter
a coragem de se dedicar integralmente ao bem, abrindo mão de toda
recompensa...