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V Congresso Brasileiro de Semiótica - São Paulo - Set/2001


Homenageados do Congresso

Comissão Organizadora

Presidente
Irene Machado

Coordenadores da Secretaria Geral

Ane Shyrlei de Araújo
Elaine Caramella
Eufrasio Prates
Mônica Bueno
Silvia Laurentiz

Tesoureiros

Gerson Tenório dos Santos
Luiz Carlos Iasbeck

Comissão Científica

Ana Claudia Mei de Oliveira
Ane Shyrlei de Araújo
Eduardo Peñuela Canizal
Elaine Caramella
Irene Machado
João Queiroz
José Luiz Aidar Prado
Luiz Carlos Iasbeck
Mônica Bueno
Sílvia Laurentiz

Relatório

Eufrasio Prates

"Semiótica e Representação" foi o tema que orientou o encontro científico, tendo por subtítulo a chamada "Inventariando para Reinventar". Dentre outras razões, a idéia de repertoriar historicamente a semiótica brasileira resultou de um debate entabulado em 1999, durante reunião da delegação brasileira no IV Congresso Internacional Latino-Americano de Semiótica - CILAS, na Espanha (veja relatório clicando aqui). Naquela ocasião, nós Diretores da ABSB sugerimos realizar esse Congresso em Brasília, com o objetivo de reorganizar a Associação Brasileira de Semiótica. Após tentarmos (Iasbeck e Eufrasio) obter apoio financeiro sem sucesso por um ano, Irene Machado e Gerson Tenório assumiram a empreitada, fechando com Elaine Caramella a realização do evento na Faculdade Belas Artes de São Paulo.

Assim é que foi eleita a nova Diretoria da Associação Brasileira de Semiótica, composta por Irene Machado (Presidente), Luiz Iasbeck (Vice), Elaine Caramella (Tesoureira) e Lúcia Helena Ferraz Sant'Agostini (Secretária). José Luiz Fiorin, que teve um papel fundamental no processo, sugeriu que se tornasse público a todos os semioticistas do país a recomposição da ABS (o que se começa a fazer com essa página). Para ter acesso à Ata da Assembléia, clique aqui (arquivo Word).

Clique aqui para acessar a Ata da Assembléia
Assembléia da eleição da ABS, presidida e secretariada por José Benjamin Picado e Eufrasio Prates, respectivamente.

 

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Conferência de Abertura

Lúcia Santaella, a mais conhecida semioticista do país, atualmente Diretora do CIMID (Centro de Investigação em Mídias Digitais), realizou a Conferência de abertura, iniciada com um resgate da história brasileira da Semiótica. Concluiu esse histórico mostrando-se preocupada com a atual percepção da Semiótica apresentada pelas Agências oficiais de fomento, que parecem passar ao largo do reconhecimento internacional da relevância dos estudos semióticos para diversos campos, especialmente o da Comunicação. Passou, então, a apresentar algumas teses e hipóteses que vem desenvolvendo sobre os objetos semiósicos e seus campos (biossemiótica, ecossemiótica, físicossemiótica). Abordou a protossemiose, origem da semiose no mundo inanimado a partir da qual cresce espontaneamente a complexidade nos sistemas dinâmicos. Segunda ela, desaparecem as distinções entre natural e artificial, físico e psíquico pelas inovações tecnológicas. Intelectualmente ousada, Santaella propôs uma reunião antidualista e acartesiana da "semiosfera" (Lotman) à "semiose" (Peirce) no sinequismo peirceano, para o qual não há rígida separação entre mente e matéria ou corpo e mente. Ao passar sua análise para o ciberespaço, criticou a abordagem "rasa" de Pierre Lévy ("falta-lhe uma ontologia") e apontou para uma conexão concreta dos espaços virtuais às esferas física, biológica e tecnológica (noosfera).

O sinequismo, lei da continuidade, é oposto complementar do tiquismo (chance). Nele é que se pode investigar (falivelmente) a natureza do mundo objetivo, que difere do mundo da mente apenas em grau e nunca de forma dicotômica. A generalidade é uma forma rudimentar de continuidade e o signo é a continuidade em sua forma mais simples. Mas a regularidade da natureza, contrariamente ao que muitos pensam, é imperfeita (nela impera a chance tiquista). O hábito é um conceito fundamental na cosmogonia de Peirce (dentro da lei da evolução). As leis evoluem e o universo adquire novos hábitos. Há consciência e sentimento em todo o universo, embora supor que a matéria morta tenha sentimento. Peirce apresenta um realismo objetivo: para ele a matéria é mente "ressecada", congelada pelo hábito. A lei da mente, que não é só humana, é uma tendência para associações, para a criação de hábitos, como o leito de um rio. A mente só suporta forças gentis, ela é anárquica enquanto a matéria é regular. A flexa do tempo de Prigogine já estava na "evolução" de Peirce. Mente é regularidade e semiose.

Isto posto, Santaella passou à segunda parte de sua conferência, falando da Semiosfera como síntese, a partir da conceituação de Lotman em seu "Universe of Mind". O processo comunicativo depende da esfera do significado (semiosfera) para ocorrer. A semiosfera é a sopa biótica que permite a comunicação e as linguagens. è resultado e condição da esfera da cultura. Está marcada pela heterogeneidade -- diversidade de elementos e suas diferentes funções. Para Hoffmeyer (creio que Santaella se referia a Jesper Hoffmeyer, do grupo de biossemiótica da Universidade de Copenhagen), a semiosfera engloba todas as formas de comunicação (inclusive as da biosfera). Tudo o que se sente, tem significado e assim, inverte a proposta original de Lotman (a biosfera é que está dentro da semiosfera). Com base no sinequismo, a autora lança a hipótese da inexistência de separação entre semiosfera e biosfera, ou entre bio, antropo, eco e físioesferas. O universo está permeado de signos. A semiose é a base universal de tudo, do físico ao psíquico. Tempo, pensamento, inteligência, vida ... tudo está na continuidade. A forma prototípica da causação final é a mente e, afirma tb a autora com Peirce, há mente no protoplasma (célula).

Falou então de teleonomia, caráter finalístico da lei onde inteligência e mente não são apenas humanas. A forma lógica da causação final está no signo. Levantou, como acontecimentos únicos, a vida e a fala, que pode ter sido um "erro" da evolução. Ao responder uma questão minha sobre a evolução de nossa mente em direção à rigidez da matéria, reconheceu uma afinidade entre essa tendência e a "pulsão de morte". Lembrou que a lei que opera na natureza é "secundidade", isto é, não é pura.

Afirmou, para concluir essa conferência magna, que o antropocentrismo tende a excluir a possibilidade da semiose na natureza.

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Comunicações


Regiane Caminni (Univ. Anhembi-Morumbi/PUC-SP) apresenta "O ator editado" na mesa Artemídia


Maurício Zouein ("Em nome da terra: Semiótica, índio e mídia em Roraima") e Anna Amélia de Faria (UnB, "Corpo: e-feito de discurso"), moderados por Luiz Iasbeck (UnB/UPIS/ABSB).


Eufrasio Prates (ICESP/UPIS/ABSB, à esq)) apresenta "Música nova para novos tempos" na mesa de Semiótica da Música, acompanhado pelo flautista e regente Aldo Barbieri (PUC-SP à dir.) coordenada por José Luiz Martinez (PUC-SP, abaixo à dir.)

 

 

Foram propostas 138 comunicações (veja programação completa), das quais se explicitaram 5 como trabalhos de Semiótica da Cultura, 21 de Semiótica Discursiva ou Sóciossemiótica e 27 da Semiótica Pragmaticista de Peirce. 

As áreas de aplicação foram muito diversificadas, incluindo Metodologia (Epistemologia), Filosofia, Lingüística, Psicologia, Psicanálise, Estudos de Gênero, Sociologia e Estudos Sociais, Ciência Política, Direito, Educação, Estética, Música, Artes Plásticas, Arquitetura, Poesia, Literatura, Cinema, Teatro,Comunicação (Jornalismo, Publicidade, Mídia), Ciência Cognitiva, Estudos do Corpo, Novas Tecnologias e Administração.

Dentre as comunicações com a participação de sócios da ABSB, destacamos a de Anna Amélia de Faria, autora do trabalho "Corpo: e-feito de discurso, lado a Maurício Zouein (de Roraima, autor de "Em nome da terra: Semiótica, índio e mídia em Roraima"), em mesa coordenada por Luiz Iasbeck. 

O próprio Luiz Iasbeck, Diretor da ABSB, apresentou trabalho intitulado "Unidades semióticas", no qual tece considerações sobre as unidades de referência de três vertentes da semiótica. 

Eufrasio Prates (Presidente da ABSB) apresentou um trabalho sobre as perspectivas da música contemporânea, analisada comparativamente ao estatuto conceitual da Física do século XX, na mesa coordenada por José Luiz Martinez.

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Plenárias

Plenária 1
Crise da representação ou crescimento da complexidade?

José Luiz Fiorin, José Benjamin Picado, Ivo Ibri. 
Coordenação: Irene Machado.
 

Os conferencistas abordaram a questão filosófico-pragmática da Verdade (Picado), do contrato semiótico consciente (Fiorin) e da complexificação semiósica crescente (Ibri). Percebi uma tendência ao reconhecimento de que o falibilismo da ciência pode ser "compensado" pela preocupação com os sistemas semióticos.

Plenária 2
Liminaridade e transdisciplinaridade na ciência

Winfried Nöth, Jorge Albuquerque Vieira, Albertina Lourenci. 
Coordenação: Irene Machado.
 

Nöth tratou dos limiares da semiose, da protossemiótica nas máquinas e na natureza, seguindo o raciocínio peirceano da continuidade entre mente e matéria (sinequismo). Jorge Albuquerque Vieira preferiu atacar a questão da transdisciplinaridade, abordada segundo uma perspectiva ontológico-sistêmica. Falou da existência de uma gramática universal que permite a criação de conceitos funcionais nas diversas disciplinas, papel desempenhado pela semiótica. Albertina Lourenci defendeu a necessidade de relacionar epistemologias distantes (física quântica, ecologia, arte, linguagens de prgramação e redes computadorizadas) pela semiótica.

Plenária 3
Métodos, modelos e sistemas na ciência

Gilson Queluz, Helena Katz, Lucrécia Ferrara. 
Coordenação: Lúcia Helena Ferraz.
 

Queluz tratou de uma terceira cultura, reunião das ciências exatas e humanas. Lucrécia Ferrara trabalhou o conceito de tensão epistemológica, reconhecendo o pensamento como processo evolutivo de contração e expansão. Helena Katz percorreu a visão físio-filosófica do corpo para falar da relação natureza-cultura e do corpo como mídia primária que permite ter consciência exclusivamente nessa relação.

Plenária 4
Estética. Design. Tecnologia.

André Lemos, Eduardo Peñuela, Ana Claudia Mei. 
Coordenação: Elaine Caramella.

André Lemos apresentou seu trabalho sobre o narcisismo e a autovigilância dos usuários de diários pessoais públicos e webcams na Internet. Falou da mudança do conceito de "audiência" (como ente passivo receptor) para o de "público" (que interage e emite, além de receber). Ana Cláudia tratou da semiotização da estética. Para ela a cultura tem 3 tipos de texto: estético, científico e social. O estético tem o sentir como finalidade, não se preocupando com a Verdade como fim. Peñuela abriu falando de seu contentamento com o renascimento da ABS. Apresentou a seguir o conceito de "inconsciente óptico do texto visual", aplicação do conceito de inconsciente óptico de Rosalind Krauss (inspirado em Greimas) aos textos visuais (pintura, escultura, fotografia etc.). Com ele, realizou uma belíssima análise da obra "Sacrifício" de Diego Rivera e descreveu sua atual pesquisa das imagens apodrecidas dos cartazes de rua em São Paulo. Para ele, a semiótica (seja de que linha for ou de que combinação) se apresenta hoje como metodologia que dá sentido ao trabalho de pesquisa no mundo da comunicação de massa.
Plenária 5
Discursos. Comunicação. Redes.

Muniz Sodré, Diana Luz, Ione Bentz.
 

Infelizmente não pude assistir à palestra de Muniz Sodré (mas recebo contribuição de quem possa fornecer um resumo). Diana Luz (ECA-USP) falou de seus estudos sobre identidade institucional em Bancos, para exemplificar a aplicação da Semiótica aos discursos de posicionamento no mercado. Ione Bentz (Unisinos) abordou "convergências midiáticas sobre as comunidades interpretativas", analisando a mudança nas mídias no espaço urbano (rádio na Internet, canal de música na TV por assinatura).

Plenária 6
Artemídia

Sílvia Laurentiz, Mirian Chnaiderman e Arlindo Machado. 
Coordenação: Eufrasio Prates.
 

Foi com enorme prazer que coordenei a mesa Artemídia. Sílvia Laurentiz apresentou uma série de experimentos de animação interativa no ciberespaço fundamentados na semiótica peirceana, alguns deles interessados no relacionamento entre a modelagem de vida artificial e o hábito do interpretante peirceano. A psicanalista e video-maker Mirian Chnaiderman, por sua vez, discutiu a cidade como mídia e as formas de burlar a hegemonia do poder com a apresentação de seu filme "Dizem que sou louco". Arlindo Machado focou sua conferência na mídias como forma de arte. Defendeu a arte digital, que foi questionada por críticos da última Bienal de Veneza (na qual a maior parte dos trabalhos apresentava algo de novas mídias). Para ele, o foco do artista não pode deixar de ser estético e ético, independente dos materiais disponíveis. A festa de efeitos e clichês têm mais relação com o entretenimento do que com a arte.

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Mesa-redonda

Correntes e Estatutos

Lauro de Oliveira, Eric Landowski, Aurora Bernardini, Norval Baitelo.
Coordenação: Irene Machado.

 

Não pude fazer anotações da fala de Aurora Bernardini (contribuições serão bem-vindas, também).
L
auro de Oliveira colocou a semiótica peirceana como lógica da quase-necessidade (evidenciando seu caráter essencialmente falibilista) e defendeu uma visão antropomórfica (não antropocêntrica) dos estudos semióticas sobre a cultura e a natureza.
Norval Baitelo criticou os modelos binário-reducionistas, afirmando que a Semiótica é diversidade e tem muito a contribuir no campo da comunicação (nos textos, contextos e pretextos), sem tirar o pé do mundo do sonho.

Landowski abriu sua fala afirmando estar muito feliz com o Congresso e que via sinais fortes de que a Semiótica vai muito bem (criticando comentário de um colega francês que teria previsto a morte da Semiótica com o surgimento das ciências cognitivas). Fez uma provocação aos peirceanos, dizendo que a sóciossemiótica (greimasiana) vai bem, sem precisar imitar como papagaio ou como padre o pensamento de seu fundador. Procurando escapar à provocação, mas aceitando as diferenças entre as abordagens, fiz uma pergunta a toda a mesa sobre o grau de determinação do objeto de pesquisa sobre a metodologia escolhida para a pesquisa. Todos os participantes, em algum grau, pareceram concordar que essa influência de fato ocorre e que alguns objetos tendem a exigir abordagens singulares.

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Presença de Brasília no Congresso

 

 

 

 

 

Eufrasio, Santaella, Sonia e Nöth.

 

 

 

Maurício Zouein, Eufrasio, Josi Paz, Iasbeck, Sonia e Anna.

Semiótica no Brasil, Hoje

Veja relato da mesa-redonda "Semiótica no Brasil, Hoje", na qual a diretoria da ABSB apresentou sua percepção do V Congresso Brasileiro de Semiótica para o público brasiliense que lotou o auditório do ICESP.

 

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